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Mídia. Um outro olhar sobre a cobertura do pleito que, pela pesquisa da hora, termina domingo

Ninguém sabe se o pleito presidencial termina no domingo, 1º de outubro. Se depender das últimas pesquisas (e especialmente da divulgada nesta terça-feira), sim. Nesta quarta, dois novos levantamentos serão divulgados (do Ibope e do Datafolha), confirmando ou não a tendência de reeleição, agora, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Ou, então, apontando para um segundo turno que, nesse caso, terá também a presença de Geraldo Alckmin, do PSDB.

Quanto a esta (nem sempre) humilde página de internet, você já sabe. Aqui não há neutralidade. Tenta-se, com independência e isenção, comentar as notícias, os fatos. “Duela a quem duela”, como diria aquele que, por sinal, pode estar voltando ao Senado, ungido pelo eleitorado alagoano.

De outro lado, tenho afirmado, sempre e sempre, que não existe neutralidade em lugar algum, muito menos na imprensa brasileira. Especialmente na grandona. E gosto, jamais disse outra coisa, da atitude tomada, agora, pela revista Carta Capital que, buscando ser isenta (mas não rançosa) no noticiário, reafirmou em editorial que apóia a reeleição de Lula.

Adorei também, em 2002, a atitude de O Estado de São Paulo, o mais tradicional entre os jornalões brasileiros. Então, o jornal afirmou, em editorial, sua preferência por José Serra, do PSDB. E isso não impediu o OESP de fazer uma grande, e corretíssima, cobertura do pleito presidencial. Passados quatro anos, porém, o Estadão optou por comportar-se como a grande maioria de seus parceiros na grande mídia: tem candidato, faz de tudo por ele, inclusive escolher uma notícia, um fato, em detrimento de outros. E vice-versa: esconder um fato, uma notícia, em favor de outras. Foi, no caso específico, um retrocesso.

Tem-se lido algumas barbaridades por aí. Olha, se tem. Mas, enfim, que ninguém se iluda: “A” deve para o governo, e não paga. “B” quer empréstimo privilegiado do Tesouro, para pagar por sua própria incompetência empresarial, e não recebe. Então, melhor mudar o governo, né? È por aí. E estou dizendo isso, e escrevendo, sem emitir juízo de valor. Não é nem o caso. Inclusive porque o leitor (e o eleitor) pode até parecer, mas não é otário.

Sobre esse comportamento tíbio (nossa, que palavrinha difícil), para dizer o mínimo, da imprensa grandona da pátria varonil, estou reproduzindo, a seguir, um artigo diferente. De quem pensa diferente (e não é proibido). Um outro olhar sobre a mídia brasileira nesses tempos eleitorais.

Atenção, ninguém é obrigado a concordar. Eu próprio tenho lá minhas ressalvas. Mas é interessante ler. Afinal, pensar de outra forma não é proibido. Ou é? O autor é Jonas Valente, da agência Carta Maior. Leia você mesmo:

Atuação da imprensa volta à ordem do dia na reta final das eleições
Estudiosos, analistas e profissionais do ramo identificam a ocorrência de um fenômeno de descolamento da influência dos veículos da mídia na definição das intenções de voto. Cobertura em curso do caso dossiê recoloca tema na berlinda

A contagem regressiva para as eleições gerais de 1º de outubro fez brotar, há algumas semanas, textos, editoriais e comentários na chamada grande mídia (conjunto de veículos comerciais de alcance nacional) que expressaram um sentimento de perplexidade. De diferentes formas, as ‘vozes’ iniciaram uma reflexão pública – embora não explícita – sobre o porquê da força da candidatura petista apesar da exposição negativa em jornais e emissoras de TV.

Uma das justificativas dadas foi a falta de ‘informação’ da base que pretende votar em Lula, majoritariamente de renda mais baixa. Por ‘informação’, leia-se as reportagens veiculadas pelos mais poderosos meios de comunicação. Mas que informação é esta? Segundo pesquisa do Observatório Brasileiro de Mídia sobre a cobertura dos principais jornais e revistas do País realizada entre julho e agosto, Lula, o candidato, é retratado de forma negativa em 47,41% das matérias, contra 31,2% oportunidades em que o tratamento é positivo. No caso de Alckmin, a situação se inverte, com a abordagem positiva significando 44,56% das notícias onde o presidenciável aparece, contra 31,42% de citações negativas.


