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Um documento de saudade – por Bianca Zasso

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A escolha de um tema ou um personagem para um documentário passa por várias camadas. Polêmicos, famosos, revolucionários, misteriosos. Mais que registrar a vida, há diretores interessados em desvendar o que há para além da pessoa pública ou do herói de guerra. Se vasculhar o passado de um desconhecido já é um feito e tanto, imagine revirar os nossos próprios baús de memórias. A diretora e atriz Petra Costa escolheu documentar sua relação com a irmã mais velha, que suicidou-se aos 20 anos. Com um histórico assim, já seria possível prever um filme intenso. Mas o que temos é mais profundo.

Elena está na lista de produções documentais voltadas para questões pessoais de seus realizadores. Porém, diferente de experiências como Santiago, onde João Moreira Salles traça um perfil do mordomo de sua família misturando depoimentos e opiniões próprias, o filme de Petra segue para o rumo do retrato poético. A mistura de cenas filmadas especialmente para o longa com imagens de arquivo são apresentadas ao público em uma ordem cronológica que beira o ritmo da lembrança.

Petra vai do amor proibido de seus pais até a mudança para Nova York, onde iria enfrentar um período repleto de descobertas um tanto pesadas para alguém que tinha apenas 7 anos. A narração em off, realizada pela própria diretora, mistura informações sobre a vida da irmã com opiniões sinceras, sempre respeitando olhar do momento. Percorremos o endeusamento infantil de Petra por Elena, a menina com uma câmera que transforma a caçula da família na musa de seus vídeos experimentais, o carinho maternal entre as duas e a mudança para Nova York.

Elena não é apenas um filme análise de uma irmã. A diretora preocupou-se em criar planos belos e representativos de seus desejos, sem deixar de respeitar sua vontade maior: revelar ao mundo a pessoa que influenciou suas escolhas. Teve quem achou de mau gosto a presença da mãe revisitando o apartamento onde a filha deu fim à sua vida. O que nas mãos de um documentarista manipulador seria uma cena de choro atrás da outra se torna uma mãe voltando a um dos piores momentos já vividos, agora com a força da dor transformada em saudade. Seu olhar perdido resume a intenção: Elena não será esquecida e a câmera-filha sabe a hora de se afastar.

Paralelo ao registro da breve existência da irmã, Elena possui poesia visual apurada. As jovens de vestidos floridos flutuando com suavidade e o mergulho renovador protagonizado pela diretora estão entre as sequências mais incríveis dos últimos anos. Um resumo do que Petra busca ao produzir um filme sobre suas próprias experiências. Para além da terapia, é uma forma de lavar a alma e ainda encantar o público.

ELENA

Ano: 2014

Direção: Petra Costa

Disponível em DVD

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