00: Koff, Old Boy e Drexler – por Luiz Alberto Cassol
Mais uma vez escreveria sobre outro tema. Mas, aceito a provocação, bem elaborada, no texto do colega de sítio claudemiriano, Rogério Koff. Concordo que Menina de Ouro, do ano 04, com a direção Clint Eastwood é um grande filme. Quando fala de assuntos diversos não concordo com a maioria das opiniões de Eastwood. No entanto, quando o caso é cinema, é o melhor diretor norte-americano na atualidade.
A partir do Koff resolvi retroceder e pensar em alguns filmes da primeira metade dos 00. Escrevo sobre cinco. Chego de imediato a Amores Brutos, produção mexicana de 00 dirigida por Alejandro Gonzáles Iñarritu. Três histórias que se cruzam. Violento ao revelar o momento-chave na vida de cada um dos personsagens. Encontros e desencontros. Traição. Amor e ódio. Tudo que uma novela mexicana tem e não sabe contar, Amores Brutos tem e revela numa narrativa alucinante.
Passo para o ano 02 e lembro da produção espanhola Fale com Ela, mais uma pérola cinematográfica de Pedro Almodóvar. Pura emoção para o público. Almodóvar é sutil e escancarado ao mesmo tempo. Um filme do Almodóvar é um filme de Almodóvar. Tem carimbo, marca própria. Ainda no 02, lembro de Edifício Master, documentário brasileiro dirigido por Eduardo Coutinho. Se alguém sabe entrevistar e dar voz a seus entrevistados, esse cara é o Coutinho. Master revela histórias diversas, singelas e fascinantes de alguns dos moradores do tradicional prédio de Copacabana, no Rio de Janeiro. Coutinho faz um documentário sem efeitos. Um cinema de histórias reais.
E da estética da violência lembrada em Amores Brutos chego a Old Boy, filme sul-coreano de 03, dirigido por Park Chan-wook . Talvez a produção mais violenta que eu tenha visto. Violência física e psicológica. Drama, suspense. Um thriller de tirar o fôlego. O melhor filme dos 00 até aqui. E eu não tenho preferência por filmes violentos. Gosto de um bom filme e pronto. É o caso. O cineasta Quentin Tarantino – um dos ícones da estética da violência e fã de Park – certamente deve ter dito aos seus colegas do Júri que presidia no Festival de Cannes: por que eu não fiz esse filme? Old Boy, foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri, em Cannes, em 04. Lembro da exibição no Cineclube Lanterninha Aurélio, na CESMA. Aplausos em cena aberta. O que não é comum em qualquer exibição. Filme na telona e algumas pessoas aplaudindo quando o segredo é revelado. De ficar de boca aberta. E como diz um personagem ao outro: o importante não é saber por que te prendi. O importante é saber o porque te libertei? Coisas dos seres humanos. Vinganças e perdas irreparáveis. Old Boy é o segundo filme da trilogia da vingança, criada pelo cineasta sul-coreano.
Estou em 04. Retorno ao texto do Koff e sua citação ao 11 de setembro de 01 e os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono. Sou de imediato levado ao Fahrenheit 9/11, do diretor Michael Moore. Documentarista manipulador de cenas e que não tem nenhum pudor ao editar/montar seus filmes. Para mostrar o que pensa ele não tem limites. É explícito. Nada de meio termo. Nada de ficar em cima do muro. Moore toma posição e vai até as últimas consequências. Fahrenheit é o exemplo do que o cinema documental é capaz de revelar ao mundo.
Encerro falando em música. Afinal, me perdoem os fãs que já o conheciam, foi nesse período que descobri Jorge Drexler, o genial músico uruguaio. Ele já tinha cinco álbuns antes de 00. Lançou mais cinco depois. Descobri Drexler por acaso. E, foi antes de sua canção Al otro lado del rio, ganhar o Oscar, em 05, pelo filme Diários de Motocicleta, dirigido pelo brasileiro Walter Salles. Foi o ano em que os organizadores do Oscar promoveram a palhaçada de colocar Antônio Banderas para interpretar a canção na cerimônia. Isso contra a vontade da própria equipe do filme. O fato é que Drexler superou tudo isso. Sua música é muito mais que tapetes vermelhos. Os anos 00 me proporcionaram ouvir um violão e uma voz que se casaram ao revelar palavras que são notas musicais. Então, Feliz Natal! E, fica aqui um pouco do Drexler, do álbum Eco, de 04: Hay escritas infinitas palabras: / Zen, gol, bang, rap, Dios, fin… / Hay tantas cosas / Yo sólo preciso dos: / Mi guitarra y vos / Mi guitarra y vos.
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