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Governador gaúcho assume que é gay e sua candidatura cresce na “terra de ninguém” – por Carlos Wagner

Ao tornar-se um alvo preferencial de Bolsonaro, Leite ganhou musculatura

Governador gaúcho Eduardo Leite entra no jogo pesado das eleições presidenciais do próximo ano (foto Reprodução)

Vamos começar a nossa conversa descrevendo o cenário de hoje (03/07) para a eleição pela Presidência da República em 2022. Em uma trincheira está o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), e na outra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). E entre as duas trincheiras perfilam-se pelo menos cinco ou seis políticos tentando tornar relevantes as suas candidaturas para serem uma opção entre Bolsonaro e Lula.

Um deles é Eduardo Leite (PSDB-RS), governador do Rio Grande do Sul. O espaço entre essas duas trincheiras chama-se “terra de ninguém”, um nome cunhado pelos soldados que lutaram na Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918). Há um filme chamado 1917, que recebeu 10 indicações para o Oscar em 2020 e ganhou três, que mostra com uma riqueza impressionante de detalhes a Primeira Guerra Mundial.

Fiz esse nariz de cera para facilitar aos jovens repórteres que estão na cobertura do dia a dia nas redações a visualização do atual cenário para a disputa de 2022.

Por que o governador Leite tornou-se relevante na “terra de ninguém”? O que vou escrever não é opinião. Vou relatar fatos que podem serem encontrados com facilidade nas nossas matérias. Bolsonaro nunca mentiu quem ele é para os brasileiros. Ele sempre fez pregação contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.

Não é por outro motivo que entre os grupos políticos que apoiam o presidente da República perfilam-se: nazistas, ocultistas e grande quantidade de oportunistas de todos os quilates. Lembro que um dos seus apoiadores, o atual deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), ganhou notoriedade e se elegeu em 2018 quando quebrou a placa Marielle ( vereadora do PSOL no Rio de Janeiro executada pelos milicianos em 2018).

Silveira está preso por ter ofendido os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pregado a volta da ditadura militar – há matéria na internet. O braço de Bolsonaro na “pauta de costumes” do seu governo é Damares Alves, pastora evangélica, advogada e ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

De um modo geral, Bolsonaro, uma vez ou outra, dispara contra os candidatos da “terra de ninguém”, principalmente o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP). Fez dois ou três disparos contra Leite. Mas agora a história mudou porque o governador gaúcho assumiu que é gay e isso o tornou um alvo preferencial dos bolsonaristas.

E ao tornar-se um alvo preferencial de Bolsonaro na “terra de ninguém” Leite viu a sua candidatura ganhar musculatura. Por quê? A “pauta de costumes” é uma das caixas-pretas do governo federal. A presença do governador gaúcho na disputa puxará para a pauta dos candidatos de 2022 o caso da execução, em 2018, da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes.

Marielle era uma mulher negra, nascida na favela da Maré, bissexual, e sua execução tornou-se notícia ao redor do mundo. A polícia prendeu como atirador que matou a vereadora e seu motorista o sargento reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa, 48 anos. E o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, 46 anos, como o homem que dirigia o carro de onde Lessa disparou os tiros. Os dois são milicianos e Lessa morava na casa (65/66) do Condomínio Vivendas da Barra, onde o presidente Bolsonaro tem o imóvel número 58.

A polícia ainda não chegou ao mandante da execução da vereadora. E o simples fato de Lessa morar no mesmo condomínio de Bolsonaro já é uma dor de cabeça para o presidente. Aqui no Rio Grande do Sul, o fortalecimento da candidatura do governador na disputa presidencial de 2022 já pressiona a Polícia Civil a dar atenção para o caso de Cláudia Hartleben, professora do curso de Biotecnologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que desapareceu em 2015. A professora foi vítima de feminicídio e os suspeitos não foram presos porque o corpo não foi encontrado. Leite foi prefeito de Pelotas de 2013 a 2017.

Ninguém sabe por quanto tempo vai durar a notoriedade nacional do governador Leite. Mas o que vimos é que ela trouxe à tona que a presença dele no cenário de 2022 traz para a discussão as questões da “pauta de costumes” do presidente e casos como o de Marielle. E no Rio Grande do Sul o caso da professora Cláudia, da UFPel, que até agora não mereceu atenção do governo Leite.

Em relação ao governador gaúcho, o ex-presidente Lula está em uma posição muito confortável porque, por enquanto, Leite é problema de Bolsonaro. Aliás, qualquer outro candidato da “terra de ninguém” que surgir vai ser atacado pelo presidente da República. Lula é hoje o candidato preferido nas pesquisas de voto. Como era em 2018, quando o então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal, Curitiba (PR), o prendeu na Operação Lava Jato por corrupção.

As condenações de Moro foram confirmadas em segunda instância por desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre (RS). Lula foi preso e ficou inelegível e Bolsonaro foi eleito presidente da República. Moro abandonou a carreira na magistratura e tornou-se ministro da Justiça e Segurança Pública do governo do presidente Bolsonaro.

No ano passado, Moro foi fritado pelo presidente e saiu do governo. O site The Intercept Brasil publicou mensagens trocadas pelo então juiz Moro com os procuradores da República no aplicativo Telegram durante o caso Lula. Os ministros do STF consideram ilegal o procedimento de Moro e Lula foi solto e inocentado – a história toda está disponível na internet.

