Seria estranho se não fosse no Flamengo – por Anderson Santos e Dijair Brilhantes
Coluna Além das 4 linhas – edição da semana de 9 de fevereiro de 2012 – por Anderson Santos (editor) e Dijair Brilhantes
O espaço desta coluna por diversas vezes foi preenchido com assuntos relacionados ao Flamengo. Infelizmente pouco pelo futebol e muito pelo que ocorre além das quatro linhas. Neste início de 2012, como imaginamos na primeira coluna do ano, não seria diferente. A fritura de Luxemburgo, com grande ajuda da “estrela” da companhia entrou na história desse amado e conturbado clube.
No emprego, mas já sem ele
O que era um boato, virou (quase) certeza horas antes do importante jogo pela Pré-Libertadores – com direito a substituto contratado –, foi confirmado na quinta-feira (02). A demissão do técnico Vanderlei Luxemburgo seria estranha, mas se tratando de Flamengo tudo pode acontecer.
Todos ficaram curiosos esperando o final do jogo do Flamengo contra o Real Potosí pela Pré-Libertadores. O motivo não era entrevistar Ronaldinho, autor de um golaço que carimbou a passagem para a fase de grupos do torneio sul-americano. Muito menos o atacante Deivid, que apesar de estar no clube, acabara de entrar na Justiça para receber dezenove meses de salários atrasados.
O sotaque característico do técnico Vanderlei Luxemburgo era aguardado por dezenas de repórteres na entrevista coletiva ao final do jogo. Do menor meio de comunicação à Rede Globo de Televisão, repórteres queriam as sinceras palavras de alguém que entrara em campo já demitido.
Para a surpresa geral, afinal já era dada como certa a demissão de Luxemburgo e até a contratação de seu substituto, Joel Santana, não se viu o bom e velho Luxa na entrevista. Pelo contrário, um tom altamente conciliador e pensando no jogo do Carioca, dois dias depois.
Algo poucas vezes visto se espalhou naquele grupo de jornalistas: revolta. Fontes seguras da diretoria do Flamengo davam conta de que a demissão ocorreria depois do jogo, mas ninguém, da presidenta ao diretor de futebol, deu as caras para confirmar ou negar a informação.
Até o jornalista global Érick Faria exigiu que o clube respeitasse os profissionais, apontados como vilões numa história que o bom trabalho de apuração, e seriedade, diziam o contrário que a omissão da diretoria flamenguista apontava.
A decisão
A presidenta do Flamengo passou a semana dizendo que tudo não passava de boatos, que Ronaldinho não pedira a cabeça de Luxa no prato, que mal conversava com ele,…
Porém, na quinta-feira o discurso mudou. Vanderlei só passou 20 minutos no campo de treinamento pois fora convocado para uma reunião com a presidenta e diretores do clube.
Horas depois, Patrícia Amorim comunicava à imprensa que a vitória sobre o Real Potosi encerrou um ciclo no clube. Estariam demitidos o treinador, toda a sua comissão técnica e o gerente de futebol Isaías Tinoco. Além do diretor Luiz Augusto Veloso ter pedido demissão.
A ex-nadadora Patrícia justificou que “o clima não estava bom”. Mas o que fazer quando a estrela da companhia exige que só ficaria caso o chefe fosse mandado embora? O beijo num treino dias antes acabou gerando a metáfora com Judas. Nada mal…
Foi para isso que ele veio?
Quando contratado, após vencer um acirrado “leilão” contra Grêmio e Palmeiras, Ronaldinho Gaúcho chegou para ser a estrela maior do elenco rubro-negro. Com direito a festa na apresentação, com discurso de um “novo” flamenguista, o R-10 levou os torcedores ao êxtase.
No Carioca, ele deu o ar da graça. Num time bem montado, foi o capitão do título. O alvo agora era o Campeonato Brasileiro, mas, mesmo com uma série de tropeços dos ponteiros R10 e cia. viram o Vasco, que teve as atenções divididas com a Copa do Brasil e a Sul-Americana, ser o carioca mais próximo do título. Sobrou uma vaga na Pré-Libertadores.
Um ano depois de sua contratação, o gaúcho teria sido um dos principais motivos da discórdia entre técnico e jogadores. Com elenco considerado de alto custo financeiro, o Flamengo iniciou 2011 como uma das forças do futebol brasileiro, mas demorou muito para conseguir patrocinador master e, para piorar, sem qualquer garantia do mesmo para 2012.
Boa parte do salário do “craque” está atrasada há mais de 5 meses, o que acaba impedindo o clube de cobrar atitudes profissionais do camisa 10. Na esteira, outros atletas, que recebem seus salários diretamente do clube, estão com pendências, a ponto de Alex Silva abandonar o barco e Deivid processar o clube. O salário de Luxemburgo também estaria atrasado desde novembro de 2011.
É a volta dos bons e velhos tempos em que o Fla podia contar com um time com jogadores como Alex, Edilson, Denilson e Vampeta, mas não podia pagá-los. O que fez o irônico volante, campeão do mundo com a Seleção em 2002, criar a excelente frase: “eles fingem que pagam e eu finjo que jogo”.
Técnico com vida de boleiro
O que diz respeito a futebol dentro das quatro linhas, Vanderlei Luxemburgo é sem dúvida um dos melhores do Brasil. Embora, para muitos, ele já esteja ultrapassado, o treinador sabe montar boas equipes.
Seu currículo diz tudo, ninguém ganhou 5 campeonatos brasileiros por nada, formando o super-time Palmeiras-Parmalat (1993-1994) – e apanhando de Romário na sua passagem anterior pelo Flamengo, em 1995. Além de ser o único técnico a ter conquistado a tríplice coroa no Brasil, pelo Cruzeiro (Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, todos em 2003), e a dirigir por um semestres os “galáticos” do Real Madri.
Além de uma passagem frustrada pela seleção brasileira, onde foi demitido durante as eliminatórias para a Copa 2002. Envolvimentos extracampo também marcam a sua carreira: suposto envolvimento com lavagem de dinheiro; recebimento de propina de empresários; empréstimos não pagos (como a Edmundo); e a famosa briga com Marcelinho Carioca num programa da Band.
O técnico costuma dizer que nunca provaram nada contra ele, mas também nunca provou sua inocência. Como de costume no Brasil, ninguém mais investigou nada e muitos comentaristas chegaram a pedir seu retorno à Seleção – por mais que Muricy e Felipão ainda estejam à sua frente.
Uma matéria da revista Placar em 2011 denunciava que o técnico estaria abusando das noitadas. Jogos de pôquer e o uísque estariam prejudicando o trabalho do treinador. O técnico nega que isto o atrapalhe.
Ainda assim, com a vitória no jogo que guiaria o ano, ele não merecia sair. Luxemburgo, como disse em entrevista coletiva na sexta-feira, passou por um processo de fritura como poucas vezes na história do país.
A presidenta Patrícia Amorim, que prometeu ser diferente no comando de um clube com seis níveis de comando, onze ex-presidentes vivos e uma divisão política do tamanho de sua torcida, repete seus antecessores. Para começar, a volta do “papai” Joel
QUEM ESCREVE:
Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]), Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo
Twitter da coluna: @alem_das4linhas
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