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O prefeito e a teoria da conspiração – por Atílio Alencar

A Prefeitura de Santa Maria, nem que quisesse, conseguiria adotar um estilo mais desastroso de administração. Não falo nem das lacunas em termos de políticas públicas fundamentais, como demonstra recente pesquisa em que a cidade comparece em vexaminosa colocação no ranking divulgado pelo Ministério Público do RS, em termos de investimentos nas áreas de Saúde e Educação. Isso, por si, só, já seria motivo para uma avaliação negativa da gestão – embora o governo municipal, através de seus porta-vozes, costume rechaçar com veemência toda e qualquer crítica ao seu estilo de administrar.

No entanto, como que para adicionar um elemento cômico ao trágico, o governo Schirmer passou a adotar escusas públicas em tom delirante, transferindo – através de equações de lógica um tanto duvidosa – a responsabilidade de seus malfeitos para uma ardilosa conspiração que estaria rondando seu trono. Essa conspiração, claro, incluiria desde órgãos estatais sob a gerência do governo estadual petista até células locais de oposição, com especial e dedicada preocupação aos militantes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Primeiro, foi a obscura novela envolvendo a renovação de contrato com a Corsan (companhia estatal responsável pelo abastecimento de água nas cidades do RS), envolvendo a soma de 120 milhões de reais em investimentos para o município. Schirmer, que mais tarde alegaria estar sofrendo pressões políticas por parte da companhia para a assinatura do contrato, demorou para esclarecer de fato à população os benefícios e prejuízos da renovação, e nunca deixou de todo claro qual seria a alternativa viável em caso de ruptura contratual. Preferiu, desde cedo, pronunciar-se por meio de monossilábicas declarações, deixando sempre a impressão que sua decisão era mais baseada em algum capricho do que numa posição coesa e equilibrada de gestor público.

Depois, intensificou em sua fala as acusações de que a campanha por justiça dos pais de vítimas da Kiss estaria sendo aparelhada por partidos de oposição (aqui, de novo, a sigla do PSOL aparece superdimensionada pelo governo, atribuindo ao pequeno partido uma influência que nem os mais eufóricos militantes psolistas poderiam crer verossímil). A insistência em esvaziar de sentido a luta legítima de centenas de pais dilacerados pela dupla angústia da perda e da injustiça, substituindo o conteúdo urgente das manifestações por uma suposta trama subterrânea de cunho eleitoreiro, é uma marca das mais lamentáveis do discurso de um prefeito eleito com ampla vantagem na contagem de votos. Tanto mais lamentável por revelar ao seu eleitorado uma mesquinhez incoerente com as expectativas em torno do seu governo, agora definitivamente manchado pela hesitação quando lhe foi exigida a firmeza.

Também nos temas considerados menores – pelo menos para o governo e seus secretários – a prefeitura consegue gerar polêmicas em torno de suas medidas. A revitalização do Parque Itaimbé, por exemplo, surpreendeu a muitos: afinal, aplicar uma camada de asfalto sobre o passeio da única área verde do centro da cidade é uma medida que carece, ao menos, de um comunicado detalhado sobre suas vantagens. É bom? Funciona? Dentro do projeto como um todo, faz sentido? A pertinência das questões é desdenhada por afirmações sumárias como a do Secretário de Infraestrutura e Serviços do Município, Tubias Calil, que classificou como polêmica barata as centenas de manifestações de dúvida e insatisfação quanto ao asfaltamento do parque nas redes sociais.

E, para coroar o percurso tragicômico da gestão do prefeito Schirmer, a recente ordem de remoção da tenda em que os pais das vítimas da Kiss realizam sua vigília permanente no centro de Santa Maria: ninguém sabe direito se a emissão da ordem foi consensual e previamente autorizada pelo prefeito ou fruto do arroubo de algum fiscal inconsequente. Da prefeitura, apenas notas vagas em que Cezar Schirmer oscila entre verbos vazios, para mais uma vez não dizer nada. Mandou tirar, mandou deixar, está avaliando. Ou as decisões são tomadas sem pensar, ou a desfaçatez alcançou seu grau máximo nesta gestão.

Pior que isso, só o indício de que a primeira-dama também estaria iniciada na teoria da conspiração: conforme postado – e posteriormente deletado – em seu perfil no Facebook, a queda de energia na Região Central do RS na sexta passada foi um boicote da AES Sul ao carnaval que prefeito e família desfrutavam do seu camarote.

Seria engraçado, não fosse o fato de que estamos bem longe das próximas eleições para prefeito.

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6 Comentários

  1. Falta o “sindico” dizer que o crime, com 242 certidões de óbitos, foi também conspiração.
    Os jovens e vitimas estavam na KISS, para conspirar.
    Este desgoverno, cada vez, afunda-se mais, nesta Lama.

  2. Realmente,eu sinto vergonha de dizer que moro em Santa Maria hoje. Eu tinha orgulho de dizer que residia nesta cidade quando a Rio Branco era tomada de barracas coloridas, de ratos atravessando a rua, o viaduto era varal de estender roupas, onde motorista assumia a prefeitura na ausência do Prefeito, onde os postos de saúde eram de primeiro mundo com atendimento 24 horas com médicos plantonistas, com creches para todas as mães trabalhadoras, Saudades daqueles tempos gloriosos e que o o Prefeito Schirmer conseguiu destruir kkkkkkkkkkkkkkk

  3. Bah! jacinto em que mundo tu vives? Com quem conversas? o que entendes? O texto esta ótimo! Apenas deixou de falar de MUITAS outras barbaridades que estão acontecendo! Como te sentirias se necessitasses um procedimento qualquer para melhorar sua vida, aliviar sua dor, retornar a vida saudável enfim tratar sua saúde e ficasses na fila eternamente porque o fura fila institucionalizado coloca sempre os eleitores dos reis na frente (prefeito, vice prefeito, vereadores) e não vejo ninguém, falar nada sobre isso!

  4. Superficial e totalmente tendencioso, eu diria. Primeiro, pois fala sobre o tal rompimento da Corsan sem no mínimo ter conhecimento do fato… Ou não quis entender. É só pegar os jornais da época para ver as razões (plausíveis, diga-se de passagem) para a não renovação antecipada. E mais… O movimento dos pais é legítimo, sim, mas é inegável a participação dos partidos políticos, como o PSOL, na invasão da Câmara de Vereadores, por exemplo. Ou estão esquecendo das bandeiras que estavam no plenário durante aqueles dias? Enfim, uma análise tendenciosa, maldosa e muito superficial…

  5. @Gustavo; a despeito de ser uma análise superficial do governo,o texto tem todo um sentido. Até porquê nem dá para analisar profundament este governico neste espaço. Mas que é horrorosa essa administração-isso não resta mais dúvida. Pobre Santa Maria

  6. Texto muito coerente e bem escrito, embora tenha sido apenas uma análise superficial do último ano do mandato de Schirmer. A sua administração é lamentável, não há uma obra importante de sua autoria sequer, a cidade está péssima, suja, esburacada, e imagino que os arrebaldes estejam numa situação pior ainda. Tenho vergonha quando chegam pessoas de fora aqui em SM, como hoje mesmo irei receber um consultor de empresas de POA, e já terei que ir explicando a situação da cidade.
    Com o arrogância do prefeito e do séquito que o segue dentro da PM, vai ser cada vez mais difícil de se deslumbrar um futuro melhor para essa cidade.

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