De Homero a Raul Seixas – por Antonio Candido Ribeiro
Pois é, domingo, se ainda estivesse entre nós, Raulzito teria feito setenta anos e hoje, depois de milênios de processo civilizatório que culminaram com o Ocidente que conhecemos, os gregos, reféns de sua própria incapacidade de gerir uma interminável crise econômica, vivem talvez seu mais agudo dilema da era contemporânea: a definitiva submissão de sua Economia às austeras ordens da União Europeia, com sua política recessiva e de corte de benefícios sociais ou o calote no FMI, a exclusão da Zona do Euro e o provável caos social.
Nem Demóstenes, nem Péricles, nem Sólon, nem Pítagoras, nem Aristóteles, nem Sócrates ou Platão, nem Alexandre, o Grande, nem Alcebíades, nem Leônidas e os trezentos de Esparta evitariam o dilema. Nem todos os sábios e pensadores atenienses, nem todos os guerreiros espartanos encarariam, sem traumas e desacertos, a “barra” hoje posta nas mãos gregas.
Nem o Peloponeso ardendo em chamas na guerra entre entre as potências gregas clássicas causou tanta aflição ao povo helênico. Nem Zeus nem todos os deuses do panteão Olímpico poderiam adivinhar semelhante encruzilhada para a velha Hélade. Nem poderiam hoje enfrentá-la heróis como Hércules, Teseu ou Perseu. Nem Homero a cantaria, por que as personagens atuais não tem a densidade dramático-poética daquelas sobre as quais foram construídas a Ilíada e a Odisséia. Já não há Aquiles, Menelau, Helena, Agamemnon, Diomedes, Ulisses, Penélope, Têlemaco! Ou há?! Talvez faltem Homeros para cantar as desditas helênicas e ocidentais!
Poemas épicos de lado, dura luta, essa do povo grego. E agora não é a sombra das flechas do exército de Xerxes I no Desfiladeiro das Termópilas. Agora, a sombra são os euros alemães e franceses, são dólares do FMI, contra os quais pouco pode a possibilidade de retorno do velho e abandonado dracma. E agora, não já não é possível reunir em assembleia mil ou mil quinhentos (dois mil, vá lá) “cidadãos” na ágora e decidir pela guerra ou pela paz. Não, agora, os votos que decidem se contam aos milhões.
Enfim, tenho imensa curiosidade para saber o deslinde desse enorme imbróglio, que assusta Economias não suficientemente sólidas (aí incluo os BRICS) para suportar impactos negativos do mercado internacional e que põe em xeque a estabilidade europeia, já fragilizada por outras agruras sócio-econômicas, como os conflitos étnicos, as crises no Leste e as vacilantes economias ibéricas.
O que Raul tem a ver com isso? Nada, apenas lembrei dele por que sua maluquice beleza faz enorme falta nesses tempos de intolerância, de politicamente correto e de gente que se leva demasiadamente a sério.
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto que você vê aqui é uma reprodução da internet.
Bom te ler, amigo!
Erudição e sabedoria.
Só me resta esperançar para que nossos filhos e netos vivam com mais estabilidade neste mundo tão convulso.
bjos