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Consumidor: bullying e sociedade de consumo – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

O tema não deixa de ser importante, mas discursos reiterados acabam por banalizar o que se denominou de bullying. O fenômeno tem sido contraditoriamente utilizado toda vez que se fala em violência infantil, seja ela psicológica ou física.

Observamos o recente caso nos EUA do menino Casey Heynes: o gordinho que após uma série de insultos, constrangimentos, resolve retribuí-los com murros e pontapés. Resultado: o gordinho virou celebridade, a mídia o tratou como herói, um marco anti-bullying.

Em justificativa ao caso de Realengo, episódio caótico ocorrido na semana passada, o bullying deixou, entre suas vítimas, crianças inocentes, além do próprio assassino.

Ora, as cenas da revanche reafirmam a violência e que por certo, não façamos discurso em mérito à hipocrisia, pois um peso não pode ter duas medidas, também se caracterizam como bullying.

E se o assassino de Realengo fosse o gordinho americano, que em troca aos murros, municiou-se de uma pistola?

Minha intenção aqui é olharmos a temática do bullying em um outro contexto, sob o prisma da sociedade de consumo.

A sociedade de consumo encerra em si uma potencial contradição, valoriza o fator humano no processo de criação e, simultaneamente, desqualifica os que não têm acesso aos inventos. Faz da impossibilidade de aquisição de produtos instrumento de exclusão.

A relação possível que podemos construir entre o bullying e a sociedade de consumo é bem tênue, eis um alerta. Crianças e adolescentes são instigados a consumir produtos e marcas que têm por objetivo qualificá-los.

Neste contexto, um simples tênis pode se transformar em passaporte para o time dos incluídos; ou a ausência dele te faz merecedor de piadas e violência. 

Para Zygmunt Bauman criamos um espaço em que se convencionou associar a aquisição de mercadorias e bens de consumo a status e felicidade. Nossas necessidades, cada vez em maior número e cada vez mais necessárias, pelo menos no que se convencionou como necessidades ‘básicas’, condicionam a um determinando padrão de vida, que passa a diferenciar as pessoas pelo que elas têm, pelo que elas usam.

O assunto não se esgota, que seja possível a reflexão. Não tenho verdades, mas apenas uma inquietação sobre o tema. Suspeito que tenhamos nos tornado mercadoria da sociedade de consumo, pois ela dita as regras e passamos a cumprir. Tenho, a cada dia, a vaga (in)certeza que deixamos de ser consumidores e passamos a ser consumidos. A pensar!

OBSERVAÇÃO: Aos leitores que queiram sugerir temas para artigos, aguardo-os no email [email protected] ou Twitter @vitorhugoaf

Grande abraço a todos!

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