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Sesti, Jean e os nossos “Zés” assassinados todos os dias

Lucidez. Essa é a expressão que vem à cabeça para qualificar o texto que me foi enviado por José Antônio Floresta Sesti, um dos habituais colaboradores deste site. Ele reflete sobre a morte do mineiro Jean, por tiros desferidos pela polícia britânica em Londres, a repercussão que o fato teve (e ainda tem) na imprensa verde-amarela e a situação dos nossos Zés da Silva, “assassinados barbaramente” aqui mesmo, em terras pátrias – sem a mínima comoção nacional, comparativamente falando. Convido o internauta a fazer seu próprio julgamento, lendo o texto do Sesti, a seguir:
     
      Alguém já disse: “infeliz o povo que precisa de heróis”.
      Então, vem a pergunta: por que precisamos criar nosso herói da luta contra o terrorismo? Sim, porque por mais que me comova e me sensibilize com a situação da família do brasileiro morto a tiros em Londres; por mais que me revolte ante a morte de mais um ser humano nessa insana luta, nada me convence da necessidade da celeuma criada sobre o fato.
      O povo pranteia Jean; a sua cidade enlutou-se; o Brasil enlutou-se e revoltou-se contra a ação violenta da polícia inglesa; nosso governo protestou veementemente perante o governo britânico; nossos governantes, com os olhos marejados de lágrimas, prestaram sua solidariedade à família do jovem barbaramente assassinado.
      Porém, a pergunta não quer calar: por que tamanha celeuma? Por que tanta cobertura da imprensa nacional?
      Não que a morte de um jovem não cause tristeza, revolta e estupefação… Sempre causa. Porém por que esse jovem particularmente, quando tantos outros são vitimados diariamente em nosso próprio país?
      Por que não pranteamos, também, os “Zés da Silva”, operários, estudantes, trabalhadores ou desempregados, barbaramente assassinados diariamente em nossas ruas? Seja pelas mãos de marginais ou pelas mãos de policiais violentos, corruptos, aliciados pela bandidagem desenfreada e intocável? Pelas mãos de policiais honestos, porém assustados, mal equipados e mal treinados?
      A morte de inocentes em nossas ruas já é lugar comum… É claro que, ocorrendo em um país dito “civilizado”, de primeiro mundo, chama-nos a atenção. Porém, seria para tanto? O que se pretende? Desviar o nosso foco das investigações em Brasília? Desviar nossa atenção da matança diária em nosso próprio país? Criar um sentimento de “patriotismo” exacerbado em um momento de crise institucional? Sim, porque o raciocínio é sempre esse: estamos mal? Vamos mostrar que poderia ser pior e vamos achar um inimigo comum para canalizar essa frustração e esse ódio… Lembremo-nos da crise Argentina e das Malvinas… Lembremo-nos do recrudescimento do regime militar em nosso país e do Tri… Desvia-se o foco, aproveita-se o vácuo e corta-se a pizza…
      Pranteio Jeans, Josés, Joãos, Marias… Mortos aqui ou além mar…
      Porém pranteio também por nós, infelizes, por precisarmos de heróis.
      Um grande abraço.
      José Antônio Floresta Sesti

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