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Ele só esqueceu – por Daiani Ferrari

“Se fosse eu, me matava”. Ouvi essa frase de alguém ao ver a notícia sobre a morte de um bebê de onze meses depois de ser esquecido pelo pai dentro do carro, em Santa Rosa. Há algum tempo, estávamos indo ao shopping e minha irmã estava no banco de trás do carro e a porta dela estava com a trava de segurança ativada (aquelas que evitam que crianças abram a porta pelo lado de dentro). Descemos, trancamos o carro e saímos. Comecei a escutar um barulho e olhei para trás. A tínhamos esquecido dentro do carro.

Ela tem vinte e poucos anos, mas estava quieta durante o percurso, não foi muito difícil esquecê-la. Ao contrário do bebê, ela conseguiu nos chamar para que a tirássemos de lá. Se isso pode acontecer com um adulto, é óbvio que pode acontecer com uma criança que ainda não tem o domínio da comunicação. Talvez, da maneira dela, ela tenha alertado o pai que estava lá dentro, mas não sei como funciona o mecanismo de comunicação e entendimento de uma criança de onze meses.

Acredito que o momento não seja de cobranças e imputações de culpa são prematuras e talvez injustas. Coisas assim podem acontecer, embora não devam. Não devem se tornar cotidiano, mas podem acontecer e quando acontecem podem ter consequências desastrosas. Numa hora dessas, penso que mesmo o mais ateu deve agarrar-se a todo tipo de santo para aliviar uma dor que mistura culpa e perda. E por mais que isso tenha sido um acidente, uma fatalidade, ainda vai ter gente que vai culpar esse pai, dizendo que o trabalho e o dinheiro falaram mais alto, por isso esqueceu completamente da filha.

Ninguém sabe se de repente ele não estava tão preocupado com o trabalho porque passava por um momento turbulento, ou ele podia estar com a cabeça no mundo da lua por estar tentando resolver um caso envolvendo a morte de uma mulher que deixou quatro filhos desamparados, visto que ele era delegado de polícia. Ou ele estava cansado de uma semana cheia de trabalho, ou apenas com fome e pensando em tomar café. Ninguém sabe o que aconteceu e de repente nem aconteceu nada. Ele só esqueceu.

Claro que esse esquecimento teve uma consequência extrema, mas culpá-lo não vai devolver a menina e mesmo não sendo mãe nem pai, tenho toda a certeza de que a maior punição ele vai carregar por todos os dias do resto da vida. O que aquele pai vai fazer depois do acontecido eu não sei, mas que ele vai ter que aprender a viver com essa dor, isso vai.

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2 Comentários

  1. Concordo. Não há o que se falar de punição maior que essa. Pior que a própria pena de morte. Coitado desse humano pai.

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