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Entrevista. Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula

Ricardo Kotscho, 58 anos, é um dos mais experimentados repórteres brasileiros. Ídolo de uma geração de profissionais que vêem no exercício da reportagem, de fato, a base do jornalismo. E Kotscho está no primeiro time, há quatro décadas.

Mas, nesse momento específico, a importância da palavra do repórter é ainda maior. Pelo momento nacional de grande efervescência política (e não apenas eleitoral) e, sobretudo, porque Ricardo Kotscho foi assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos primeiros dois anos de gestão. E está lançando o livro “Do Golpe ao Planalto – uma vida de repórter”.

Assim, tomo a liberdade de, com a devida anuência (e bem vindo incentivo) da assessoria de imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM, reproduzir entrevista feita, na capital federal, por Ana Paula Nogueira, estudante de Jornalismo da Unifra e estagiária da SEDUFSM, e publicada originalmente no site da entidade. Confira:

”Jornalista debate “imprensa e política”
em Congresso de Comunicação

Ricardo Kotscho, de jornaleiro a um dos jornalistas mais respeitados do país
De 6 a 9 de setembro aconteceu em Brasília o XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom). Profissionais da área estiveram reunidos no campus da Universidade de Brasília (UnB) para discutir o tema Estado e Comunicação. O jornalista Ricardo Kotscho, que dos seus 58 anos, possui 40 deles dedicados ao jornalismo, foi um dos palestrantes do evento. Em sua carreira, Kotscho acumula passagens por redações como a do Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, da revista Istoé e do SBT, além de ter sido assessor especial do presidente Lula até novembro de 2004, cargo que deixou segundo ele, para voltar “para casa e para o jornalismo”. Atualmente, o jornalista se dedica à divulgação de seu novo livro ‘Do Golpe ao Planalto – uma vida de repórter’ e ao contato com os futuros profissionais. Ao final de sua exposição, na mesa ‘Imprensa e Estado na Conjuntura Pós-Redemocratização’, na quinta, 7 de setembro, Kotscho participou de uma entrevista coletiva, quando atendeu estudantes e profissionais da comunicação. Confira a entrevista da qual participou Ana Paula Nogueira, estudante de Jornalismo da Unifra e estagiária da SEDUFSM:

Pergunta – O mundo moderno é um mundo plural, a sociedade é segmentada. Como a comunicação dá conta de uma sociedade segmentada e com valores tão difíceis?
Resposta –
É muito fácil. A sociedade é segmentada, mas a comunicação também é, cada vez mais. Você tem setor de comunicação de tudo quanto é tipo, ligado a organizações sociais, a igreja, a empresas, a tudo. Hoje se tem, em relação ao tempo em que eu comecei a trabalhar, há 40 anos, uma diversificação muito grande, uma complexidade muito grande da sociedade, mas isso também ocorre no nosso meio. É a mesma coisa quando falam do mercado de trabalho, dizendo que existem muitos jornalistas se formando, não sei quantos mil por ano, mas em compensação, tem muito mais empregos, muito mais áreas para se trabalhar. Hoje, qualquer dono de farmácia quer ter um assessor de imprensa. Conheci uma experiência em Fortaleza que achei muito legal, onde o jovem se forma na faculdade e em vez de procurar emprego nas grandes redações monta um grupo de Comunicação e vai trabalhar. Vai à luta por conta própria.

P – Como o senhor vê, na questão da democratização da informação, o crescimento da mídia regional?
R –
Eu acho isso ótimo. O lado positivo é que os jornais regionais melhoraram muito graficamente, os projetos gráficos são muito bons. O problema está no conteúdo e isso não é só na imprensa regional, é na imprensa nacional também. Os jornais usam muito material de agências de notícias nacionais e internacionais, muita coluna social, e isso é o lado negativo. É preciso abrir mais espaço para o jornalismo local, falar da sua rua, da sua cidade. Hoje, os jornais estão muito iguais, tanto faz você pegar um jornal em Porto Alegre ou em Fortaleza, eles são muito parecidos, até as colunas são as mesmas. É no conteúdo que tem que se mexer, mas os jornais melhoraram muito, se profissionalizaram e cresceram.

P – Como é a sua rotina como leitor, telespectador, ouvinte de rádio?
R –
É péssima, é uma coisa que a minha mulher reclama muito. Desde a hora em que eu acordo até a hora que eu vou dormir eu estou atrás de informação. O dia inteiro quando eu estou em casa fico na Internet procurando saber o que está acontecendo, com a televisão ligada. Quando estou no carro é o rádio, além disso, leio uns quatro jornais por dia, pelo menos. Em todo lugar que eu vou, quando viajo, a primeira coisa é pegar todos os jornais para ver o que está acontecendo. Eu sou fanático por isso. Antes de ser jornalista eu era jornaleiro, numa época em São Paulo eu trabalhava em uma banca de jornal e lia tudo de graça, aquele cheiro de jornal, de notícia nova, sempre me fascinou, o problema é que hoje os jornais já não são assim, já não me trazem novidade, parecem pão adormecido. O jornalismo não é só uma opção profissional, é uma opção de vida. Você fica o dia inteiro ligado, você viaja, você esta descobrindo histórias, está descobrindo pautas, e só vale a pena se for assim.

P – A internet é um veículo de muito interesse do público, mas como encontrar limite nesse meio?
R –
A discussão profunda disso tem que se dar primeiro na academia, nas faculdades, nas universidades, que existem para isso, para debater os grandes temas, e nas organizações sociais, na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), nas entidades de classe, não só dos jornalistas, mas na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e em outras. Esse é um assunto que interessa à toda sociedade.

P – Hoje existem vários blogs que fazem cobertura jornalística. O senhor acredita que isso contribua para a democratização da informação?
R –
É a questão do lado bom e do lado ruim. Eu sou a favor de todo o tipo de informação, mas fico assustado com as coisas que leio, não nos blogs em si, dos colegas jornalistas, que apenas mudaram de veículo, em vez de escreverem em um jornal, escrevem num blog, mas, com os comentários que entram nestes sites. As pessoas acabam com reputações, falam as maiores barbaridades e não se responsabilizam, fica tudo anônimo. Você pode observar que 99% dos comentários que entram nos blogs são de pessoas anônimas. O jornalista é responsável por aquilo que faz, mas a pessoa que escreve e põe um pseudônimo qualquer não é responsável e isso é perigoso.

P – Como o sr. analisa o comportamento da mídia do ano passado para cá no processo de denúncias do mensalão e das sanguessugas?
R –
Nas últimas semanas acho que a coisa está menos raivosa. Houve um momento, no final do ano passado (2005), que parecia que a imprensa queria derrubar o presidente. E, eu acho que jornal, mídia, não é para isso, nem para fazer e nem para tirar presidente, é para noticiar. Eu acho que houve um engajamento muito grande de setores da mídia, já que você não pode generalizar, achando que era fim de feira, fim da picada e tal, e os fatos estão provando que é o contrário. A opinião pública é formada por outras fontes que não só a grande mídia e, aos poucos, a imprensa foi se acalmando e vendo que a realidade não era bem aquela que estava sendo mostrada, mas a realidade que o país está mostrando hoje, da maioria do povo brasileiro…”


SE DESEJAR ler a íntegra da entrevista, pode fazê-lo acessando a página da SEDUSM na internet, no endereço http://www.sedufsm.com.br.

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