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Dança das cadeiras… – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

A constituição do Estado, na ideia de Rousseau, indaga a liberdade do homem ao construir a liberdade da população que lhes pertence. A República Estado encontra na criação de leis a sua finalidade primeira na representação da liberdade social, da vontade dos cidadãos, que passa a ser desempenhada pelos que confiamos a representatividade.

O Estado organizado em seus três poderes: executivo, legislativo e judiciário; confronta os anseios da população à falácia constitucional que estes são harmônicos e independentes entre si. Distante do texto legal, os poderes estão cada vez mais atrelados, harmônicos sim, mas também comprometidos um ao outro.

Não raramente, temos visto manifestações, confesso que muitas delas genéricas, sobre aqueles que fazem da política a sua vida. Não vejo nenhum demérito nisso, no ser político, o que ocorre é o descrédito da política, cada vez mais acentuado, o que nos leva a constatar que a crise política é a crise do pensamento impotente frente à própria crise.

Quem não lembra da brincadeira infantil que nomeia este texto? Postos em círculo, anda-se na volta, circula-se às cadeiras, retiram-se os que perdem, diminuem-se os assentos, sobra o ganhador; encerrada a brincadeira, remontam-se as cadeiras e volta-se a correr.

As cadeiras e assentos do texto não são os da brincadeira infantil, por mais que seja possível a analogia, falo aqui da corrida às cadeiras nas Câmaras de Vereadores.

O aumento do número de vereadores desperta a discussão sobre a sua necessidade. O tema é pertinente e junto às questões traz à tona uma das funções investidas na vereança, a representatividade.

O sentimento de desnecessidade de mais vereadores está atrelado ao reflexo das atitudes de alguns que lá estão, do sentimento de não nos sentirmos representados. É preciso avançarmos no debate da qualificação da representação legislativa. A política está eivada de utopias, simbolismos desgastados envoltos à inoperância, ineficiência, às amarras e ranços políticos, que oprimem os anseios sociais, cada vez mais presentes tão somente em promessas, descomprometidas à prática. A crise da política é tamanha que compromete a própria democracia.

Não podemos mascarar os fatos, e não entendo por que os políticos não se envolvem em resgatar a dignidade da sua função. Que seja a política reconhecida pela sua importância, e não mais desprezada pela sua inoperância. Incomodo-me ao ver o descrédito das pessoas, o político virou uma espécie de alienígena, em que primeiro se duvida de tudo e todos, e faça-se o convencimento contrário.

A desaprovação generalizada para não aumentar o número de vereadores é reflexo do desgosto, da falta de comprometimento nosso com a política, pois se assim ela está, é também por culpa minha, sua, nossa. Se tivéssemos bons exemplos, não hesitaríamos em defender o aumento no legislativo. Optamos por nos omitir, ou ficar na critica vazia, ao fazer algo concreto.

Aqui o recado àqueles que embarcam numa vida de diálogo com a experiência humana deveriam abandonar todos os sonhos de um fim tranquilo de viagem. Toda sua felicidade se encontra na própria jornada, eis o que nos ensina Zygmunt Bauman.

Assim, se a nossa felicidade está na jornada: para onde caminhamos?; onde está a nossa felicidade em caminhar?. Temo que tenhamos esmorecido, desanimados. Constatamos que nossas ideias são utópicas, distantes do real, que não passaram de poesias, encorajadas nos versos e prosas daquilo que virou hino, música aos nossos saudosos ouvidos, que já ecoaram os gritos de uma luta possível, mas perdida, enfraquecida em um exército desanimado.

Voltamos a Rousseau quando disse que os governantes não devem ser numerosos para não enfraquecer sua função, pois quanto mais atuam sobre si mesmos, menos se dedicam ao todo.

A liberdade dita no início deste texto é o que nos faz homens, e também o que nos faz concluir, que renunciá-la é renunciar à própria qualidade de homem. Aqui, sobrou-me o verso de uma música e os ditos de um pensador, façam os (e)leitores as suas conclusões: da música – as vezes eu me sinto uma mola encolhida; do pensador – tente mover o mundo, o primeiro passo será mover a si mesmo.

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2 Comentários

  1. A respeito deste tema, a primeira vista, apresenta-me um paradoxo: aumento da representatividade x aumento de funcionários ineficientes na máquina legislativa.

    Relativamente a primeira opção, incorre o princípio quantitativo: quanto mais, melhor. Entretanto, vereador não é coleção de figurinhas. Por isso que tendo a defender um critério qualitativo.

    Mantenham-se os 14. Escolham-se melhor os representantes. De que adiantam mais 7 edis na Câmara a propor projetos de nome de Rua? Preferível que não se aumentem as cadeiras, mas que se melhore a dança!

  2. Bravo, Vitor.
    Mais um tema abordado com coerência e limpidez de pensamento. Também tenho este temor, que o descrédito na classe política acabe por afastar o cidadão do que realmente interessa, a política em si. Lembrando que ainda existem bons políticos, e que cabe a todos nos reverter o quadro que se apresenta.

    Grande abraço.

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