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Esta mídia! Ouvir o “outro lado” ou não, dá na mesma, quando a “reportagem” é pré-concebida

Esse é, definitivamente, um dos grandes (talvez não o maior, e com certeza não o único) problemas enfrentados pela mídia grandona (e toda a outra, na verdade): como dar espaço ao contraditório de forma minimamente satisfatória. Ao contrário, o que se tenta, não raro, é minimizar o contraponto, especialmente se há uma pré-concepção do que se quer levar ao público.

 

Sobre isso, há um texto bastante elucidativo (e com o qual concordo inteiramente) publicado por Carlos Brickmann, em determinado momento da coluna “Circo da Notícia”, que ele assina semanalmente no sítio especializado Observatório da Imprensa. Vale a pena conferir, pode acreditar. Acompanhe:

 

“Via de regra

Há muitos, muitos anos, os chefes do “mesão” das redações costumavam combater os clichês jornalísticos com frases extremamente precisas: “via de regra é vagina”, “pelo contrário é cabelo encravado”, “por outro lado é no ânus” – na verdade, não eram exatamente “vagina” e “ânus” as palavras que utilizavam. Afinal, como diria nosso presidente da República, ali não havia freiras. E as frases eram extremamente didáticas. É impossível esquecê-las.

Talvez seja necessário recorrer a métodos pedagógicos semelhantes para fazer com que “o outro lado” das reportagens passe a funcionar como ponto de vista do alvo da reportagem, como sua primeira versão, não como uma obrigação burocrática e chata que deve ser cumprida de qualquer jeito, apenas para que o chefe não reclame e os atingidos não escrevam cartas à Redação.

Outro dia, uma autoridade mostrou a este colunista o bilhete de um repórter, enviado às 15h25, dizendo que ele havia passado a última semana levantando uma determinada reportagem, que seria publicada no dia seguinte. E pedia à autoridade que respondesse a dez perguntas, todas exigindo pesquisa, até o horário de fechamento, 19 horas.

Traduzindo: uma semana para atacar, três horas e meia para responder aos ataques, com a pesquisa incluída – e nenhuma garantia de que a resposta seria respeitada. Muitas vezes, a reportagem informa que a loja de Fulano de Tal, na rua X, número Y, foi autuada por sonegação de impostos e fechada por desobedecer às normas de segurança. Fulano responde que é profissional liberal, jamais teve uma loja na vida, e aliás naquela rua e número não há loja nenhuma. O que sai publicado é a série original de denúncias, acrescida de um “Fulano de Tal nega as acusações”.

Outra fórmula é obter informações contra uma empresa e guardá-las até depois das 6 da tarde. No dia seguinte, publica-se a matéria dizendo que não foi possível entrar em contato com a empresa (ou, pior, que “Sicrano atendeu ao telefone, dizendo-se segurança, e não respondeu às perguntas da reportagem, nem quis fornecer o telefone pessoal do presidente da companhia”).

Pode-se pedir direito de resposta, pode-se até obter direito de resposta. Mas é caro, não tem utilidade prática, exceto chatear repórter e veículo, por sair anos depois. É desgastante. Seria melhor, no caso, que os próprios meios de comunicação verificassem se não há abuso – ou, então, que se suspenda o inútil gasto de telefonemas, papel e tempo com o “outro lado” que não é bem o outro lado…”

 

PARA LER A ÍNTEGRA DA COLUNA CIRCO DA NOTÍCIA, CLIQUE AQUI .

 

SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui, se desejar, outras notas e informações publicadas no site especializado Observatório da Imprensa.

 

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