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Momento eleitoral e os parafusos de geléia – por Carlos Dominguez

Chega uma hora em que temos de escolher. Mesmos os parafusoS de geléia, humanos subprodutos da sociedade de consumo, tem de se manifestar sobre temas mais ou menos áridos. Quando restam poucas opções reais de escolha no nosso cotidiano o que podemos fazer? Escolher. Continue a escolher.

Olhe o noticiário político estadual. Partidos engalfinham-se em uma disputa sucessória inócua A oposição encabeçada pelo PT frita a governadora em fogo brando. A base governista paralisa a investigação parlamentar. O PMDB se delicia. O PSB sonha em voar mais alto. PP, PTB e PDT buscam sobrevivência política em um cenário que não mais tem lugar. O que fazer? Escolher. Continue a escolher.

Meu partido não presta. Troque. Meu deputado nunca mais apareceu. Troque. Meu vereador não cumpriu. Troque. E não esqueça: todos eles estarão atrás de seu voto na maior cara de pau ano que vem. Todas estas informações circulam a nossa volta travestidas de noticiário e entretenimento em rádios, jornais, televisões, cinemas, livros, revistas, sites, torpedos. Tudo o que é mídia. Tudo o que diz mover o mundo.

Por isto que em determinada hora de nossa vida temos de escolher. O que queremos de fato? Nossa tranqüilidade econômica ou social? Que exemplos temos para fazermos uma opção por um meio de vida onde o meu único objetivo seja satisfazer meus desejos materiais? A política partidária brasileira é uma piada de extremo mau gosto. E nossa situação não é diferente da maioria dos países. O cataclismo ambiental que nos aproximamos tem exercido um poder insignificante na manutenção de nosso modo de vida. Está quente no Rio Grande. Muito quente. No Nordeste argentino a temperatura atingiu marcas superiores a 45ºc durante toda a semana. Fenômenos diante dos quais nem um pouco surpresos ficamos. E nenhum partido citado acima (PT, PMDB, PSDB, PTB, PDT, PP, PSB) tem mais do que palavras vazias sobre a questão ambiental. E nenhum candidato a sucessão de Yeda Crussius terá uma plataforma de projetos que resolvam os mais urgentes impactos ambientais gaúchos. Nenhum dos candidatos terá algo de fundamento a dizer sobre o tema. E teremos de escolher. O que fazer?

Continuar sendo um bom parafuso de geléia – homem ou mulher que não tem opinião e se desmancha à menor pressão ou interesse contrariado – ou ser um cidadão de fato. Desligar a TV, passear a pé, ler mais, conversar mais podem ser os melhores exercícios de política que uma comunidade poderia fazer. Ao invés de nos abastecermos na mídia de informações da mesma forma que na gôndolas do supermercado poderíamos pular etapas e discutir e fazer política nós mesmos. Na rua. É onde a verdadeira política está. Não é loucura, não. Os gregos fizeram isto por milhares de anos. E escolheram. Claro que a demagogia é o verme da democracia, mas nenhum sistema é perfeito.

O que é impossível é ser preservada a miséria estrutural do país (estado e município) em prol da manutenção do sistema de compra de votos e apropriação da máquina pública para fins (im)próprios. Um episódio. Durante uma cobertura eleitoral fui parar em uma localidade do interior da região de Santa Maria denominada Cafundó. Lá não tinha TV. Só rádio. E uma imensa desinformação. Mas os moradores de lá, todos produtores rurais, faziam política diariamente em casa, na associação, na igreja e até no bar. Lá colocavam em discussão seus pontos de vista e falavam sobre os candidatos (e por lá não apareceu ninguém pedindo voto). Não havia parafusos de geléia.

Agora no meio das nossas esnobes cidades quanta arrogância. Ficamos enfurnados em nossos cubículos ridículos que a especulação imobiliária nos vende como moradias (in)dignas e fazendo de conta que somos cidadãos. Cosa mui mala.

Em breve estaremos em 2010. E continuamos fazendo tudo exatamente como nossos pais.

Carlos Dominguez – jornalista

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