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Um passo (à frente?): mais que R$ 2,30 – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

(continuemos…) Em artigo anterior trouxe à baila tema que, no mínimo há 20 anos, clama por iniciativas. Negligenciado aqui, acomodado ali, mas que até então não contemplou pensamento capaz de apontar melhorias concretas e efetivas.

Façamos novamente a discussão, tomem seus assentos, o assunto continua sendo o transporte público municipal. A diferença do texto da semana passada está em centavos, exatamente R$ 0,10. Este, o ponto de divergência que culminou em movimentos, palavras de ordem, latas e barulho, que chamaram atenção para questões que transcendem os R$ 2,30.

Ainda que tenhamos embarcado neste assunto pelo não aumento, creio que tal como o trajeto do ônibus, tomamos por oportuno outras questões que foram adentrando ao nosso coletivo.

Trazer à tona os temas que permeiam o transporte público é assunto para mais de uma viagem, como disse no texto anterior. Em analogia possível, tratar o transporte público é partirmos para uma viagem em atraso, que lotado, trafega lentamente por pontos e partidas já conhecidas.

Nossa missão é deixarmos de sermos somente passageiros. Desconfio que tenhamos virado mercadoria, e tal como em um caminhão de melancias, vamos acomodando-nos ao andar da carroça. Quem sabe seja esta uma boa representação. Não diferente de um caminhão de carga, os ônibus acumulam os usuários, que enlatados a quatro rodas, escutam a sinfonia de latas, daquilo que não deveria ser transporte, pois estão mais para sucatas.

Menção ao título do texto, somos mais que R$ 2,30, já posto na Constituição Federal o legislador tratou de cuidar da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do próprio Estado. Concordo que é um princípio tão amplo, como digo aos meus alunos, capaz de ser, ao mesmo, tempo um tudo e um nada. Por teimosia, sigo acreditando na primeira ideia.

Ainda em leitura do que a legislação expõe, o Código de Defesa do Consumidor no art. 6º, X, faz menção aos direitos básicos, entre eles a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos. Aqui repito, somos mais que R$ 2,30.

Não tenho por objetivo questionar, em primeiro plano, o valor da passagem, mas sim a qualidade do serviço, esta é a bandeira que sustento. Porém, não vejo às claras as planilhas que fundamentam o aumento. Se por um lado são consubstanciadas, entre outros, no valor correspondente ao combustível, faço minhas as palavras que um dia desses ouvi, nunca vi um ônibus abastecendo em um posto. Por certo, o valor do combustível apontado na planilha de custos não é o pago pelas empresas.

Deixo aqui o meu segundo apontamento sobre o tema, a pauta não se encerra aqui, além de falarmos em transporte público, é essencial encaminharmos a temática sobre a qualidade do serviço: cumprimento de horário, tratamento a idosos e portadores de necessidades especiais, informações claras e estudo constante sobre melhorias são pontos pertinentes.

Acompanhei a manifestação do Diretório Central dos Estudantes no último sábado. Ao observar, ouvi aqueles que perguntavam onde estava a polícia, outros questionavam o movimento, indagando se tudo aquilo era por R$ 0,10; enquanto tantos outros, simpáticos à manifestação, misturavam-se aos curiosos, à imprensa e aos protagonistas: os estudantes ao centro e a grande fila de ônibus que desceu Rio Branco abaixo.

De tudo até agora já feito, considerações que creio serem positivas: a) a criação na Câmara de Vereadores da Comissão Especial do Transporte Público; sobre esta, já disse e repito, que só vejo proveito se apresentar propostas concretas, que ultrapassem as colocações de cunho político, pois partidos anteriores tiveram oportunidade e perderam o ônibus, em matéria de negligência todos têm telhado de vidro, melhor que se tenha posição antes de ser oposição; b) as audiências públicas organizadas por tal Comissão, promovidas em bairros e localidades de Santa Maria; aqui encontramos espaço para ouvir a comunidade; c) a conversa do Prefeito e a direção do DCE/UFSM em seu gabinete, não me recordo de situação semelhante; d) o Grupo de Trabalho em Mobilidade Urbana da Agencia de Desenvolvimento de Santa Maria, espaço adequado para planejarmos o futuro.

O importante é evoluirmos no debate, deixo aqui o grito dos estudantes, e que se faça uso a outras pautas: você aí parado, também é explorado! Registro, somos mais que R$2,30!

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Um Comentário

  1. Mais uma vez Vitor Hugo se supera e consegue expressar tudo que a população de Santa Maria tem vontade de falar,mas não pode por falta de espaço na mídia.Excelente artigo,que em poucas palavras descreve tudo que há muitos anos vem se estendendo,sem solução.
    Vitor Hugo em seu artigo valoriza os usuarios do transporte público em Santa Maria,e os retrata de forma respeitosa,como há muito não vinha sendo feito.Tenho certeza que todos moradores de Santa Maria se sentiram muito justiçados por um artigo tão bem escrito e tão oportuno,pois vem trazer um pouco mais de luz a uma questão tão polêmica.
    Parabéns Vitor Hugo,e mais uma vez muito obrigado por nos brindar com tão excelente artigo.Aguardamos a publicação dos demais,que por certo virão e serão tão ou mais excelentes que estes.

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