Bolsonaro hoje corre o risco de não chegar ao fim do seu mandato porque é investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19, a CPI da Covid, existem mais 120 pedidos de seu impeachment na Câmara dos Deputados e a Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu um inquérito para investigar o presidente por prevaricação – há matéria na internet.

Hoje (03/07) é esse o cenário. A pergunta é: o governador gaúcho tem “bala na agulha” para se manter relevante nessa disputa?

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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7 Comentários

  1. Dudu Milk despertou a ira de certos setores da esquerda. Vermelhinhos acham-se donos de certas bandeiras, anti-raciscmo, feminismo, causa do pessoal do Alfabeto (LGBTQNMHC+, não sei a sigla desta semana). Têm o costume de dizer o que os outros podem e não podem fazer (c4g4m regras, é o stalinzinho interior falando).
    Captou votos na centro-esquerda, meio que marcou uma divisão entre o PSDB e o resto da esquerda. Apareceu como um garoto propaganda mais palatavel para a causa, é educado, fala mansa, evita confrontos e não sai guspindo em outras pessoas por ai.
    Na análise politica nacional a opinião do pessoal fora do RS importa, até porque proporcionalmente somos poucos eleitores. O que ficou da declaração do governador é bem simples: jogada politica. O resto é barulho, daqui uma semana é assunto do passado. Até porque é necessário ‘vender jornal’ e a internet gira num ritmo ainda mais acelerado.

  2. Dudu Milk, o impostor. Antes chamava ele de ‘vaselina’ (ele se acha um peixe ensaboado), agora pelas conotações já não é possivel. Por que um peixe ensaboado? A embalagem é nova, mas a politica é velha. Parece um magico mediocre de festa infantil, todo mundo ve como os truques são feitos. Tentar enganar os outros na politica é do jogo, mas sem sutilezas, de modo tosco, é ofensivo, é chamar o eleitorado de trouxa. Alás, tem muita gente por ai que acha que a população é uma criança a ser conduzida pela mão, gente que se auto-intitula lider, formador de opinião, ‘exemplo’. Otário não é exatamente a população.
    Dudu Milk fez uma jogada politica, espera determinado resultado. Não creio que virá na medida que ele espera.

  3. Fake News: Molusco com L. não foi inocentado! Os processos voltaram a estaca zero, tudo vai prescrever, mas não foi inocentado. Institucionalmente o judiciário perdeu credibilidade, simples assim.
    Prevaricação? ‘ detenção, de três meses a um ano, e multa’. Ou seja, crime que não dá nem cesta básica. Os milhões desviados no Petrolão dão em nada, um milhão do Calhordas, milhões no Amazonas não dão nada. Por motivos politicos tentam transformar o nada em tudo e o tudo em nada, para descredito do judiciário. Nem ai para as instituições, o que interessa é o ‘púdêr’.

  4. Marielle é problema dos cariocas. Professora da UFPEL é problema de Pelotas e Leite não tem absolutamente nada a ver com o assunto. Obvio. Tentativa de implicar o Cavalão na morte da Psolista foi mais uma tentativa de ‘emplacar narrativa’ capitaneada pela Rede Bobo e, até prova em contrário, não tem nada a ver com a história. Rachadinha é quase certo que existiu, mas é outra história.
    CPI é um circo, serve como desgaste eleitoral e uma tentativa de paralisar as reformas no Congresso, principalmente a administrativa (servidor público sem estabilidade, tendo que trabalhar, coisa da Globo).

  5. Briga de Crentes com o pessoal do Alfabeto é problema deles. Simples assim.
    Votar em qualquer politico, qualquer que seja o partido, por conta da pauta de costumes é uma rematada asneira. É aceitar a ‘cortina de fumaça’. É obvio que governo nenhum vai ‘mudar os costumes’, não é função do governo fazer isto, tende a gerar muito conflito estéril. Obvio também que os vermelhinhos não vão concordar, é uma das principais ferramentas deles. Usam os costumes como tapume e por trás fazem todo tipo de barbaridade no governo. Desculpa que inventaram para si mesmos: ‘é para o bem do pôvú’.
    Bolsonaro deve chegar ao final do mandato por motivo simples: sem polarização vermelhinhos não tem chance nenhuma. CPI? Já tem conclusões prontas desde a coleta de assinaturas, é um circo e pouca gente presta atenção na mesma. Simples assim.

  6. Corria o ano de 2000. Molusco com L. conversava com Fernando Marroni (está gravado) então candidato a prefeitura de Pelotas. Soltou a seguinte pérola: ‘“Pelotas é uma cidade polo né? Exportadora de veado”. Obvio que vem o mimimi do tipo ‘foi há muito tempo’, ‘tempos mudaram e ele mudou’. Obvio que não.

    https://www.youtube.com/watch?v=fVgtZY5oLGY

  7. Manual de Redação da Folha de São Paulo: ‘nariz-de-cera – Parágrafo introdutório que retarda a entrada no assunto específico do texto. É sinal de prolixidade incompatível com jornalismo. Na Folha, evite em qualquer tipo de texto e nunca deixe passar em texto noticioso.’ Tem gente que faz até falando no microfone. Estamos na epoca dos 140 caracteres, Twitter, se o jornalista não for objetivo a audiencia vai para outro lugar, não é como antes que existiam poucas alternativas.

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