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Na folia com a possível renúncia de Teixeira, os bobos apareceram – por Anderson Santos e Dijair Brilhantes

Coluna Além das 4 linhas –  edição da semana de 23 de fevereiro de 2012 – por Anderson Santos (editor) e Dijair Brilhantes

Nas vésperas da festa do Rei Momo, surgiu um forte boato que mexeria com o futebol brasileiro: Ricardo Teixeira iria renunciar a presidência da CBF! E não era notícia vinda das empresas “que dão traço”, liderados por Juca Kfouri, até as Organizações Globo esperavam por isso.

Os presidentes de federações estaduais também esperavam, com direito a entrevista em Globo Esporte local sobre quais seriam as exigências para o seu substituto. Divergência entre grupos, São Paulo X Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, assembleia convocada com urgência,… Mas ele não saiu do cargo. E agora?

ELE DESISTIU NO MEIO DO CAMINHO?

O processo de mudanças na Confederação Brasileira de Futebol começou no final do ano passado, com a chegada de Ronaldo ao Comitê Organizador Local da Copa do Mundo FIFA 2014. O comando das obras da nova sede da CBF também foi repassado.

No final do ano, a licença do cargo por 45 dias nos apresentou José Maria Marín, vice-presidente da CBF na região Sudeste, o mais velho deles. Na premiação da Copa São Paulo deixou o seu recado ao colocar no bolso uma das medalhas…

Na volta ao cargo, a demissão de Marco Antonio Teixeira, seu tio, do cargo de secretário-geral da entidade após duas décadas trabalhando ao lado do sobrinho – com uma polpuda indenização por conta do tempo de “trabalho”.

No campo pessoal, no fim de 2011, o mandatário da CBF começou a se desfazer do seu polpudo patrimônio. Vendeu todo o gado que possuía na fazenda Santa Rosa, em Piraí (RJ), arrecadando cerca de R$ 2 milhões; encerrou as atividades do Laticínio Linda Linda; o restaurante e a boate que possui no Rio de Janeiro pararam de funcionar; e até mesmo o luxuoso apartamento que vivia no Leblon foi vendido.

A estratégia do cartola parece bem clara: desfazer-se do patrimônio e enviar todo dinheiro ao exterior, evitando que a justiça mande bloquear seus bens. Teixeira já teria adquirido um apartamento em Paris e uma casa em Boca Raton, na Flórida, onde iria morar com a sua atual esposa e a filha de 9 anos, que estaria sofrendo com piadas na escola.

Para esquentar ainda mais a expectativa para o dia 16 de fevereiro, “dia do saio”, a Folha de S. Paulo divulgou informações de que Teixeira teria ligações com a Alianto, empresa envolvida em irregularidades na organização de um amistoso da Seleção em Brasília, em 2008.

Todos, inclusive os presidentes de Federações, esperavam que ele renunciasse até a sexta-feira passada (17), com nota oficial no site da CBF. Porém, o que se viu foram três rápidas notas afirmando que o presidente voltaria ao posto após o Carnaval. Além de uma resposta direta a Juca Kfouri, que publicou em seu blog que Sandro Rosell, diretor da Alianto e atual presidente do Barcelona, depositou R$ 3.800.000 na conta da filha de Teixeira. Sem que ninguém negasse o fato, a CBF reclamava de terem citado uma menor de idade.

Há quem pense que a ameaça de saída de Teixeira possa ter sido uma tática para descobrir com quem ele poderia contar no futebol brasileiro – ou até uma maneira de tripudiar de adversários, caso de Juca Kfouri. Verdade ou não, conseguiu mostrar divergências entre os presidentes de Federações. 

A BRIGA PELA POSSÍVEL SUCESSÃO

Todos esperavam pela queda do ditador. O fim da semana que antecedia as festas do Rei Momo era de muitas expectativas. Os presidentes de algumas federações estavam que eram só empolgação, a ponto de o presidente da Federação Gaúcha de Futebol comparecer ao Globo Esporte local para falar sobre a sucessão na entidade, mesmo que Teixeira não tivesse renunciado.

O “medo” de algumas federações, liderados por Francisco Noveletto (FGF), Rubens Lopes (da FFERJ) e Ednaldo Rodrigues (FBF), era que a CBF virasse um “território paulista”, após ter Andrés Sanchez como diretor de base e a possibilidade de José Maria Marín completar o mandato até 2015, tendo Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista, como secretário-geral da CBF.

Noveletto preparava um movimento para exigir novas eleições, já que o comando de Ricardo Teixeira foi prorrogado até 2015, sem eleições. Por mais que o regimento interno da entidade exija que o mais velho dos vice-presidentes assuma e complete o mandato – Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, é o segundo mais velho – a “justificativa” dele era que ampliou-se o mandato de Teixeira, não de todos os vices…

O TIRO SAIU PELA CULATRA

A pressa pública pelo lugar na CBF pode ter sido um tiro nos pés. Antes de viajar, Teixeira ligou para todos os presidentes das federações, menos os que se preparavam para indicar o seu substituto em eleições.

Estes chegaram ao ponto de convocar uma assembleia para discutir o assunto no dia 29, mas como o presidente não saiu, cancelaram a ideia. O que Teixeira fez? Convocou uma assembleia por e-mail para o mesmo dia, no final de semana do Carnaval.

O medo percorre o país. Afinal, a diferença do que ganha a CBF para o que ganham as Federações é abismal, mesmo para o caso das mais poderosas.

Para se ter uma ideia, em 2010, enquanto as 13 mais importantes federações do país tiveram receita, juntas, de R$ 70 milhões, a CBF arrecadou R$ 270 milhões, e com superávit, ao contrário das suas afiliadas.

A imensa maioria das federações depende do repasse anual de cerca de R$ 400 mil reais da CBF para poder funcionar. Estão nas mãos de R.T. política e financeiramente. 

Fato é que Teixeira pode reconhecer os seus aliados. A maioria dos presidentes de federações do Nordeste optaram por esperar a possível renúncia e criticaram quem já articulava o enterro antes de alguém morrer.

Em meio ao carnaval da Gaviões, o “super sincero” Andrés Sanches declarou que Ricardo Teixeira só sai da CBF no dia que o Sargento Garcia prender o Zorro.

Ronaldo foi outro que disse não saber de nada, no dia em que recebeu a companhia de Bebeto – deputado estadual pelo PDT no Rio – no COL, cargo que Cafu renegou.

Continuam fortes os rumores que Teixeira sairá nos próximos dias ou meses. Independente disso, o “truque” de soltar os boatos permitiu definir melhor quem são seus aliados no futebol brasileiro. Assim, quem assumir seu lugar, em 2012 ou 2015, terá totalmente o seu apoio e estará mais próximo de seguir o caminho aberto pelo seu ex-sogro João Havelange e seguido por ele nestes 23 anos.

QUEM ESCREVE:

Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]), Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo

Twitter da coluna: @alem_das4linhas

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