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A mulher, o monstro e o povo – por Bianca Zasso

Vamos brincar de dar um nó nos contos de fada? Então, vamos lá! Chapeuzinho Vermelho não é mais um simples menininha que atravessa a floresta para visitar sua avó doente, mas sim uma criativa garota com dotes para criações audiovisuais. No meio do caminho, ela encontra um lobo mau de bigode e cabelos lambidos que lhe propõe criar filmes que mostrem ao mundo o quanto ele é bom para os habitantes da floresta.

Só que nós sabemos que Sr. Lobo só respeita coelhos branquinhos e uma que outra raposinha. O resto está condenado à faca. Ou melhor, aos dentes. Chapeuzinho topa a parada e usa todo seu talento para apresentar na tela o poder do Lobo Mau. Ganha uma boa grana e passagem livre para o estrelato, pelo menos dentro da floresta. Foi mais ou menos isso que aconteceu com a senhorita Leni Riefenstahl.

Talentosa cineasta, Leni usou toda sua técnica e bom gosto estético para vender ao mundo a imagem de um Hitler preocupado com o povo e disposto a tornar o mundo melhor. Contratada pelo partido nazista, ela criou documentários que, para quem caiu de pára-quedas no mundo agora, provocam admiração.

Em O triunfo da vontade, sua obra mais conhecida, Leni registra o Congresso do Partido Nazista, sediado em Nuremberg em 1934. Seria um simples documento para os arquivos do Terceiro Reich, não fossem os ângulos utilizados, sempre privilegiando Hitler. Isso sem contar os close-ups nos rostos das crianças sorridentes vendo o führer desfilar em carro aberto, tal e qual um herói nacional.

O triunfo da vontade cumpre a sua função e não se pode negar o talento de Leni para filmar multidões e discursos. Mas nada se compara a Olympia, documentário de 1938. O que era para ser apenas um registro das Olimpíadas de Munique torna-se um verdadeiro balé de corpos perfeitos. Atletas exibindo o melhor de sua forma em movimentos precisos. O impacto dessa “dança” é tão forte que há momentos em que esquecemos que por trás dessas imagens há um dos maiores assassinos que a humanidade já conheceu.

Um exemplo desses momentos de ilusão que Olympia nos dá, são as vitórias do atleta negro e americano Jesse Owens, presenciadas pelos grandões da cúpula nazista. Será um sinal de que Leni não apoiava Hitler, como afirmou em diversas entrevistas? Acho difícil. Registros da época de sua visita a Hollywood afirmam que ela se considerava uma cineasta genial e gostava de armar barracos em hotéis. Um pezinho no nazismo ela tinha.

Talvez hoje nós estaríamos contando outra história se o talento de Leni Riefenstahl tivesse sido usado para outros fins ou se ela tivesse dito não para Adolf Hitler. Não há como saber o que a levou a aceitar esse convite. Mas não custa sonhar e acreditar que a verdadeira vontade da menina Leni era apresentar nos seus negativos toda a verdade, com todas as letras: senhoras e senhores, eu lhes apresento…o monstro.

 

Olympia

Ano:1938

Direção: Leni Riefenstahl

Disponível em DVD (Edição Importada)

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