(Parênteses para uma OBSERVAÇÃO CLAUDEMIRIANA: a propósito, já outro levantamento, mais recente, que publiquei na nota imediatamente anterior a esta, e que vale a pena ler. Fechar parênteses)

A comparação com outras eleições em que a grande mídia exerceu grande influência – como na de 1989, quando construiu um candidato sem história como no caso de Fernando Collor de Melo, era prova de que algo estaria dando errado. Durante algumas semanas, vigorou o argumento do “povo desinformado”, do povo “que não sabe votar” . O povo, neste caso, seria a maioria mais pobre que vota em Lula. Segundo pesquisa do Datafolha de 18 e 19 de setembro, entre as famílias com renda de até dois salários mínimos (SMs), o índice de voto do atual presidente chega a 57%, enquanto nas famílias que ganham mais de 10 salários mínimos as intenções caem para 30%. Com Alckmin, novamente os índices se invertem. Nas famílias de mais de 10 SMs, 42% dizem votar no candidato do PSDB, enquanto nas famílias de até dois salários mínimos o índice cai para 24%.

Os discursos diante da perplexidade dos colunistas de grandes veículos passaram a ver um descolamento da população com a “opinião pública”. Para intelectuais e analistas, no entanto, este grupo não consegue distinguir as opiniões de seus veículos da opinião da população. “Analistas políticos sempre acreditaram que são formadores de opinião. Gostam da idéia de que a opinião deles é a que normalmente vai prevalecer. Eles pensam que são opinião pública”, disse o professor da Universidade de Brasília, Venício Lima, em debate com o tema ‘Mídia e Poder’ realizado no Sindicato dos Bancários de Brasília na semana passada. Lima lançou recentemente livro sobre a cobertura da imprensa durante a crise política originada com as denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Em seu blog, o sociólogo e colunista da Carta Maior Emir Sader criticou duramente a posição dos colunistas trazendo como causa da força de Lula o conjunto de políticas promovido pelo governo. “Não vão aprender, colocaram a culpa no povo, com a esperança – como disse Lula – de dissolver o povo, de substituir o povo por outro, dos seus sonhos. Quem é essa imprensa, para se reivindicar a missão de fiscalizar os governos? Que moral tem para isso? Quem lhes entregou esse mandato? Pelo voto popular, ninguém. Eles se reivindicam a si mesmos”.

Em entrevista concedida à revista Caros Amigos, o jornalista Franklin Martins, ex-comentarista político da TV Globo e atual contratado da TV Bandeirantes, tenta explicar a perda de influência da mídia usando a teoria da “pedra no lago”. A opinião deste grupo de jornalistas irradiaria para o conjunto da população a visão das pessoas sobre os fatos. Para Martins, os primeiros anéis da onda, para usar a referência da imagem, deixaram de ser as classes ricas e médias e passaram a ser as classes C e D, mais diretamente afetadas pelas políticas governamentais e pela redução da miséria e da pobreza. No raciocínio do jornalista, não só houve um deslocamento como o voto das classes mais pobres passou a influenciar o da classe média, fazendo referência ao crescimento da candidatura Lula entre este segmento. Para Venício Lima, o mais correto seria usar a ‘teoria do espelho’, na qual os colunistas da grande mídia viam tamanha identificação entre o que escrevem e o que ‘opinião pública’ pensa que imaginavam serem suas análises e linha editorial apenas reflexos da posição da população.

Lima avalia o quadro atual, no entanto, com outro referencial: a ‘teoria da cascata’, do intelectual italiano Giovanni Sartori. Segundo ela, há um processo de irradiação das idéias das elites econômicas e políticas, além da mídia, para o conjunto da população. Mas a medida em que a ‘água’ desce, ela é ‘contaminada’ pelos variados níveis da cascata, numa nova referência visual para explicar o fato de que a população interpreta…”


SE DESEJAR ler a íntegra do artigo, pode fazê-lo acessando a página da agência Carta Maior na internet, e especificamente o texto acima, no endereço http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12340.

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