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GUERRA DO RIO. Os clichês da mídia, que noticiam o momento, mas encobrem o principal

O professor Luiz Eduardo Soares é, talvez, o maior especialista em segurança pública no Brasil, hoje, embora não esteja em cargo algum na esfera pública. Onde já andou, aliás, inclusive como Secretário Nacional de Segurança Pública, no início do primeiro mandato de Lula.

É professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenador do curso à distância de gestão e políticas em segurança pública, na Universidade Estácio de Sá. Enfim, é longo e denso o currículo desse mestre em Antropologia e doutor em Ciência Política, com pós-doutorado em filosofia política.

O que interessa aqui, é a avaliação precisa (e, o que é raro, também abrangente) que faz dos episódios do Rio de Janeiro dos últimos dias e, inclusive, a forma como a coisa toda é tratada pela mídia. E o que pode ou não acontecer a partir daqui. Aliás, sempre muito requisitado, e não foi diferente agora, Soares decidiu calar-se e não participou de nenhum programa, além de ter declinado todos os convites para entrevista.

Agradeço, desde já, a dica do leitor Ivo Cassol Jr, que me levou ao link do texto e que, por extenso, publico apenas uma pequena parte. Ela explica o porquê da recusa ao convite midiático e chama à reflexão e, quem sabe, ao conhecimento pleno do que ele pretendeu explicar. A seguir:

A crise no Rio e o pastiche midiático

… não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução…

… Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:

(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?

Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia.  Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?

Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria…”

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3 Comentários

  1. Prezados compas de comentários e Nobre Jornalista Careca da Madrugada,

    Primeiramente, a busca pelos 600 bandidos continua. A direita articula a teoria do acordo polícia X bandidos, pois essa foi a solução para os ataques do PCC em SP e a mídia não noticiou pelos motivos óbvios: eram favoráveis ao governo de SP e contra o governo federal.

    Sobre a grande questão das armas pesadas que entram pelas fronteiras do Brasil: Em sua grande maioria (pistolas e munições) são fabricadas no Brasil e exportadas para o Paraguai. Lá são compradas e contrabandeadas para cá.

    Aplicando a fria lógica grega temos o seguinte: alguém está lucrando uma barbaridade com os conflitos. Uma situação semelhante pode ser vista no filme “O Senhor das Armas” com Nicholas Cage.

    Portanto, ou aumentamos os impostos dos armamentos e munições e intensificamos a fiscalização das fronteiras. Ou isso tudo continuará. Ou seja, ou se apartemo da porquêra ou endireitamo a imundícia.

  2. @Baxinho da borracharia

    faço minhas as suas perguntas, companheiro baixinho….

    e lanço mais uma…

    ta na hora so sr ministro da defesa apertar o cerco nas fronteiras, por onde entra a droga e cuidar melhor do armamento do EB…confere???

  3. Tem coisas que eu não consegui entender, por exemplo :

    1)Porque estão todos loucos para encontrar os Bandidos se quando eles iam fugindo um helicoptero acompanhava tudo e só um foi morto?

    2)Porque foram repontando os caras tipo gado chucro de um lugar para o outro, onde pretendiam chegar com eles na Amazonia?

    3) Será que eles acharam que os caras da favela seguinte iam ficar esperando?

    4)E por último porque ninguém entrevista o Marcos Rolim?

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