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Mídia: o totalitarismo e o contra-fluxo – Carine Prevedello

Mídia: o totalitarismo e o contra-fluxo
Carine Prevedello

Há um consenso, entre alguns dos mais importantes teóricos da Comunicação na atualidade – e é possível que o telespectador, o ouvinte, o leitor, o usuário da web e de outras mídias, como o celular, concorde com isso – sobre a centralidade da mídia no cotidiano. Mais do que mediadores de uma interpretação da realidade, os meios de comunicação passaram a espaços constituintes, determinantes nas relações sociais, no funcionamento da esfera pública e, por conseqüência, – talvez a questão mais importante – atuam na produção de sentidos para os diversos campos e identidades sociais. A cada dia é menos provável a realização das operações em que estamos envolvidos sem a dimensão da midiatização: a presença de alguma mídia, o que significa interação sócio-técnica como condição, e não como opção.

Nossos horários de refeições são intermediados pelos horários dos programas televisivos, nossos diálogos – pessoais ou profissionais – são possíveis pelo uso da web ou da telefonia móvel, nossos deslocamentos são monitorados por programas guiados por satélites, seja pela intervenção do entretenimento ou do conteúdo informativo do rádio, o espaço público é dominado pelos mais diversos tipos de apelo na forma de mídia, a legitimação da política passa pelas operações midiáticas. Os avanços são inquestionáveis, as facilidades podem e devem ser consideradas na mesma medida. Quando falamos, portanto, de produção de sentido através da mídia, estamos presumindo uma imposição da dimensão técnica como parte indissociável dos sistemas de geração de valores simbólicos, que significam modismos, comportamentos, perfis de consumo e de identidade.

Por outro lado, como contradição, é viável perceber os movimentos de retorno ao orgânico, ao autêntico como sinônimo de regionalização ou raízes, a um ritmo de desaceleração – em oposição à velocidade característica do tempo midiático – e de resgate ou busca de valorização da dimensão mística. O culto ao ócio, como um precursor já até ultrapassado, o crescimento da alimentação naturalista, o retorno ao rural ou rústico como opção de lazer e mesmo de moradia distante dos grandes centros urbanos, o crescimento das ordens religiosas e a inversão de algumas tendências. Pesquisas indicam que, nos Estados Unidos, as mulheres estão voltando a priorizar a maternidade ao invés do investimento no trabalho. No Brasil, outras pesquisas dão conta de que o tempo dedicado à internet já diminui o tempo dedicado à convivência em família.

São fenômenos que se atravessam, mas que talvez não se oponham. O debate que proponho questiona a possibilidade de considerarmos a dimensão sócio-técnica – a interferência da mídia – como totalitária, sem percebermos uma série de movimentos que se constituem como focos de “resistência”, ou de contra-fluxo. Há margem para a consolidação de espaços desvinculados das operações midiatizadas, ou essas são instâncias marginais, que apenas corroboram com o movimento de naturalização da expansão da sócio-técnica como dimensão predominante?

Esses são alguns dos questionamentos e das reflexões que espero poder discutir a partir desta semana neste espaço que me foi oferecido. Agradeço ao Claudemir Pereira pelo convite e pela confiança, e retorno aos leitores a discussão, esperando poder contribuir para ampliar o debate em torno da mídia, meu objeto de estudo no Doutorado e de interesse nos embates cotidianos.

Carine Prevedello Jornalista diplomada (UFSM), diretora de programas da TV Campus (UFSM), Mestre em Comunicação, cursando Doutorado em Comunicação na Unisinos.

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