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Santos? Em Brasília? Nem os furibundos acusadores. E, agora, as listas. Não uma ou duas, mas três

Geeente! Há um ano, ou quase, o país foi assaltado (você escolhe o sentido que quiser para o termo). Pelas informações. E pelas “informações”. Mas, sobretudo, pela inversão da dicotomia. Os que, antes, eram santos, agora são demônios que se escondiam na suposta conduta ética. E os que, antes, eram demônios, repentinamente se transformaram nos paladinos de um Brasil melhor.

Mas, afinal, Antonio Carlos Magalhães virou consciência moral da Nação? E Álvaro Dias, que a cada segundo aparece em frente a um microfone ditando leis, não é o mesmo que está, digamos, meio enrolado (a ver denúncias feitas em campanhas eleitorais recentes) com empreiteiros do porte de Cecílio Rego Almeida? E o ACM Neto (daquele outro), que denuncia ter sido grampeado, não é o mesmo que, na Bahia, é chamado de “grampinho” (e não por seu tamanho, exatamente), da mesma forma que o vô é o “grampão”?

E os coleguinhas jornalistas? Como eles conseguem (e têm que conseguir, na verdade) fazer a cobertura insana de uma crise que se prolonga, convivendo, muitas vezes, com ex-chefes ou futuros chefes? Afinal, não são poucos deles que participaram (participam ou participarão) de muitas campanhas eleitorais que confrontaram (confrontam ou confrontarão) acusadores x acusados e vice-versa.

Não acredite em tudo o que lê. Ou desconfie, pelo menos. Querem ver mais um dado: a editora Abril (responsável pela revista Veja) não perde a chance (e, quando possível, cria) de espinafrar o presidente da República, Lula – como já fez, não faz tanto tempo assim, com Itamar Franco, a quem colocou de pinóquio em uma de suas capas raivosas, mais que jornalísticas. Alguém sabe que a editora dos Civita deve 1,32 bilhão de reais? Repita-se: 1,2 bilhão de reais? E que não conseguiu o empréstimo pretendido pela teta brasileira de sempre, o governo? Terá isso alguma relação com o seu noticiário? Longe de mim suspeitar da honradez dos donos da empresa. E você, que acha?

Outro dia, sem razão aparente, ou com todas as razões, tratou de acicatar a revista Carta Capital – por acaso a única a não ver em Lula e no PT os únicos demônios (que outro dia eram santos, lembra?). E tascou: ”a revista do Mino Carta tem 70% da sua publicidade oriunda de verba governamental”. Claro que não disse isso em editorial. Preferiu a boca (?) de Diogo Mainardi, que não mereceu resposta de Mino, quando este foi procurado pelos veículos que cobrem a mídia. Mas, na edição que está circulando, a CP fez o que nenhuma outra – repito, nenhuuuuuma outra – publicação é capaz de fazer. Explicitou, em suas páginas, o faturamento inteiro da sua publicidade. E lá (www.cartacapital.com.br, para os interessados) constatou que a publicidade oficial do governo federal caiu de 2004 para 2005. Isso mesmo, caiu. E que o percentual não chega, nem de longe, aos 70%, mas a 23%.

Por favor, não se trata, aqui, de fazer juízo de valor sobre os destinos nacionais e a capacidade ou incapacidade dos nossos governantes. Só não podemos ser ingênuos. Esse pecado não podemos cometer. Do contrário, acreditaremos que “grampinho” é santo. Não é.

Ok, ok. O jornalista da província não está tão bem informado assim. Ok. Então, sugiro a leitura de Bob Fernandes, editor de uma das grandes novidades da imprensa brasileira, o site Terra Magazine, alojado no portal Terra, um dos maiores do país e que, por sinal, tem controle de capital espanhol. Leia, a seguir, o que escreveu Bob, sobre os acontecimentos da semana (Silvinho, sanguessugas, etc, etc) – e tire sua própria conclusão:

”Perplexidade, pânico e lágrimas: como está Brasília

Nos noticiários, notem caros internautas, eles e elas estão sempre em manchetes separadas.

Silvinho Pereira e sua amnésia parcial – amnésia que atinge também o Palácio do Planalto e arredores. Os interrogadores de Silvinho, vários deles, quase sempre os mais valentes, eles também vitimas de amnésia. Amnésia em relação a quem verdadeiramente são. Ou foram. Eles, do Silvinho aos acusadores, estão em um enredo.

Em outro estão os sanguessugas do Orçamento, sejam eles 65, 16, 81, ou 170.

Nas manchetes eles, os de um ou do outro escândalo, estão em planos distintos, como se vivessem em mundos à parte. Na vida real, além dos títulos fortes e manchetes, eles vivem na mesma cidade. No mesmo Congresso. Ou Palácio. E desta vez, nesta semana, a dose foi tamanha que dois sentimentos se espalharam pela capital: paralisia e perplexidade. Além de algum pânico.

