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Sorria, você está sendo filmado! – por Liliana de Oliveira

Sempre que entramos em alguma loja ou departamento nos deparamos com a frase “sorria, você está sendo filmado”. Sempre penso: por que eu deveria sorrir por estar sendo filmado?

Nós sabemos que encontramos em lojas ou departamentos o alerta de que estamos sendo filmados porque querem garantir sua segurança. Por meio desse enunciado, nos avisam que se formos infringir a lei, nossa ação será filmada. A filmagem aqui pretende ser um dispositivo de segurança. Quando nos alertam que estamos sendo filmados, isto é, vigiados, pretendem garantir que nossa ação seja boa.

Isso me faz lembrar o “Mito do Anel de Giges” que aparece na República de Platão (427-347 a.C.). Giges era um pastor que morava na região da Lídia. Após uma tempestade, seguida de um tremor de terra, o chão se abriu e formou uma larga cratera onde ele apascentava seu rebanho. Surpreso e curioso, o pastor desceu até a cratera e descobriu, entre outras coisas, um cavalo de bronze, cheio de buracos através dos quais enfiou a cabeça e viu um grande homem nu que parecia estar morto. Ao avistar um belo anel de ouro na mão do morto, Giges o tirou e tratou de fugir logo dali.

Mais tarde, reunindo-se com os outros pastores para fazer o relatório mensal dos rebanhos ao rei, Giges usou o anel. Após tomar seu lugar entre os pastores na Assembleia, ele girou por acaso o engaste do anel para o interior da mão e imediatamente tornou-se invisível para os demais presentes. E foi assim, totalmente invisível, que Giges ouviu os colegas o mencionarem como se ele não estivesse ali.

Mexeu novamente o engaste do anel para fora da mão e tornou a ficar visível. Admirado com a descoberta desse poder, Giges repetiu a experiência para confirmar a magia. Seguro de si, sem titubear, ele dirigiu-se ao palácio, seduziu a rainha, matou o rei a apoderou-se do trono.

Giges parece conosco, age bem quando está sendo visto e quando está invisível aproveita para tirar vantagens. Bom mesmo seria se agíssemos bem, independente de estarmos sendo vistos ou filmados.

O mais assustador é que vivemos numa sociedade que pretende colocar câmeras de vigilância nos prédios, nas lojas, nos condomínios, nos bancos, nas ruas, nas praças, nas escolas. Apostam na nossa incapacidade de agir bem sem os dispositivos de vigilância e segurança.

Prefiro pensar num mundo onde dispensemos ser vigiados, onde possamos agir bem porque devemos agir bem. Prefiro pensar num mundo que não exponha suas intimidades por meio de fotos e filmagens e as reserve aos íntimos. Prefiro pensar num mundo que registre menos e viva mais. Prefiro viver num mundo onde possamos sorrir por não estarmos sendo filmados.

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