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“É sempre amor, mesmo que mude” – por Daiani Ferrari

Dois casais em quatro bancos no ônibus. Nos da frente, dois jovens em pleno clima de descobertas. Risinhos, olhares tímidos e toques na mão, na perna, um carinho no rosto.

Nos de trás, um casal de, no mínimo, uns 40 anos de união. Os dois quietos, apenas aguardando o fim da viagem. Vez ou outra, a senhora perguntava se ele queria um refrigerante ou um pastel da marmita que havia levado. Mas era só. Nada de conversa. Nada de mimos. Ele respondia com a cabeça.

Vendo as duas cenas distintas, minha pergunta é uma só: O casamento (entendido como união, da forma que seja) acaba com o romantismo? Será que o segundo casal começou com clima romântico, idealizando o amor, morrendo de tanto chamego e com a dor que o sentimento proporciona?

Conversando e analisando casais com relacionamento mais antigo que o meu, notei que na maioria deles as gentilezas românticas foram se finando. Aos poucos ele parou de abrir a porta do carro, de puxar a cadeira, de lembrar as datas em que se conheceram, quando o amor e a união começaram. Os presentes pelos anos de união foram ficando escassos…

O amor não deve ter acabado, pois ainda estão juntos, mas onde foi parar a chama da paixão? Às vezes tenho saudade da vida de solteiro, não por algum problema no relacionamento, mas por medo do dia que acabar essa chama. Era mais seguro ser solteira. Era eu e eu e eu me deixar era pouco provável. Será que o amor acaba quando acaba a paixão?

Os dois casais que mencionei no início do texto tinham o mesmo rumo dentro daquele ônibus. Na chagada, ambos desceram. O mais novo saiu de mãos dadas, com corações nos olhos, cada um levando sua bagagem.

O casal mais velho não deu as mãos. O senhor se apressou para pegar as malas, dele e dela, e quando o fazia disse:

– Minha velha, não se preocupa, eu pego nossas malas. O médico disse que você não pode carregar peso.

E saíram os dois casais.

Deve ser como diz a música… “é sempre amor, mesmo que mude”.

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Um Comentário

  1. Eu sou mais cética, acredito no conformismo.
    No continuar porque afinal nem deve haver nada melhor.
    O ser humano precisa antes de tudo se descobrir, se conhecer. E isso muito pouca gente sabe, quase ninguém, mesmo! *e eu falo levando em conta o conhecimento filosófico e psicológico de individuo.
    enfim…
    por isso creio, porque eu também já conheci muitos casais de longa data bem como a/os amantes desses casais, que é tudo um “deixa a vida me levar, vida leva eu” dentro do casamento.
    Interessante, não? *Existem raras exceções!
    Para mim tudo se resume no fato de, quando somos aquela coisinha cheia de paixão achamos que o outro é a solução para todos os nossos problemas.
    Com o tempo vemos que não é, por isso nos conformamos.
    Raramente procuramos nos melhorar, nada.
    Torna-se uma amizade no máximo.
    O que falta não é paixão, mas sim amor próprio.
    Disso eu não ouço ninguém falar –
    aliás conheço muito poucas pessoas que de fato se amam… Sem medo, assim, no meio do ônibus.
    Eu acredito no amor póprio. Só para deixar bem claro.
    Ou seja, o problema não é o casamento, mas o que se conhece e no que se acredita de si mesmo e do outro antes mesmo de casar…

  2. Penso que o tempo e a convivência diária nos tornam mais íntimos, já somos nós mesmos e não há máscaras. E saber conviver nos dias bons e ruins, rir juntos e desabafar, são, para mim, a essência do verdadeiro amor.

    Sempre achei bonito ouvir de casais que estão há anos juntos: “Nós nos conhecemos só pelo olhar”. Confesso que, por muito tempo, não acreditei que o amor pudesse ser assim, tranquilo, sem sobressaltos, desconfianças diárias. Mas, hoje, penso que pode sim, ser cheio de carinho, sem ser dramático (rsrs).
    Abraços
    Fabi Machado

  3. Talvez o romantismo esmoreça, a labareda da paixão se acalme e, logo após, dê lugar ao companheirismo, à cumplicidade, enfim, quem sabe, novos estágios do amor. Conheço casais assim, um pouco diferentes do casal mais velho que relataste (ai está faltando algo,penso eu), mas que andam de mãos dadas, que se fazem singelos agrados, trocam telefonemas, tem flores nos vasos, enfim … Você já deve ter visto – e como é bonito de ver – casais de velhinhos andando de mãos dadas por aí, mesmo que raros, mas suficientes para manter a crença de que o amor é imortal, mesmo que se modifique em sua forma. Falei demais, fico por aqui senão vai virar tese. Um abraço.

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