Desertos verdes (2). Eucalipto, regra 3 do petróleo, e controlado pelos grandões do planeta
No seminário sobre os desertos verdes, realizado no campus da UFSM, entre a sexta-feira e o sábado, um grande debate se estabeleceu em torno dos projetos de florestamento ora em gestação na metade sul do Rio Grande. O participantes do encontro, na tarde de sexta, foram todos críticos das propostas em andamento na pampa gaúcha.
Uma das mais veementes manifestações veio de Sebastião Pinheiro, o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, a veneranda Agapan, fundada pelo ambientalista José Lutzenberger. O que ele e outros disseram você confere na reportagem a respeito, produzida pela assessoria de imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM, Sedufsm, uma das promotoras do evento. A seguir:
Haja Eucalipto: Produção deverá atender a indústria de energias alternativas
Representante da Agapan diz que eucalipto será matéria prima para produção de biocombustível e irá concorrer com o petróleo
Aplausos, contestações, discordâncias e muito argumento marcaram a tarde desta sexta, dia 1º, no Seminário estadual Rumos na luta contra o deserto verde – Esta terra tem dono realizado pela Seção Sindical dos Docentes da UFSM. O auditório Sérgio Pires lotou de estudantes, professores, entidades ambientais, sindicalistas e movimentos sociais. Cerca de 180 pessoas acompanharam com olhares atentos os painéis sobre a temática da plantação de eucalipto para abastecer as grandes indústrias de celulose e biocombustível.
Quase um minuto de aplausos foi a resposta da plenária, depois da fala do representante da Associação Gaúcha de Proteção Ambiental (Agapan), Sebastião Pinheiro. O alerta foi para a intenção dos grandes pólos internacionais, em produzirem etanol à base de eucalipto. Para ele, petróleo está condenado e agora se busca o recurso da biomassa para a produção de líquidos. Sebastião citou como exemplo a Standard Oil Company – o maior truste petrolífero dos Estados Unidos. Essa briga é lá em cima, mas é de todos nós, disse. De acordo com ele, plantar eucaliptos é muito rentável financeiramente, porque em sete anos já se está colhendo os resultados.
Para Sebastião o Brasil está sendo usado para uma produção em larga escala, que atenda aos interesses dos grandes barões imperialistas. Estamos fazendo a terceira Revolução Verde sem saber, afirmou. Isso é diabólico, terrível!, dramatiza. Sebastião lançou para o debate: vamos ver se a polêmica vai ser o eucalipto engolidor de água ou o geneticamente modificado.
O representante do MST, Luiz Pedroso falou da grande peleia travada entre os exploradores e os camponeses. Segundo ele, o governo quer impor um estilo de consumo e de comportamento aos agricultores. Para Pedroso, o capitalismo chegou a todos os cantos do planeta, com o Grupo dos 7 (G7). Para ele esse grupo força uma globalização neoliberal desregulada e acaba repartindo o bolo do lucro sobre a exploração. De acordo com Pedroso, os organizadores resolveram explorar o Brasil pelos eucaliptos. O Brasil sempre foi fornecedor de matéria prima, esse é mais um exemplo, contestou. A Mata Atlântica já foi destruída para plantar soja. Agora querem destruir o pampa para a monocultura de eucalipto, afirmou Pedroso.
O mau planejamento causa problemas estruturais
A besta do apocalipto é a definição trazida por Patrícia Binkowiski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que falou das conseqüências da monucultura do eucalipto no contexto social. A definição apresentada surgiu em Caravelas, na Bahia, quando foi ocupado 83% de terras agricultáveis para a produção de eucalipto, gerando diversos problemas sociais, econômicas e ambientais na localidade. Patrícia abordou a fragilização do espaço rural, o que provoca a migração do agricultor familiar. Além de problemas estruturais com o desemprego e a pobreza.
Patrícia também reproduziu as estratégias de marketing, existentes em Porto Alegre, sobre a Aracruz Celulose – que é responsável por 27% da oferta global e possui plantações nos estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Eles falam do desenvolvimento sustentável, da arborização. Patrícia citou o exemplo de uma rádio da capital que tratava como a fantástica fábrica de celulose. Segundo Patrícia, as conseqüências desse processo geram mudanças na identidade cultural do gaúcho. As questões são: Será que o bioma pampa vai suportar? A quem interessa todo esse desenvolvimento? Patrícia afirmou que é inconformista e que não se dobra ao modelo de conjuntura apresentado no momento.
Isso tudo pode acontecer se não houver o zoneamento ambiental, que foi o tema da explanação do representante da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Paulo Duarte. De acordo com ele, o planejamento é o fator fundamental para a manutenção da paisagem natural e as práticas de manejo. Paulo falou da prática da silvicultura – criação e desenvolvimento de povoamentos florestais, satisfazendo as necessidades de mercado -, que foi incluída em 2004. Segundo Paulo, tudo deve ser criteriosamente analisado para o bom desenvolvimento ambiental, econômico e social da população de determinada localidade.
A universidade é o instrumento de desenvolvimento das empresas
O interesse das empresas de celulose nas Universidades foi apresentado por Luiz Rampazzo, do Centro de Estudos Ambientais (CEA), com o trabalho intitulado: Desertos Verdes e Pólos de Celulose na Metade Sul. Rampazzo contou que as empresas vão dentro de uma universidade do Sul do Estado, buscar cientistas para desenvolverem estudos Chega a se promíscuos, contesta. Para ele, a monocultura não tem diversidade e não é florestamento, muito menos reflorestamento. Isso tudo é uma indução ao erro, alerta. Rampazzo afirma que o desenvolvimento sustentável só será possível com uma ecologia equilibrada, socialmente justa e economicamente viável.
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