A intolerância, a educação e a grenalização da política – por Bruno Seligman de Menezes
Dia desses minha esposa voltou da academia (a.ca.de.mi.a – sf (lat academia) 1. Ambiente de sofrimento físico que costumo evitar) às gargalhadas, e disse que ouviu de um senhor que somente dois tipos de pessoas frequentavam aquele lugar: as que não precisam e as que não adiantam (recentemente me inseri, a contragosto, neste grupo).
Esse é o tipo de brincadeira que pode ser tranquilamente aplicada para as nossas discussões que tenham a questão política como pano de fundo. Note, não estou falando apenas de discussão político-partidária, mas questões relacionadas a segurança, educação, saúde, economia, o que abrange uma quantidade bastante grande da pauta de um jornal diário, por exemplo.
Hoje, lamentavelmente, não se pode defender livremente um ponto de vista sem ser tachado de coxinha, ou de petralha; de fascista, ou de esquerda caviar. Fomos e somos rotulados por um discurso que sequer é coerente e verdadeiro, mas sobretudo passional e irracional. Cá na província, dada nossa eterna dualidade (ximango ou maragato; Inter ou Grêmio; Zero Hora ou Correio do Povo; Gaúcha ou Guaíba; PT ou Anti-PT), criamos o hábito de chamar esse fenômeno de grenalização da política.
Parece que as cores partidárias a que somos simpáticos nos colonizam de tal maneira que precisamos defender com unhas e dentes as maiores atrocidades cometidas pelos nossos correligionários. O país está mal? Imagina se fosse o Aécio. O Estado não consegue pagar o funcionalismo? Culpa do Tarso, que quebrou o Estado. Limitasse-se a tais argumentos, pueris e insuficientes, a situação não seria nada mais do que pitoresca.
Ocorre que o apego ao pacote fechado vem criando um sectarismo e uma intolerância em nossa sociedade que está de fato nos dividindo. Não conseguimos ter um debate propositivo, sério, que busque um desenvolvimento democrático. Por exemplo, isto pode ser visto em recente programa Roda Viva, com o escritor cubano Leonardo Padura, festejado pela crítica literária por seu “O Homem que Amava os Cachorros”. O convidado foi agredido por uma jornalista da Revista Veja, em que o acusava de não participar das denúncias contra as desigualdades sociais em seu país. O convidado, elegantemente, disse que em poucos dias de São Paulo tinha visto mais desigualdades sociais do que em toda sua vida em Cuba. É evidente que é um exemplo em meio a milhares, e que o questionamento da jornalista não foi por desconhecimento, mas para atender a uma agenda bastante clara que existe tanto na oposição como no governo.
Qual o problema, afinal, de termos então uma imprensa absolutamente comprometida com seus interesses corporativos? O grande problema, me parece, não está na imprensa, mas sim no consumidor deste material. Lamentavelmente, temos uma educação que prepara fundamentalmente o aluno para passar em provas de concurso. O aluno é ensinado, mas não educado. É gritante a deficiência de uma formação crítica e humanista em nossos jovens, a ponto de chegarem à vida adulta como excelentes técnicos, mas vazios de conteúdo.
A intolerância que grassa nosso tempo tem sua origem muito clara: em uma educação de base tecnicista e burocrática, que prepara o jovem para todos os ramos científicos, menos para a vida. Precisamos de mais amor, tolerância e respeito; menos ódio, química orgânica e logaritmo neperiano. Que venha o GreNal, que não merece injusta comparação.
Uma amiga minha resolveu caminhar na rua e convidou o namorido. Ele inventou uma desculpa qualquer para não ir e continuou vendo tv. Ela colocou o leg mais justo que tinha e o top mais decotado e "convidou" de novo, perguntou se o indivíduo tinha certeza. Ele pediu 5 minutos para trocar de roupa, era rapidinho. Quando voltou, ela tinha colocado um camisetão por cima de tudo.
Partido vem do latim partiri, dividir. Até aí tudo certo. Uma agremiação que tem como objetivo obter o poder e implantar um programa político. O problema é quando a discussão sai do plano das idéias (ou seja, do programa) e passa para a identidade das pessoas. Se alguém é de esquerda tem direito de ser. Porém, dado um certo nível intelectual, é de se esperar que se comporte de maneira digna. Sem deboches, sem desqualificações. Uma coisa é uma brincadeira, outra é pegar o microfone de uma concessão pública ao meio dia e bradar "estes que andam ejaculando bobagens por aí". Não agredir para não ser agredido.
Nossa eterna dualidade é provinciana. A uma, porque não é só daqui. A duas, porque é artificial, exclui terceiros. Até na revolução federalista havia quem só quizesse tocar a vida, ficou fora do conflito.
Bueno, a entrevista. Controvérsias. A pergunta foi, dada a situação de Cuba, "Não acha que não é até uma omissão não se manifestar politicamente?". Não vi agressão. Claro, para alguns a ilha é um paraíso e alguns até tem fac-símiles da libreta de racionamento de Castro. Qualquer motivo é motivo para atacar Veja, Carta Capital é dirigida por Mino Carta, amigo pessoal de Lula, sem interesse nenhum.
Educação brasileira prepara para nada. É atrasado e cartorial. Estuda-se para conseguir um diploma, é a regra. Como andamos com pessoas muito parecidas com nós mesmos, temos uma idéia errada da situação. Em 2012 Santa Catarina começou a exigir diploma de curso superior para soldados da PM. 125 foram aprovados, portadores do curso de Teologia. Alguém pode até dizer que é proconceito, não vi o resultado do inquérito.
De burocracia os operadores do direito entendem, sem dúvida, passam a vida a produzir textos, teses pouco lidas e cometendo crimes contra a filosofia.
A vida é uma escola e não existe curso preparatório, não há o que prepare para o imprevisto. Na próxima vez (Deus me livre) que tiver que entrar num avião, quero que a equipe de manutenção odeie muito, saiba muito logaritmo, muita química e não tenha lido Pollyanna. Amor, tolerância e respeito só não bastam.