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Brasil: ou nos tornamos nação, ou permaneceremos colônia – por Marionaldo Ferreira

“Seguimos reféns de velhos vícios, agora revestidos de novos discursos...”

O Brasil precisa parar de pensar como um vilarejo e começar a agir como uma nação. Essa afirmação pode soar dura, mas é necessária. A cada crise – política, econômica ou institucional – percebemos o quanto estamos longe de ter uma identidade nacional sólida, um projeto autônomo, uma visão de futuro construída por nós e para nós. Seguimos reféns de velhos vícios, agora revestidos de novos discursos e roupagens modernas, que apenas atualizam nossa histórica condição de dependência.

Ainda não rompemos com as cordas da colonização. O grilhão que nos prende não é mais o do colonizador português, mas sim um conjunto sofisticado de mecanismos econômicos, culturais e políticos que mantém o Brasil submisso. É uma dependência que se impõe não apenas nas estruturas, mas também nos afetos: uma parcela significativa da elite brasileira admira tudo o que vem de fora – sobretudo dos Estados Unidos – e desdenha de tudo que é nacional. Isso molda nossas escolhas, nossa economia, nossa educação e até nossos sonhos.

Essa subserviência é profunda. Ela se manifesta no desmonte da indústria nacional, na fragilidade da nossa política externa, na forma como tratamos nossas universidades, na obsessão por “atrair investidores estrangeiros” mesmo que isso signifique perder autonomia. Importamos tecnologia, importamos opinião, importamos até pensamento político. E ainda achamos que isso é progresso.

Romper com isso é urgente. É uma questão de sobrevivência nacional. Mas como fazer isso?

Sinceramente, não sei todas as respostas. Não acredito que exista uma fórmula mágica ou um salvador da pátria. O que sei é que esse caminho não será trilhado nem por “B” nem por “L”. Ambos estão, de formas distintas, comprometidos com um sistema que perpetua a dependência. Um porque se rende à lógica do mercado global como dogma. Outro porque finge soberania enquanto negocia espaços de poder com as mesmas estruturas colonizadas de sempre.

Nesse contexto, com todos os seus defeitos – e eles existem – Ciro Gomes ainda é uma opção que merece ser considerada com seriedade. Por quê? Porque fala em projeto nacional de desenvolvimento, porque aponta a necessidade de planejamento de Estado, porque toca em temas estruturais que quase todos evitam. Porque, ao menos, tenta pensar o Brasil como um país que pode se erguer por si próprio, sem tutelas, sem vergonhas, sem joelhos dobrados.

O que precisamos hoje é de um novo pacto nacional. Um pacto que una brasileiros e brasileiras em torno da ideia de soberania, de trabalho, de justiça e de dignidade. Que resgate o orgulho de ser brasileiro — não como folclore, mas como consciência. Que pare de importar soluções prontas e construa caminhos próprios. Que enfrente a desigualdade, a ignorância e a dependência com coragem e não com slogans.

Pensar o Brasil como nação é pensar o povo como protagonista. É compreender que sem soberania não há democracia verdadeira. É saber que nenhum país se desenvolve copiando os outros, mas sim conhecendo a si.

O futuro do Brasil começa quando deixarmos de ser subalternos. E para isso, precisamos, antes de tudo, deixar de pensar como colônia.

(*) Marionaldo Ferreira é especialista em governança pública, mentor de líderes e consultor em gestão e captação de recursos para municípios. Atua na formação de servidores e agentes públicos e é autor do livro Governança Pública e Suas Possibilidades.

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8 Comentários

  1. Resumo da opera. Este povo é o restolho do que sobrou do varguismo destilado pelo brizolismo. Querem implantar idéias do começo do seculo XX no começo do século XXI. Ainda por cima, para quem não notou ainda, Getulio Vargas foi o Salazar e o Francisco Franco tupiniquim. Unica coisa que Ciro Gomes pode fazer para melhorar a terra pátria é virar adubo. O que vai demorar.

  2. ‘[…] Ciro Gomes ainda é uma opção que merece ser considerada com seriedade.’ Papinho PDT só poderia desembocar nisto. Kuakuakuakuakuakuakua! O irmão do cara da patrola! Kuakuakuakuakuakuakua! Sério! Kuakuakuakuakua!

  3. ‘[…] na obsessão por “atrair investidores estrangeiros” mesmo que isso signifique perder autonomia […]’. Sim, o pessoal la fora vai trabalhar, juntar dinheiro e mandar para o Brasil a fundo perdido para um bando de cabeças de bagre fazerem o que lhes der na cabeça. Se bem que ‘cabeças de camarão’ seria melhor na analogia.

  4. ‘ Isso molda nossas escolhas, nossa economia, nossa educação e até nossos sonhos.’ Quem estiver sonhado que acorde e vá trabalhar. Nossa economia é tocada por um bando de incompetentes em BSB. Nossa educação está na rabeira dos exames internacionais (TIMMSS e Pisa). Tendencia é de piora. Culpados são os que tocam a educação por aqui, não tem nada a ver com ‘elites’ ou ianques.

  5. ‘[…] uma parcela significativa da elite brasileira admira tudo o que vem de fora – sobretudo dos Estados Unidos – e desdenha de tudo que é nacional.’ Luta de classes, como se ‘elite’ fosse só a economica. A elite ‘intelectual’ esta mentalmente estacionada na Guerra Fria. Tudo o que é ianque não presta, tudo o que é bom é europeu. Alas, uma europa altamente idealizada, baseada em estereotipos. Semana passada um sujeito de 21 anos na Austria entrou numa escola e mandou 10 para a conta. Na França um pia de 14 anos durante a revista das mochilas na entrada da escola puxou uma faca de cozinha e matou uma funcionaria. É possivel juntar inumeros problemas, como a internet na Alemanha que sempre foi uma porcaria.

  6. ‘O grilhão que nos prende não é mais o do colonizador português, mas sim um conjunto sofisticado de mecanismos econômicos, culturais e políticos que mantém o Brasil submisso.’ Sim, o pais é ‘vitima’, tupiniquins não tem culpa nenhuma.

  7. Pois diz que um tambo la para as banda de São Pedro estava com um problema. Produção de leite estava baixa. Dono ligou para a reitoria da UFSM e falou do problema com o Reitor. Este montou uma comissão de notaveis encabeçada por um professor medalhudo da fisica. Meio metro de curriculo Lattes. Se tocaram para o campo e ficaram duas semanas olhando tudo. Voltaram para a instituição com os laptops cheios de dados. O fisico medalhudo, meio metro de curriculo Lattes, escreveu o relatorio e voltou ao tambo. Fazendeiro perguntou ‘e dai, chegaram a uma conclusão?’. Fisico medalhudo, meio metro de curriculo Lattes, respondeu: ‘Chegamos a uma solução! Mas funciona somente no caso de vacas esféricas colocadas no vácuo’.

  8. ‘O Brasil precisa parar de pensar como um vilarejo e começar a agir como uma nação. Essa afirmação pode soar dura, mas é necessária.’ Afirmação tipica de quem vive no bureau com ar condicionado. ‘Precisa agir como uma nação’ como se fosse ‘eu vou ali na esquina comprar pão’.

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