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Grandes filmes, filmes grandes – por Bianca Zasso

Até que ponto a imponência de uma imagem pode garantir o sucesso de um filme? Qual o real peso de centenas de figurantes e cenários que levam meses para serem construídos? Vale mesmo a pena investir em uma trama simples, que trata de temas comuns a todos nós em detrimento de uma história de heroísmo e redenção?

Talvez o homem que melhor soubesse responder essas perguntas seja o diretor britânico David Lean. Ele é constantemente lembrado por ser o responsável pelas melhores adaptações de Charles Dickens para o cinema, como Grandes Esperanças, de 1946, e Oliver Twist, de 1948. Antes disso, sua filmografia se resumia a filmes românticos, sendo Desencanto o melhor deles, contando a história de uma jovem em dúvida sobre trair ou não o marido. Porém, o sucesso só chegou para Lean com filmes onde os conflitos tinham armas ao invés de amantes.

O início dessa fase de megaproduções teve início em 1962 com o filme A ponte do Rio Kwai, que integra até hoje as mais importantes listas de filmes de guerra organizadas por cinéfilos mundo afora. O Lean delicado e literário do início dá lugar a um perfeccionista preocupado com os tons da fotografia e com a grandiosidade das imagens, sem esquecer de criar um herói poderoso e que causasse empatia com o público.

O resultado foi a ótima interpretação de Alec Guinness e sequências eletrizantes ao som de uma marcante trilha sonora.  A expectativa pela próxima produção de Lean era grande e ele conseguiu um feito alcançado por poucos diretores. Lawrence da Arábia conseguiu superar A ponte do Rio Kwai em qualidade, tanto em técnica como em conteúdo. Os belos olhos azuis de Peter O’Tolle intensificam ainda mais a personalidade única de T.E. Lawrence, oficial do exército britânico que reuniu jovens árabes para uma revolução contra os turcos durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a cena mais incrível é protagonizada por Omar Sharif e trata-se de sua primeira aparição no filme, um ponto no meio do deserto que vai se aproximando aos poucos para marcar território de forma violenta.

Toda essa conversa em torno desses dois épicos modernos serve para mostrar que, mesmo quando a locação é imponente, é possível contar uma história complexa, que foge do tradicional sofreu, lutou e ganhou no final. T.E. Lawrence, talvez por ser inspirado em uma autobiografia, é um dos personagens mais complexos do cinema, oscilando entre a euforia com as conquistas da guerra e a dor de ter que matar companheiros de batalha. De um militar arrogante, intelectual e exibicionista, ele passa a um homem que só quer um trabalho comum, ser mais um no meio do pelotão.

David Lean entrou para a história como um homem de grandes filmes e também de filmes grandes, já que seus maiores êxitos de bilheteria tem mais de duas horas de duração. Mas quando há talento, tamanho não é documento. Lawrence da Arábia podia ser um filme intimista sobre um homem relembrando seus tempos de glória. Mas David Lean preferiu nos brindar com um deserto sem fim onde mesmo ao lado de um exército, é possível se sentir só. Nossos olhos agradecem.

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