Telefone que chama morte – por Marcelo Arigony
“A fraude ... segue encontrando brechas em sistemas frágeis e pessoas aflitas”

O golpe começa assim: alguém liga para o hospital se passando por médico. A voz soa segura, conhecida – pede ao atendente, técnico de enfermagem ou enfermeiro os dados de um paciente grave, de preferência internado na UTI. Diz que precisa confirmar um exame, verificar evolução, algo rotineiro.
Com o nome, quadro clínico e o número do leito em mãos, os golpistas buscam o perfil do paciente nas redes sociais. Rapidamente identificam pais, irmãos, cônjuges. E então vem a segunda ligação – agora para a família.
A estratégia é sempre a mesma: “sou o médico responsável… seu familiar está em estado grave e precisa de um exame urgente. Se não for feito agora, pode morrer a qualquer momento. Mas o hospital não cobre. Precisamos de um valor via PIX”. Em outras versões, a cobrança chega por boleto bancário, com nome, CPF e tudo mais – uma fatura fria, mas que sangra igual.
Em desespero, muitas famílias pagam. A dor da possível morte vira oportunidade de lucro.
O golpe não é novo, mas ainda faz vítimas. Ele se reinventa, muda de sotaque, aprende a linguagem dos hospitais – e agora, com a inteligência artificial, pode até clonar a voz do médico, simular o rosto de um diretor, criar vídeos falsos e áudios que ninguém duvida. A fraude aprendeu a falar como os nossos – e segue encontrando brechas em sistemas frágeis e pessoas aflitas.
O barulho do toque ecoa no corredor silencioso. Um som seco que abre caminho à angústia. O golpe se apropria de um sussurro mortal, num dos lugares onde a humanidade mais se ajoelha: o hospital.
Os estelionatários não usam armas, mas a confiança dos desesperados. Estão do lado de fora, mas falam como se estivessem dentro. Pegam carona na rotina caótica dos plantões, aproveitam a ausência de protocolos, a fragilidade da segurança interna e a vulnerabilidade emocional dos familiares.
Essa fraude já ocorreu em diversos hospitais, públicos e privados. Em alguns casos, os criminosos sabiam o número do quarto, o nome completo do paciente, o tipo de exame que supostamente faltava – às vezes, até o horário da troca de plantão.
Ligam para o hospital fingindo ser médico, pedem informações de pacientes da UTI. Usam essas informações para localizar parentes nas redes sociais. Ligam para os familiares, fingem urgência, e pedem pagamento imediato via PIX ou boleto. Após o pagamento, desaparecem. A lógica é simples: exploram a pressa de quem ama, a culpa de quem não sabe o que fazer, e a esperança como forma de extorsão.
Porque quem ama acredita. Porque quem sofre não questiona. E porque quem liga fala como se fosse o único que pode evitar o pior.
Além do PIX, pode haver boletos fraudulentos emitidos com dados reais dos pacientes ou familiares – uma tática já usada em outros tipos de fraude, agora adaptada para o ambiente hospitalar. Os documentos são quase idênticos aos originais, enviados por e-mail, WhatsApp ou SMS, e levam à perda de valores e cancelamento de exames que nunca existiram. A ausência de política de reversão torna o golpe ainda mais cruel.
Diante desse cenário, a prevenção precisa ser prioridade. Hospitais e clínicas devem revisar seus protocolos internos, treinar funcionários e restringir o acesso a informações sensíveis. Equipes da linha de frente precisam ser orientadas a não repassar dados por telefone – por mais convincente que seja a voz do outro lado. O enfrentamento do golpe não exige apenas tecnologia, mas vigilância, cuidado e comunicação transparente com familiares e pacientes.
Nunca faça pagamentos solicitados por telefone. Se receber boleto, confira o beneficiário, CNPJ e instruções; desconfie de links ou documentos fora do padrão. Confirme valores e procedimentos diretamente com canais oficiais do hospital. Oriente familiares a evitar exposição de internações nas redes sociais. E, em caso de abordagem suspeita, registre boletim de ocorrência e comunique imediatamente a direção da instituição.
A cena é sempre a mesma: do outro lado da linha, uma voz que diz “estamos fazendo tudo que podemos… mas precisamos agir rápido”. É nesse momento que o golpe se consuma – e o que já era dor vira engano.
Na prática, não é o paciente que está na UTI. É o próprio sistema de confiança.
E se agora até a voz da esperança pode ser clonada, quem é que vai salvar os que ainda acreditam?
Referências consultadas:
– CNN Brasil. “Familiares de pacientes são alvo de golpe em hospitais”
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sul/rs/familiares-de-pacientes-sao-alvo-de-golpe-em-hospitais-de-porto-alegre
– Migalhas. “Golpe do boleto falso em planos de saúde: Saiba como se proteger”
https://www.migalhas.com.br/depeso/427197/golpe-do-boleto-falso-em-planos-de-saude-saiba-como-se-proteger
– Record R7. “Familiares de paciente oncológico são alvo de golpe em hospitais”
https://recordtv.r7.com/balanco-geral-manha/video/familiares-de-paciente-oncologico-sao-alvo-de-golpe-em-hospitais-28072025
(*) Marcelo Arigony é Advogado, ex-Delegado da Polícia Civil e atual Diretor da ULBRA Santa Maria. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Resumo da opera. Atribuem a Einstein. ‘Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.’
Também existe os ‘clientes preferenciais’. ‘Todos têm que ser recuperados para a sociedade’, historia da Carochinha. Mas se for violencia domestica, feminicidio, racismo, crimes contra o pessoal do Alfabeto, não. Estes tem que jogar na masmorra controlada pela facção e jogar a chave fora. Linchamento estatal.
Porque o pessoal do juridico adotou o coitadismo penal. Tem que prender, mas o ‘Estado não proporciona instalações humanas para cumprimento de pena’ ou ‘as facções dominam o sistema prisional’. Logo se arruma um jeito de não prender ou prender somente em ultimo caso. Sensação de impunidade impera.
Estelionato, um a cinco anos e multa. Cesta basica. Enquanto o processo corre o vagabundo espera em liberdade. E continua delinquindo. Codigo penal é diferente por estado na Ianquelandia. Mas na maioria o estelionato, ‘fraud’, pode dar 20 anos de cadeia sem vaselina.