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Do Leonardo Botega. O professor de História, a parábola com Sísifo. E os tempos “modernos”

Recebi, e publico na íntegra, artigo pra lá de interessante, assinado pelo professor de História Leonardo da Rocha Botega. É uma (está meio fora de moda a palavra, mas, contraditoriamente, permanece atual) parábola. E dá o que pensar, principalmente se a transpusermos para o que acontece hoje com a educação, especialmente no Rio Grande do Sul. Acompanhe, e tire tua própria conclusão:

 

 

“O Sísifo Educador

Por Leonardo da Rocha Botega  Professor de História

 

Certa vez, no auge de uma autoridade supervalorizada por si mesma e pelos seus apoiadores, o governante do Monte Olimpo, localizado em uma província ao sul de um grande país, condenou Sísifo, o educador, a um trabalho árduo, carregar em suas costas o peso da educação das futuras gerações. O motivo: ter roubado o saber dos poucos deuses de uma elite desumana e socializá-lo com os pobres mortais.

 

Mesmo cometendo tal crime, Sísifo o considerou gratificante, como o são todos os contatos humanos feitos com a disposição de quem quer ensinar e aprender algo de significativo. Porém, pensou, não somente de subjetividade a vida é regida. Com o apoio de uma sociedade que já não considerava o saber monopólio daqueles que se trancam em gabinetes, Sísifo conquistou direitos. Uma aposentadoria digna, um plano de carreira, a possibilidade de escolher os dirigentes de seu local de trabalho; conquistou até mesmo direito para os frutos de seu trabalho, garantindo a eles uma boa merenda enquanto aprendem.

 

O resultado gerou uma sociedade mais consciente de seus direitos e com princípios mais sólidos. Isto enfureceu o grande governante que despachou o Deus da Fome e da Miséria para que estes direitos fossem retirados e os salários, recebidos não somente por Sísifo, o educador, mas pelos muitos outros Sísifos pela província à fora, fossem congelados. O motivo: uma sociedade consciente não tolera a tirania e contesta aquilo que é vendido como verdade absoluta pela arte de torturar os dados segundo os interesses do poder chamada estatística.

 

O governante sorria com tal medida, pois não se dera conta que mesmo desrespeitado e muitas vezes considerando o seu trabalho como inútil e sem esperança, Sísifo não era uma aberração, nem tão pouco desprovido do valor mais forte da humanidade, a dignidade. Seres humanos dignos são capazes de qualquer coisa, disse certa vez, um Sísifo chamado Paulo Freire. Esta frase marcou a consciência de outros Sísifos que foram à luta e assim se manterão por toda a eternidade ensinando a mais alta honestidade que nega os deuses e ergue rochas.

 

Este texto se baseia em O mito de Sísifo de Albert Camus.”

 

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