DO LEITOR. Chocante: prefeitura trata erro da vacina como “mais um buraco na rua”

Recebi, e por sua importância como opinião acerca de um fato relevante na cidade, reproduzo na íntegra a correspondência eletrônica do leitor Fernando França Sauthier. Acompanhe:

“Quando a vacina dói

Tomar a vacina contra a gripe H1N1 não dói nada. Basta deixar o braço descoberto, aliviar a musculatura, e, em questão de segundos, a pessoa submetida à agulha pode voltar tranqüila para casa. Esta é a rotina de praticamente todas as cidades do Brasil. Mas não é a de Santa Maria.

Aqui, na quinta maior cidade do estado, um grande número de pessoas não está tranqüilo depois de ser vacinadas. Tudo porque a aplicação do medicamento preventivo foi feita errada na rede municipal. Num exemplo inequívoco de má gestão daquele que é o setor público mais relevante para a população carente, agora, mais de 700 pessoas vão ter de voltar aos postos e serem revacinadas.

O que mais choca nisto não é nem a má aplicação da vacina, fato que já é gravíssimo. O que mais indigna é a soberba dos atuais gestores da Prefeitura. Até o momento, nem o prefeito, nem o secretário da saúde vieram a público se manifestar sobre o ocorrido. Tratam do assunto como se fosse mais um buraco da rua (entre os tantos existente) ou mais um bico de luz queimado.

Não pense, no entanto, que houve inércia no caso. O que os “cabeças” da Prefeitura fizeram foi jogar aos leões os profissionais da saúde que lá trabalham. Foram estes que tiveram que assumir a bronca e ocupar os meios de comunicação para tentar explicar o inexplicável. Enquanto a isso a população santa-mariense está assustada. Assustada porque desconfia que o erro não foi cometido só em duas unidades. Assustada porque desconfia que muito mais gente, além dos 700 casos confirmados, pode ter sido vacinada errado. Não haveria pânico se alguém explicasse. Bastariam explicações convincentes e as preocupações desmanchariam. Como não houve, paira o medo.

E pelo jeito este susto vai continuar, porque inexiste disposição para o esclarecimento. Não há o anúncio de medidas para tentar evitar que este fato volte a se repetir e também não se conhece nenhum tipo de responsabilização ou punição para aqueles que colocaram a saúde da população em risco. Sim, porque uma vacina aplicada errada submete a pessoa a riscos. Se o erro não produz reações diretas no organismo, provoca indiretamente. Isto porque as pessoas que se vacinaram acreditaram estar imunizadas ante a H1N1, quando de fato estavam completamente desprotegidas.

Mas e o Ministério Público onde está? No ano passado, o MP numa medida equivocada cancelou a Feira da Economia Solidária. O MP concebeu que havia risco do evento catapultar uma epidemia da gripe A. Engraçado foi que na época um punhado de outros eventos de maior poderio econômico puderam ser realizados normalmente aqui. Mas a pergunta é inevitável: o que fará agora o sempre combativo Ministério Público local diante da crise da vacina?

E o que está fazendo nossa Câmara de Vereadores? Fosse em outras épocas, discursos arrasa-quarteirão já teriam eclodido em série. Ah, e uma CPI já estaria em andamento. Em Santa Maria, de fato, a vacina contra a gripe A está bastante dolorida.

Fernando França Sauthier

Motorista”

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