Descoberta – Bianca Zasso
Elas costumam acontecer com mais frequência na infância e na adolescência. Assustadoras, decepcionantes ou inesquecíveis, as descobertas nos fazem amadurecer, derramar algumas lágrimas e buscar outros rumos. Quando descobrimos algo novo, mudamos um pouco quem somos.
Descobrir talvez seja um dos verbos mais frequentes e desejados na vida dos cinéfilos. Isso porque não existe prazer maior do que encontrar um filme que te encanta, seja sem querer ou depois de uma árdua busca. E nada de descobrir e esconder na gaveta. Egoísmo é feio em qualquer área, mais ainda no cinema. Fazer alguém descobrir é ainda mais emocionante.
Na semana passada, esta que vos escreve participou do curso “Ficção Científica e Fantasia no Cinema Brasileiro”, ministrado pelo pesquisador Carlos Primati, dentro do XI Fantaspoa (Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre). Além de discutir as origens do gênero no nosso cinema e receber muita informação, já que Primati é uma autoridade no assunto, houve a exibição na íntegra de O 5º poder, filme de 1963 dirigido por Carlos Pedregal.
Bem dirigido, inteligente e aproveitando de maneira criativa os cenários do Rio de Janeiro sem cair na atmosfera de pacote turístico, a produção poderia ser um clássico do cinema nacional e ser lembrado com a mesma frequência que obras como O pagador de promessas, de Anselmo Duarte, ou Deus e o diabo na terra no sol, de Glauber Rocha. O 5º poder é um filme urbano, com toques de espionagem, referências à 007 e um bom elenco, que inclui Eva Wilma no papel de uma mocinha moderna.
Porém, existe apenas uma cópia do filme, exibida uma única vez pelo Canal Brasil, em horário onde quase todos nós estamos dormindo o sono dos justos. É de se pensar que O 5º Poder poderia dar outro patamar para a ficção científica no país, diminuindo a estranheza que o gênero causa em alguns espectadores. Quem sabe nosso cinema teria um rumo bem diferente. Ou não, já que nesse país tudo é uma surpresa.
Descobrir O 5º poder foi uma das coisas mais importantes da minha vida cinéfila. Poucas vezes me impressionei tanto com um filme e com a situação em que ele se encontra. Passei a ver as produções brasileiras por um outro viés e minha curiosidade sobre obras importantes perdidas por aí, num porão ou mesmo entre as lembranças de uma equipe de filmagem. Na próxima vez que você, caro leitor, for escolher um filme para assistir, pense que ele pode ser a grande descoberta da sua vida. Mesmo que pareça apenas diversão.
Acesse a página da Filmoteca do Horror Brasileiro, de Carlos Primati no Facebook e saiba mais sobre o tema.
Amei o texto. Tão importante quanto descobrir,é partilhar. Isso aí. 🙂