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Chá revelação, redes sociais e exposição – por Guilherme Bicca

“Mas será mesmo que isso é um ‘privilégio’ da internet e redes sociais?”

A internet, mais especificamente as redes sociais, introduziram muitos conceitos e práticas nas “nossas” vidas.. 

“Posts”, “Trends”, “memes”, “TBTs”, “timeline” e, mais recentemente, o “exposed”, que é quando alguém usa de um meio público na internet para expor alguém ou uma situação. 

A prática, ou o conceito da prática, chegou até a quem nunca havia chegado esta semana, quando uma gaúcha aproveitou o chá revelação do bebê que está esperando para revelar a traição do marido a sua família e, por consequência, a todo o Brasil.

Com isso muito se debateu acerca da “necessidade” de exposição que a sociedade, hoje, teria. Como as pessoas sentem um afã e mantêm um certo despudor em expor determinadas situações para completos estranhos.

Mas será mesmo que isso é um “privilégio” da internet e redes sociais? Não sou nenhum especialista ou estudioso no tema, mas ainda assim me permito interpretar: o ser humano sempre teve essa premissa de colocar tudo pra fora, expor o que sente. 

A internet só potencializou. E é bem verdade que ela não permite que haja muito tempo pra pensar. É tão fácil, tão acessível.

Antigamente, o vivente apaixonado, ou com dor de corno, que queria se declarar, pixava uma rua, fazia uma serenata, colava cartazes anônimos em postes. Dava algum jeito de fazer com que aquele sentimento não ficasse apenas entre ele e a(o) musa(o).

Mas aí…  entre o planejamento e a execução dava tempo de desistir, né? Já a internet facilitou os meios e retirou os freios. 

Poetas, escritores, músicos… quantos deles você conhece que já expuseram a própria vida? Os próprios romances e dissabores com o amor? Silvia Plath, Charles Bukovski, Fernando Pessoa, Clarice Lispector… só alguns exemplos de escritores que usavam suas obras pra “fazer um exposed”. 

Olha a Luísa Sonza:  fez uma música pra expor a traição do Chico Moedas. E não satisfeita, ainda foi na Ana Maria Braga.

Então, claro que a nossa sociedade se expõe muito mais. É tanta exposição que tenho a sensação da existência de uma lógica reversa: que as pessoas pensam primeiro na exposição e depois nos motivos ou no resultado. 

Mas ela sempre houve. Quem nunca constrangeu ou foi constrangido por um daqueles famigerados caminhões de mensagens? Vinha toda a vizinhança pra calçada ouvir o quanto o Rodrigo amava a Fernanda. 

Mas afinal, se quem tinha que saber disso era a Fernanda, por que o Rodrigo não mandava uma carta, com um buquê de flores e pronto? Por que toda a vizinhança tinha que saber?

Quando se trata de exposição, as redes sociais são o nosso novo caminhão de mensagens.

Nota do autor: não joguemos pedras virtuais na moça. Ao menos pra mim não está claro que foi ela quem publicou o vídeo da revelação. Tampouco que a pessoa que filmou a cena sabia do que ela iria expor. Ela lavou sim a roupa suja (e a alma) para a família do marido. Mas que ela premeditou tudo para postar na internet é apenas conjectura. Pelo menos até agora.

(*) Guilherme Bicca é jornalista graduado na Universidade Franciscana (UFN) desde 2008. Nesses anos, especializou-se em assessoria de comunicação integrada, quando realizou trabalhos junto a instituições como Sociedade de Medicina; Apusm; Sindilojas; e, mais recentemente, CDL Santa Maria. Está à frente da comunicação de entidades como Adesm e Secovi Centro Gaúcho; presta assessoria especializada ao Fidem Bank; é redator sênior na Jusfy, legaltech eleita a startup mais escalável do último South Summit. Também é um dos âncoras do Semanário, programa veiculado aqui mesmo em claudemirpereira.com.br; e criador do podcast Bocas do Monte, da TV Santa Maria. Guilherme Bicca escreve às sextas-feiras no site.

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3 Comentários

  1. Resumo da opera. Cada um presta atenção no que mais lhe chama atenção. Problema nenhum. Não é bom nem ruim. Só ‘não é para mim’.

  2. Revistas de fofocas viraram programas de fofocas. Logo há quem perda tempo e gaste dinheiro com fofocas. Não tem implicações politicas, a principio, logo está liberado.

  3. Lembrança anedotica. Disse um famoso sociologo que não lembro o nome que a pos-modernidade teria começado quando lá pela decada de 80 uma mulher foi a um programa de tv e revelou que depois de 20 anos de casada nunca tinha tido um orgasmo. Coisa que uma subcelebridade repetiu um ou dois anos atras. Participante de um reality show. Love Island. Materia do The Guardian.

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