Seja em Brasília, Washington, Londres, Luanda, Canapi ou qualquer lugar mundo afora, quase nada costuma surpreender humanos que vivam, gravitem em torno de casas legislativas, dos templos da política. Tudo, ou quase tudo, já foi feito e visto. Mas, mesmo na experimentadíssima Brasília, instalou-se profunda perplexidade. E algum pânico.

Uma perplexidade que atinge porções oficiais vitais da capital. Atinge em cheio o congresso, que ensaiava arquivar o enredo dos mensaleiros e deixar apenas o outro lado da avenida, o Palácio do Planalto, a saltitar de armadilha em armadilha, de poça em poça.

Quarta-feira à noite uma romaria como poucas vezes antes a capital havia assistido.

Perplexo, quase acuado, o corregedor-geral e 2º vice-presidente da câmara dos deputados, Ciro Nogueira (PP-PI), viu-se obrigado a receber em seu apartamento uma leva de parlamentares em desespero.

Ao 4º andar, bloco A da superquadra 311 sul, desembarcavam deputados e deputados com o mesmo pedido: – Não é verdade… eu não fiz… não fui eu… é uma injustiça… querem acabar com o legislativo.

Ao longo de toda a quarta-feira, Ciro Nogueira recebeu coisa de 70 parlamentares.

Todos na lista, qualquer uma das três, dos sanguessugas.

No dia 19 de Abril, às 7e 38 da manhã, Terra Magazine informou: num trabalho conjunto com o Ministério Público e Controladoria Geral da União (CGU), a Polícia Federal se preparava para estourar a “Máfia das Ambulâncias”.

A operação, batizada Sanguessuga pela PF, se deu no dia 4 de Maio. No mesmo dia à tarde, precisamente às 17h54, Terra Magazine informava sobre a lista de parlamentares que o juiz da 2ª Vara Federal do Mato Grosso, Jéferson Schneider, enviara ao Supremo Tribunal Federal com um pedido de investigação. Só o STF pode autorizar a investigação de quem tem imunidade parlamentar.

Suspeita embutida na lista: conluio de deputados e senadores com funcionários do congresso para sugar do orçamento da União coisa de R$ 150 milhões que alimentavam, a partir de Cuiabá, desde 2001, compradores e vendedores de ambulâncias superfaturadas. Esquema via Cuiabá, grupo Planan, da família Trevisan, para prefeituras em todo o Brasil.

A primeira lista, com 65 parlamentares – Terra Magazine anunciou “apenas” 51 – era de ouvir falar. Elencava quem havia sido citado em conversas grampeadas pela PF. Lista útil para investigações, mas leviana para ser exposta. Foi exposta, mesmo assim, em muitas páginas.

Na madrugada da terça-feira, 9 de Maio, Maria da Penha Lino, assessora do ministério da Saúde, depôs em Brasília e listou 81 parlamentares como partícipes do assalto ao orçamento via ambulâncias e kits de atendimento.

A lista, verdadeira em parte, no todo, ou não, é devastadora para o congresso, para esse mundo oficial que se convencionou chamar genericamente de “Brasília”; como se uma cidade pudesse ser culpada pelo que o país, em grande parte, é.

Sim, é. A CGU investigou 1041 prefeituras do País, 20% das 5.500. Encontrou casos graves de corrupção em cerca de 80% dos municípios.

Para que se compreenda a dimensão, além dos números, no caso dos sanguessugas: a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados tem 7 integrantes. Destes, quatro surgem em pelo menos uma das três listas. A começar pelo primeiro vice-presidente e ex-candidato a presidente da câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL).

Nilton Capixaba (PTB- RO), 2º secretário, está na lista dos 65, aquela do juiz e da PF. E está também na lista de Maria da Penha. A dos 80.

Eduardo Gomes (PSDB-TO), 3º secretário, está na lista da PF e do juiz, e na mesma está João Caldas (PL-AL), 4º secretário.

Não estão em lista alguma o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e Inocêncio Oliveira (PL-PE), 1º secretário.

Em tempo: a Mesa arquivou a investigação contra Eduardo Gomes e João Caldas. Nilton Capixaba, tríplice coroado, segue em suspenso.

A primeira lista é dos que foram citados em conversas de assessores grampeadas pela Polícia Federal. A segunda é dos que tem funcionários envolvidos, mas podem nada ter a ver com o caso.

A terceira lista, mais explosiva e perigosa, é a de Maria da Penha. Além de Nonô aponta também para João Lyra (PTB), usineiro, da mesma Alagoas de Nonô. João, pai de Teresa ex-Collor. João integrante da corte de Collor e hoje candidato a governador.

No congresso, lágrimas. Edna Macedo (irmã do bispo Macedo, da Igreja Universal) chorou…”


VOCÊ NÃO PODE deixar de ler o texto, na íntegra. Vão surgir muito mais nomes e situações sobre as tramóias brasilienses. Sim, lá não há santos. Bem, há – mas esses não aparecem. Confiram o painel montado magnificamente por Bob Fernandes, no endereço http://terramagazine.terra.com.br/. Imperdível!

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