Sobre a cidade que amo – por Antonio Candido Ribeiro
Vezes sem conta, e não apenas quando ela aniversaria, tenho cantado meu amor por Santa Maria. Até já me atrevi a dizer que pode haver quem a ame de igual forma, mas que duvido exista alguém capaz de amá-la mais que eu.
Por isso, eventualmente, me choco, quando ouço ou leio manifestações depreciativas em relação à nossa cidade. E quedo-me – sem encontrá-las – a pensar nas razões que levam alguém que veio, sei lá, de Dilermando de Aguiar (onde nasci e, por isso, uso como exemplo) ou de Mata (onde o Período Triássico ainda vive, daí a lembrança) e que, aqui, encontrou oportunidades de estudar, de trabalhar, de crescer pessoal e profissionalmente, a desancar a cidade, quando não a detratá-la, como se viver em Santa Maria fosse um infortúnio e viver – vá lá, é exemplificativo – em Dilermando ou Mata fosse a suprema ventura.
Claro, todos queremos uma Santa Maria melhor, com mais oportunidades, com mais empregos, com partilha mais equilibrada de bens materiais e imateriais e, portanto, com menor pobreza material e cultural; com ruas menos esburacadas e mais iluminadas; com transporte público mais ajustado às necessidades coletivas, quanto aos horários, ao conforto dos veículos e aos itinerários; com trânsito mais civilizado e menos caótico; com atendimento público e privado de saúde que não deixe ninguém em filas de espera ou em macas nos corredores hospitalares; com mais espaços públicos de convivência e lazer; com menos violência e mais segurança 24 horas por dia; com mais livrarias, teatros e cinemas; menos pichada e com mais música, dança e mais espetáculos e programas culturais voltados à inserção social de jovens das camadas menos favorecidas de nossa população; com políticas públicas permanentes e mais eficazes de valorização da cultura; etc; etc; etc…
Digo isso, por que, parece, há quem queira transformar a realidade sócio-política de Santa Maria, adequando-a à sua cosmovisão, à sua compreensão do mundo como se fosse possível fazê-lo apenas aqui e não no resto do pais, do continente ou do planeta. Seria, finalmente – por outra perspectiva, que não a daquela ex-governadora –, ocorre-me agora, a famosa República de Santa Maria.
Tudo bem, o sonho é o primeiro passo do processo de transformação e, concordo, sonhar, sempre e cada vez mais, é preciso. Mas daí a ir para o jornal falar mal da minha cidade, por favor, vão catar coquinho no Parque Itaimbé! Ou, sei lá, em Mata!
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto (um excerto dela) que você vê aqui é de João Vilnei, da assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal.
Quem gosta de SM não precisa esconder defeitos e nem inventar qualidades que ela não possui. Acreditar que a nossa aldeia é melhor que as outras, só porque nascemos nela, extrapola o bom senso. Bancar a mãe coruja também não resolve. E viva Bernard Shaw e La Fontaine.
Problema da comuna é mentalidade. Muitos "intelectuais" de esquerda, muitos "juristas" (gente que gosta de lembrar os outros do próprio "doutorado", filósofos do carpete e ar condicionado), muita gente em fim de carreira querendo "inovar" e alguns outros achando que bicicleta é coisa de europeu que não toma banho e não se pode mudar o trânsito por causa dos "hábitos consolidados". Pior que é este povo que decide os destinos da cidade, de uma forma ou outra. Deve ser por isto que está parada no tempo.