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O covarde, o gritão constrangido e o devedor – por Luciano Ribas

Na política um dos choques mais devastadores ocorre entre a “ética dos princípios” e a “ética das responsabilidades”. Para exemplificar, recorramos a um exemplo direto: um governo pacifista pode opor-se até o fim a um conflito armado, mas pode ser levado a ele pelo desenrolar dos acontecimentos.

Num terreno menos ideal, onde os princípios são mais “elásticos” e as responsabilidades menos “claras”, as coisas seguem lógica semelhante, acrescida de outros ingredientes, como o puro interesse. Na recente votação da CIP, por exemplo, princípios e responsabilidades até poderiam ser invocados para justificar a transfiguração de uns e outros, mas não passariam de jogo de cena para encobrir os tais interesses.

Seguindo essa lógica, creio que todos concordam que a lacrimosa fuga do vereador João Carlos Maciel não pode ser qualificada de outra coisa que não seja “covardia política”. A um cidadão que possui milhares de votos simplesmente não é dado o direito de omitir-se, ao menos se ele deseja que na sua atividade parlamentar coexistam princípios e responsabilidades. Na realidade, creio que a covardia é o pior defeito de um homem e serve para definir-lhe frente ao mundo. Eis, assim, o covarde, o primeiro ser substantivado no título deste texto.

Também acho que existe concordância que foi prazeroso ver Cláudio Rosa, uma espécie de “vereador histrião”, engolir as palavras ditas em dezembro de 2006 sobre a CIP. Seu constrangimento era inegável, sua condição de suplente garroteado ao voto evidente, a consciência do ridículo da situação vivida absolutamente ululante. Não posso dizer outra coisa que não seja bem feito e, assim, declarar revelado nosso “gritão constrangido”, o segundo personagem citado no título.

O terceiro, a quem chamei de “devedor”, merece mais cuidado e atenção na análise, pois trata-se de um político com inteligência e capacidade superiores. Decididamente o prefeito Schirmer não é um covarde e nem um gritão, mas encontra-se hoje na condição de duplo devedor.

Não me refiro ao ano inicial do seu mandato, fraco sob qualquer análise. Aliás, se fosse sintetizado, teríamos o aumento ao funcionalismo (a comprovação de que seu antecessor deixou a prefeitura numa boa situação financeira), algumas voltas de balão (ao lado do onipresente secretário de praças e jardins) e um novo tributo (solução pouco digna de um governo criativo).

Desejo, na verdade, fazer referência a fatos que chamo de “dívidas” por faltar-me um termo mais adequado: a primeira, sua própria eleição; a segunda, a condição de fazer o melhor governo da história de Santa Maria (cujo ano zero não é 2009, ao contrário do que pensam alguns).

O prefeito Schirmer deve sua eleição ao seu vice, José Farret, e isso é um fato objetivamente comprovado pela comparação entre a pesquisa divulgada no Diário de Santa Maria em julho de 2008 e o resultado eleitoral de outubro. No momento da divulgação do levantamento, pouco mais de seis pontos separavam o futuro vencedor do deputado Paulo Pimenta; com o início dos programas eleitorais e a competente exposição do candidato a vice, houve a informação e o convencimento de parte significativa do eleitorado farrezista que a aliança existia e era “pra valer”. Meia vitória, portanto, credite-se ao Dr. Farret.

Já a possibilidade real de fazer o “melhor governo” de todos os tempos é uma dívida que Schirmer tem para com o ex-prefeito Valdeci. Em rápidas palavras, o antecessor deixou para o atual prefeito a melhor das heranças: situação financeira equilibrada; obras do PAC encaminhadas (que exigem apenas um mínimo de competência para serem inauguradas com pompa e circunstância); recursos milionários decorrentes de um processo judicial contra a Corsan reavivado no governo passado; polpuda verba do empréstimo do Banco Mundial, viabilizada pelo projeto técnico construído na gestão Valdeci; credibilidade da prefeitura junto aos órgãos públicos e privados, um bem imaterial com evidente valor; por fim, a demonstração prática de que o tempo de derrotas em Santa Maria ficou para trás, um patrimônio também intangível, mas capaz de definir os rumos de qualquer lugar.

Não é possível encerrar um texto escrito em 31 de dezembro sem os tradicionais votos de Ano Novo. Assim, para os três do título tenho votos bem específicos: ao primeiro, “um pouco de coragem”, como diria Cazuza; ao segundo, auto-crítica, ou o popular “semancol”; ao terceiro, sabedoria para desvencilhar-se de alguns estorvos que atrapalham seu destino de realizador. Aos demais santa-marienses, sejam eles natos ou adotados, paz, prosperidade e muita felicidade. Merecemos todos.

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Um Comentário

  1. Bah, Luciano, tú foste na pleura desses viventes!!! Mas sintetizas, com muito mais polidez, o que eu gostaria de escrever e vociferar contra esses três “personagens”. O “Yellow John” não tinha o direito de fugir da raia.Com ou sem lágrimas, faltou com o respeito aos seus mais de oito mil eleitores e à dignidade do mandato que lhe foi outorgado.Não teve criatividade nem para inventar uma desculpa.Se esse povo tiver memória e indignação, sepultará a carreira política do nobre radialista. O Cláudio Rosa afogou-se na mediocridade e no capachismo. Tem carreira cinematográfica promissora no papel de papagaio de pirata.Já o nobre Prefeito, rapaz, que papelão!!! Mentir é feio, já dizia minha vovozinha. “Se achar” é tão feio quanto mentir.E mais ridículo.Ou vou acreditar que Santa Maria, neste primeiro de janeiro, está completando um aninho.Parabéns prá voce… Brincadeiras à parte, um abraço e feliz 2010.

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