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Rocha, chibata e água – por Luciano Ribas

Com o perdão dos meus quatro ou cinco leitores pela expressão chula, sonhos são como determinada parte da anatomia humana, cada um tem o seu (ou a sua). Portanto, nem eu posso condenar outras pessoas pelas expectativas ou desejos que projetaram para as suas vidas, nem elas podem fazer o mesmo com os meus, tenham sido realizados ou não.

No meu caso, eu quis (e consegui) algumas coisas relativamente simples, provincianas até: ser presidente da USE e coordenador do DCE, ajudar a eleger (e reeleger) com técnicas de marketing político o prefeito de Santa Maria, ser secretário de município, concluir o mestrado, ter sido professor (mesmo que temporário) da UFSM, já ter conhecido alguns cantos do mundo, ter uma agência de propaganda (que completou uma década em 2010). Tenho outras expectativas e sonhos, é claro, pois sem projetar objetivos é impossível evoluir, mas sua realização pertence ao futuro e citá-los não é pertinente ao momento.

Naturalmente, não realizei tudo o que desejei. Não fui, por exemplo, diretor de arte da Rocha Lobato, a última agência de Santa Maria que contou com o ambiente, o verniz e o glamour – por assim dizer – tão característicos da melhor fase da propaganda brasileira. Claro que antes, depois e concomitantemente à Rocha, existiram e existem empresas da maior qualidade e competência, mas nenhuma com o mesmo charme e savoir-faire que o Rogério conseguiu impor à sua agência – basta dizer que nunca mais alguém rodou pelas ruas de Santa Maria com um veículo de comunicação como a Rural da Rocha Lobato.

Dos meus sonhos pequenos, salto para outros mais nobres. Nessa semana são lembrados os cem anos da Revolta da Chibata, liderada pelo gaúcho João Cândido, que desejava abolir os castigos físicos na conservadora Marinha do Brasil. Preso e expulso da corporação à qual dedicou quinze anos de sua vida, viveu pobre e morreu sem realizar sua outra grande vontade, que era ser readmitido como marinheiro. Felizmente, sua memória foi resgatada e hoje um dos mais novos petroleiros brasileiros (construído em nosso país, diga-se de passagem) corta as águas dos mares estampando o nome do Almirante Negro e tendo como madrinha uma trabalhadora (também negra) que ajudou na sua construção. Fatos proporcionados por um governo que inverteu o sentido das coisas e mostrou que o Brasil é um país de todos, não de “meia dúzia por cento” como disse certa vez um trovador popular.

Outras águas, porém, parecem correr o risco de fluírem no sentido contrário ao da justiça. Nosso anfitrião nesse site – e apenas ele – noticiou um estudo que pode resultar na privatização da água que chega à casa dos santa-marienses, o que é algo muito sério. Na verdade, se de fato isso ocorrer, será um verdadeiro crime envolvendo a mais universal necessidade humana; pior, seria um crime que contaria com a anuência do prefeito municipal, que é quem responde pela concessão do serviço de distribuição de água.

Na verdade, pelo que foi noticiado, o crime já foi parcialmente cometido quando a Corsan abriu mão de uma soma impressionante de recursos do PAC 2 que seriam aplicados em Santa Maria, especialmente em Camobi. Um fato estarrecedor que precisa de mais esclarecimentos, para dizer o mínimo.

Se no apagar das luzes do seu desastroso governo a senhora Yeda não teve a elegância de um Rogério Lobato e tentou empurrar ao seu sucessor uma “bucha” como a privatização da nossa água, nos será necessária a coragem de um João Cândido para impedir que o líquido que sai das nossas torneiras vire um simples comércio nas mãos de sabe-se lá quem. Tal qual a dor da chibatada, esse outro crime não poderemos aceitar.

Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial e mestre em Artes Visuais pela UFSM. É sócio da Inox – Ideias Sempre Novas, agência santa-mariense de publicidade e propaganda, há dez anos.

Para segui-lo no Twitter: www.twitter.com/monteribas.

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4 Comentários

  1. Grato pela lembrança,Ribas. Se eu soubesse do teu sonho talvez a Lobato & Associados tivesse te chamado antes da transformação para Latino America. Mas aí foi outra história….

  2. Seria alguma empresa de coleta de lixo a interessada no nosso precioso líquido, que desce livre, leve e solto morro abaixo? Afinal, mudam-se nomes, siglas, mas as moscas(aparentes) continuam as mesmas. Acho que neste cipoal todo alguém tá nos vendendo Gato por Lebre. Detran, Pensant, Déficit Zero…ero…ero…ero…sei nâo…será que veremos alguma réstia de luz ao fim do túnel?

  3. Como um dos quatro ou cinco leitores que a modéstia do autor diz ter, me permito comentar o texto do Luciano. Óbvio que o texto é bem maior que apenas um de seus tópicos, mas sobre a água eu gostaria de dizer que talvez o maior crime nesta questão nem seja a vontade do prefeito de entregar o bem maior da vida nas mãos de mercenários (o que já seria reprovável). Mas sim, a maneira como se chegou até aqui.
    Tudo feito de maneira ardilosa e sorrateira. O que, por si só, comprova a imoralidade da coisa.

    Confirmando, apenas para Camobi, iriam 60 milhões do total que Schirmer mandou certamente para um outro município brasileiro onde o prefeito ainda não está comprometido com as grandes empresas do setor.

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