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Julia Lopes de Almeida (1862-1914) – por Elen Biguelini

Julia Lopes de Almeida é a autora mais conhecida dentre aquelas apresentadas em nossa série. Pode ser chamada de “a Jane Austen brasileira” devido a quantidade de romances publicados, a quantidade de leitores que teve em vida e depois, e também a temática de seus livros. Segundo a grande conhecedora de autoria feminina brasileira Zahide Muzart (e criadora da Editora Mulheres), Guiomar Torrezão, que foi a primeira jornalista portuguesa, a considerava a primeira escritora brasileira (Cf. A introdução da edição da Editora Mulheres de “Pássaro Tonto”, 7).

Escreveu romances com finais feliz, passadas na cidade do Rio de Janeiro e descrevendo a sociedade carioca com primor. Cada detalhe demonstra a sociedade do início do século XX e apresenta um Rio de Janeiro plural, grande e completo.

Julia Valentin da Silveira Lopes nasceu no Rio de Janeiro, em 24 de setembro de 1862. Foi filha de um médico chamado Valentim José da Silveira Lopes (1830-1915), que depois se tornou Visconde de São Valentim) e de sua primeira esposa Antónia Adelina Amaral Pereira Lopes (1830-1895).

Em 1881 já publicou o seu primeiro texto, no periódico “Gazeta de Campinas”, depois expandiu para “O País”, do Rio de Janeiro. No final de sua vida, havia colaborado com mais de dez periódicos e quatro revistas femininas.

Em Lisboa, em 1887 publicou seu primeiro livro “Contos Infantis”, junto a sua irmã. Este livro foi usado por escolas brasileiras.

Neste mesmo ano se casou com o poeta, jornalista e escritor português Francisco Filinto de Almeida (1857-1945). Com uma família ilustrada, não estranha o fato de que além de seu marido e dela própria, dois de seus filhos tenham se tornado escritores. ´

Após o casamento passou a publicar sistematicamente em uma enorme gama de periódicos brasileiros e portugueses, bem como começou sua vasta obra em formato de livros.

Nota-se que em seus textos falava de todos os assuntos possíveis, incluso a situação da mulher, o abolicionismo e a república.

Participou, junto a outros escritores brasileiros, da criação da Academia Brasileira de Letras, no entanto, seu nome não figura na listagem da primeira reunião da Academia e lhe foi negada uma cadeira de imortal, unicamente por seu mulher – ainda assim, em respeito a ela, uma cadeira foi dedicada a seu marido.

Faleceu em 30 de maio de 1934 no Rio de Janeiro.

Nota-se que muito mais pode ser dito sobre esta autora que, felizmente, na atualidade voltou a ser valorizada. Podem ser encontradas muitas edições recentes de sua vasta obra. Mas é preciso mencionar o enorme trabalho da falecida Zahide Muzart, da Editora Mulheres, em publicitar e tornar acessível a obra de Julia Lopes de Almeida durante a primeira década do seculo XXI.

Obra:
“A árvore” (1916), crônicas.
“A casa verde” (1932), romance escrito junto ao marido. Apareceu em folhetim no periódico “Jornal do Comercio” entre 1898 e 1899, abaixo do pseudônimo A. Julinto.
“A falência” (1901), romance.
“A família Medeiros” (1893), romance. Apareceu em folhetim na “Gazeta de Notícias” em 1892. Trata da vida no interior de São Paulo e da transição do trabalho escravo para assalariado.
“A herança” (1909), teatro.
“A Intrusa” (1908), romance.
“A isca” (1922), composto por quatro novelas.
“A Silveirinha” (1914), romance. Apareceu em folhetim no “Jornal do Comercio” em 1913.
“A viúva Simões” (1897), romance. Apareceu em folhetim na “Gazeta de Noticias” em 1895.
“Ânsia eterna” (1903), contos.
“Contos Infantis” (1886), junto a ima Adelina Lopes Vieira.
“Correio da roça”, romance, 1913. Apareceu em folhetim em “O País” entre 1909-1910.
“Cruel Amor” (1911), romance. Apareceu em folhetim no “Jornal do Comércio” em 1908.
“Eles e elas” (1910), crônicas.
“Era uma vez…” (1917), conto infantil.
“Histórias da nossa terra” (1907), contos infantis.
“Jardim florido, jardinagem” (1922), sobre jardinagem.
“Jornadas no meu pais” (1920), crônicas.
“Livro das donas e donzelas” (1906), crônicas.
“Memórias de Marta” (1899), romance. Apareceu em folhetim na “Gazeta de Notícias” em 1891.
“O livro das noivas” (1896), crônicas.
“Pássaro Tonto” (1934), romance.
“Teatro” (1917), três peças de teatro.
“Traços e Iluminuras” (1887), contos.

Também fez ensaios, conferencias e traduções, além de ter colaborado em 17 periódicos luso brasileiros e em quatro revistas femininas.

*Seu pai nasceu em 13 de setembro de 1830 e faleceu em 7 de março de 1915, segundo seu tumulo no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Conforme “Find A Grave Index,” database, FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6KQZ-K7GV : 7 February 2023), Valentim José da Silveira Lopes, ; Burial, Lisbon, Lisboa Municipality, Lisboa, Portugal, Cemitério dos Prazeres; citing record ID 248371410, Find a Grave, http://www.findagrave.com.

Referências:
Almeida, Julia Lopes de “A Intrusa”. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994.
Almeida, Julia Lopes de. “A viúva Simões”. Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 1999.
Almeida, Julia Lopes de. “Pássaro Tonto”. Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2013.
Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 106.
Stasio, Angela di; Faedrich, Anna; Ribeiro, Marcus Venicio (org). “Dois dedos de prosa: O cotidiano carioca por Julia Lopes de Almeida”. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2016.
Telles, Norma. “Introdução A Família Medeiros”. In. Almeida, Julia Lopes de. “A Família Medeiros”. Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2009.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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