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Jornalismo. Sou totalmente contra. Nem que seja apenas pelo Elias e pelo Paulo Pires

À espera de sanção ou veto, está na mesa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva o projeto de lei complementar 00079/04, aprovado pelo Congresso Nacional.

O PLC amplia a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Passam a necessitar do dito cujo, para trabalhar, entre outros, fotógrafos, comentaristas esportivos e… chargistas.

Reconheço: sou um medroso. Jamais entrei nessa discussão da exigência, ou não, do diploma de curso superior em jornalismo, para poder trabalhar no ramo. Embora, em petit comité (será que é assim que se escreve, caros professores da língua de Molière? Se não for, desculpa, mas creio que todos entenderam), minha opinião sempre foi clara. Nunca quis, confesso, me envolver nesse debate. Já tenho suficientes desafetos e detratores na área acadêmico/sindical/comunicacional para ampliar o número. Foi sempre o que pensei. Não, não foi prudência. Foi medo, mesmo.

No entanto, como alguém já disse, pra tudo há um limite. Nem estava, como era meu hábito, dando muita pelota para esse tal de PLC. No fundo, no fundo, quem não gosta de uma reservinha de mercado, né? Mas… mas… poxa, por que mexer com o Elias? Com a licença da Soninha, que está começando muito bem n’A Razão. E com a licença também do Máucio, o “pai de todos”, como o chamo. Mas, por que o Elias? Afinal, um sujeito talentoso, com seu jeitão discreto, cuja aparente calma transborda no traço e na boa piada do cotidiano retratado pelo jornal em que ele trabalha. Hoje, no Diário de Santa Maria; tempos atrás, em A Razão, onde começou.

Agora, cá entre nós, como posso ser favorável a um projeto que impediria o Elias (e a Soninha, e o Máucio) de trabalhar em jornal? Hein? Como isso é possível? Nem sei se os atingiria diretamente – olha minha ignorância, aí -, mas pegará em cheio os futuros Elias, Soninha e Máucio. Isso é um soco em mim, menos jornalista, mais leitor, agora.

E o Paulo Pires? Esse eu quase vi nascer como profissional. Saído de Uruguaiana, onde fotografava e fotolitava, é n’A Razão que cresceu e é, hoje, opinião muito pessoal minha, o melhor repórter fotográfico da cidade, considerando as condições (honestas, mas limitadas) de que dispõe para trabalhar. Pois o Pires também, segundo esse tal PLC, está fora do mercado. Vai fazer o que, com seu talento próprio do repórter? Hein? Trabalhar em serviço público (e estável), como boa parte dos jornalistas que patrocinaram e acharam quem assinasse o tal projeto?

Olha, gente. Cansei. Sou contra esse PLC. Haveria outras razões, mas fico com essa: quero que o Elias e o Paulo continuem onde estão, legitimamente. E Ponto. Ah, e não adianta me encherem. N-ã-o v-o-u aceitar qualquer tipo de discussão. Não adianta. N-ã-ã-o v-o-u!!!

Digam o que disserem, há temas sobre os quais tenho uma opinião, mas não vou debatê-la com ninguém. É minha. E só minha. O aborto, por exemplo, sou contra. Não me perguntem por quê? Sou contra e pronto. Assim como a pena de morte. Usem o argumento que desejarem, e me encontrarão na trincheira dos contrários. Da mesma forma que o (argh) uso de armas. São opiniões. Minhas. Só minhas. Nem as torno públicas, normalmente.

Abro hoje uma exceção, em “homenagem” ao PLC do raio que o parta, que querem que o Lula assine.

E para provar que não sou bom de argumento (nem quero ser), vou me valer de um clone. E que clone. Fiquem com a opinião de outro cara, o Mino Carta, que assina primoroso artigo na revista Carta Capital, que já está disponível na internet e deverá estar nas bancas neste domingo, ou na segunda-feira. Faço minhas, as palavras dele. Leia:

”Lula, pelo amor de deus…
Imploração ao presidente para que não assine o projeto nascido do trágico conluio entre a Fenaj e o Pastor Amarildo

Coisas deste país, único em que os jornalistas chamam de colega quem lhes paga o salário, e onde o nome do mais perfeito representante do poder midiático, Roberto Marinho, foi dado a imponente conjunto viário paulistano, outrora batizado poeticamente de Água Espraiada. A placa esclarece, pressurosa: JORNALISTA.

Então, vejamos. Aguarda a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o projeto de lei da Câmara PLC 00079 2004, aprovado pelo Senado no início do mês. Atualiza a profissão (atualizar é o verbo usado pelos seus autores), amplia a exigência de diploma para exercê-la e eleva a arrecadação do imposto sindical. Eis aí mais uma invenção verde-amarela. Não sei de exigência igual, ou similar, em prática em qualquer outro canto do mundo.

A história começa em 1969, tempo de ditadura fardada. Os gendarmes da elite estavam preocupados com o day after dos milhares de reprovados pelos vestibulares. Excedentes desgostosos a tomarem cerveja pelos bares da vida. Era oportuno tirá-los das calçadas com a sedução de cursos novos. E fáceis. Nasceu ali a obrigatoriedade do diploma. Decisão fascista, para empregar o vocábulo exato.

O novo projeto, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e apresentado pela primeira vez pelo deputado Pastor Amarildo (PSB-TO), dilata de 11 para 23 as funções jornalísticas, entre elas reportagem fotográfica e cinematográfica, edição de sites, comentário esportivo, diagramação e charge política. Sim, sim, coisas nossas, do arco-da-velha.

Atenção, irmãos Caruso, Baptistão, Angeli e tantos outros que esgrimem com o lápis. Atenção, diretores de arte e diagramadores em geral. Atenção, mestres da objetiva e nem tanto. Atenção, Sócrates, Casagrande, Tostão etc. Cuidem rapidamente de providenciar seu registro para habilitar-se à atividade que praticam há anos, ou décadas.

O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, está, porém, eufórico. “É uma imensa vitória”, proclama. Celebra a derrota do senso comum, aplastrado pelo autoritarismo tão enraizado nas entranhas de tantos brasileiros. Como sempre, reina a maior confusão na área e nas cabeças. A questão é outra, e tem a ver com a estrutura do poder nativo, e com a prepotência dos seus donos.

Nos meus anos verdes, saí do Brasil e fui para Turim para trabalhar na redação do jornal La Gazzetta del Popolo, que se declarava independente, tinha alguma tendência conservadora, mas praticava um jornalismo honesto e era da propriedade de um fabricante de biscoitos, senador pelo Partido Democrata Cristão. Lá fiquei por um ano e meio, e no período o patrão jamais visitou seu jornal.

Mais me impressionou, no entanto, que, por lei, fosse negada aos empresários (repito, empresários) a direção de redação de órgãos midiáticos. O Gazzetta passou por maus momentos financeiros e o dono buscou a ajuda do seu partido. Conseguiu, o jornal tornou-se para-democrata cristão, sem que isso o levasse a comparecer em sua sede. Outra lei garantiu minha saída. Demiti-me com direito à indenização plena. Autorizava-a a mudança de linha política.

Tal é o ponto, no meu entendimento. Precisamos de outro gênero de projetos, em proveito da democracia. Da meritocracia. Da valorização do jornalismo como instrumento a favor da nação. Da iluminação do público. Do nivelamento por cima. Da contemporaneidade do mundo. Enquanto houver diretores de redação por direito divino, viveremos…”


SE DESEJAR ler a íntegra do artigo, publicado na página de editoriais (“A Semana”, pode fazê-lo acessando a página da revista Carta Capital na internet, no endereço http://www.cartacapital.com.br/.

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