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Lendas eleitorais I – por Orlando Fonseca

DO BAÚ – Um anjo me abordou na rua, com vários santinhos na mão. Apareceu, como conviria a todos os anjos, assim, de repente. Digo que era um anjo porque ele se anunciou como tal e os santinhos, no caso, eram panfletos, o que já me fez supor de imediato que se tratava de um candidato a cargo político.

Isso significava, portanto, que o anjo não estava ali para me trazer boas novas, nem para exercer a sua função de guarda. Ter aparecido de repente não o diferenciaria dos demais candidatos que, nesta época costumam vir do nada; aliás, alguns só aparecem mesmo de quatro em quatro anos.

Tinha uma fisionomia angelical – também isso não era um diferenciador, a temporada é propícia para esta estratégia. Seguiu-se, como era de esperar, um diálogo dos mais surrealistas – também não dá para exigir realismo, nem para anjos, nem candidatos.

– Você é um anjo mesmo, ou é só marketing político?

– Sou um anjo de verdade, aliás a verdade é o que pretendo levar ao parlamento…

– Mas você não tem cara de anjo, daqueles barrocos, que são os que conheço de gravuras.

– Por suposto, meu caro, estamos na pós-modernidade.

– Mas os anjos não são eternos, não mantêm a aparência?

– Não somos de manter as aparências, jamais.

Dei uma cartada definitiva, na intenção de desmascará-lo.

– Cadê as asas?

Ele então abriu as suas enormes asas em esplendor – lembrava as alegorias carnavalescas, o que me exigiu uma avaliação criteriosa, e confesso, eram asas mesmo.

– Então você é um anjo caído.

– Caídos são aqueles outros, eu vim por livre e espontânea vontade.

– Não vem me dizer que você veio prometer o paraíso, que muitos já fizeram isso e nunca cumpriram.

– Não sou o anjo da promessa, sou mensageiro aos homens de boa vontade.

– Olha só, no plenário já se discute muito sexo dos anjos, com sua presença lá isso vai se tornar rotina.

– Eu venho justamente para esclarecer a questão.

– Mas eu tenho que confessar que não sou de votar na pessoa, ou no seu caso, no anjo. Voto no partido, no projeto.

– Então você vai votar em um desses pobres diabos que estão aí se apresentando?

– Pois é, nossa condição de pobres mortais. Mas a minha opção será a de escolher não o menos pobre, mas o menos diabo, com certeza.

Aí o anjo, com cara de desolado, bateu asas e voou. Talvez eu tenha perdido a oportunidade de promover uma revolução do além, de implantar uma reforma de pureza no parlamento brasileiro. No entanto, para questões tão terrenas, prefiro confiar num dos meus pares, ou dos meus ímpares, que o contraditório é válido e um pouco de dialética também vem a calhar.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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