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O extraordinário no ordinário: devaneios poéticos – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa

Caso façamos um pequeno esforço de pensamento poderemos aguçar todos os nossos sentidos e, assim, nos tornamos capazes de capacitar, na travessia da vida cotidiana, certas peculiaridades que irão nos produzir um bom encantamento com as coisas naturais e o tecido das relações sociais que configuram nosso mundo.

Não é apenas uma grande tela, uma magistral escultura, uma bela sinfonia, um lindo poema, uma paisagem bucólica, mas nossas relações com os outros quando fundamentadas na delicadeza, na gentileza e na generosidade são, absurdamente, geradoras de sentimentos belos de afeto e de lirismo estético. Esse movimento de reflexão e de mobilização dos sentidos pode, de forma singela, espanar as poeiras da vida que vão se depositando sobre nossa retina, embrutecendo nosso sentir e, o que é pior, vão se tornando obstáculos para captarmos as mais diferentes formas do belo.

Digo isto porque numa simples viagem que faço regularmente do centro de Santa Maria para o Campus da UFSM, nesses dias de início de agosto, algo me causou perplexidade e uma grande paz de espírito e leveza na alma: a beira da faixa velha de Camobi e os campos de seu entorno estão maravilhosamente lindos com a exuberância dos Ipês amarelos e roxos. Os Ipês são paradoxalmente lindos e efêmeros, pois suas flores emergem em beleza e em poucos dias vão precipitando e formando um magnânimo tapete colorido e aveludado nos campos, nas calçadas e nos paralelepípedos.

Assim como a vida é a fugacidade das flores dos Ipês que produzem perplexidade e beleza. A Estética do belo, na vida e nas flores dos Ipês, é produzida pelo sentido de movimento que ambos propiciam. O Grande romancista e poeta Lawrence nos ensinou que a flor não é apenas o elemento belo e natural; ela produz o êxtase da beleza que ele chamou de floridade. Se tu não vislumbraste, ainda, os Ipês floridos em nossa “Boca do Monte” venham dar um passeio em nosso maravilhoso Campus, aqui na UFSM, e tu vais observar o sentido estético da floridade produzido pelos efêmeros e singelos ipês que dão, nessa época do ano, encantamento para nossa querida Universidade.

Rompa um bocado com as práticas rotineiras de uma vida baseada no utilitarismo pragmático, retire a poeira de sua retina, abandone seu enclausuramento e saia para a rua para preencher seu pulmão e sua alma com o ar puro e a beleza dos elementos pictóricos naturais que estão aí para dar outro sentido para sua retina e para sua vida cotidiana.

O andar cotidiano pode se transformar num ato enfadonho caso não façamos uso de nosso rico aparato cognitivo para refletir no como estamos fazendo essa travessia. A floridade captada pelo olhar poético é uma das formas capazes de transformar aquilo que parece ordinário em um elemento extraordinário no vislumbrarmos e narrarmos nosso mundo e nosso andar.

Os bons poetas afirmam que a poesia e as demais linguagens das artes, nesta vida obtusa, não servem para nada. Mas o fato de não pertencer ao mundo das coisas uteis é que constitui seu grande caráter educativo e libertário. Ler bons livros de poesias pode ser um bom começo para transformar o seu olhar sobre a vida, tanto natural quanto social. Navegue no mar infinito da poesia e das artes em geral e, certamente, vais espanar os entulhos que as formas de vida bicuda vêm colocando sobre seu olhar.

Assim vais ser capaz de enxergar a vida com outros olhos. Sinta o aroma as flores que estão por aí adentrando nossas narinas. Pare para pensar na beleza que é a incomensurável floridade que emerge das flores dos Ipês e, com esse contexto, faça uma metamorfose em sua vida: transforme aquilo que têm sido ordinário em extraordinário. As profundas raízes que vamos criando em nosso devir histórico na vida é fundamental para captarmos o nosso sentido na vida, mas criarmos asas e voarmos em nossos pensamentos é imprescindível e inefável para a sanidade de nossa existência nessa nossa passagem por esse mundo.

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