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Não é romântico? – por Bianca Zasso

Musicais: ame-os ou deixe-os. Sem dúvida um dos gêneros cinematográficos que mais dividem opiniões. Quem faz campanha contra afirma que suas tramas costumam ser bobas e as situações criadas no roteiro são apenas uma desculpa para colocar atores cantando e dançando. Já seus defensores afirmam que a música e a dança presentes nestes filmes conferem um charme único a história, além de permitir momentos lúdicos inesquecíveis. Essa pequena “guerra” é uma das principais responsáveis pela evolução dos musicais, que deixaram de ser apenas filmes para a família e criaram tramas que marcaram para sempre a história do cinema.

Desde o simbólico Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen, um musical que fala das dificuldades de alguns atores com a chegada do som no cinema até o genial Amor, sublime amor, de Robert Wise, onde a música dita o ritmo do confronto entre duas gangues rivais em uma barulhenta Nova York dos anos 60, os musicais tiveram seus momentos sublimes. Talvez um dos mais significativos seja Ama-me esta noite.

Dirigido por Rouben Mamoulian, um diretor talentoso, vindo do teatro e um dos precursores do cinema independente (e um dos preferidos desta que vos escreve, tenho que confessar), Ama-me esta noite tem um roteiro simples, cujo protagonista é um alfaiate, interpretado pelo sempre charmoso Maurice Chevalier, que sai em busca de um cliente para cobrar uma conta. O caloteiro em questão é um aristocrata que mora em um belo cháteau com a família e dezenas de empregados. Como o tal rapaz não quer contar a família que deve até as calças, literalmente, ao alfaiate, entra em cena uma mentira necessária: Maurice se passa por um barão endinheirado e passa a ser convidado da família até que seu cliente consiga o dinheiro necessário para pagar sua conta. Como charme é algo que Maurice tem de sobra, não demora muito para que ele chame a atenção da frágil e mimada princesa Jeanette, interpretada por Jeanette MacDonald. O amor entra em cena.

Mesmo sendo um romance de trama simples, o filme possui tempero picante. A cena em que a princesa fica em trajes mínimos para que Maurice tire suas medidas causou polêmica na época do lançamento. Isso sem contar o jeito inocente de Jeanette que, de vez em quando, deixa escapar um olhar cheio de segundas intenções.

Lançado apenas cinco anos depois do advento do som no cinema, Ama-me esta noite merece ser visto também por suas inovações na narrativa. A cena de abertura mostra o amanhecer em Paris, com a cidade acordando. Os sons das fábricas, das vassouras varrendo a frente das casas, as bicicletas e até o ronco do mendigo fazem os primeiros acordes para a canção “ Isn’t it romantic?”, interpretada com o charme único de Maurice Chevalier.

Diante do uso comum deste recurso em filmes mais atuais, parece apenas mais um artifício para transformar a rotina em música. Mas Ama-me esta noite surgiu num tempo onde o som no cinema ainda era uma tecnologia a ser explorada e este tipo de experimento era considerado uma revolução. Outro destaque é o ritmo das cenas. Em momentos de aventura, como quando a família sai para caçar ou quando a princesa persegue um trem a cavalo, as imagens tornam-se aceleradas para, na sequência, voltarem ao ritmo normal. O que é um truque de iniciante nos nossos tempos fez muita gente vibrar nos anos 30.

Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald fizeram par romântico em inúmeros filmes, incluindo o ótimo Alvorada do Amor, de Ernst Lubitsch. Mas Ama-me esta noite é o grande trunfo do casal, além de ser filmografia básica para quem quer conhecer mais da história dos musicais. Mesmo que este não seja o seu objetivo, o filme é uma bela história de amor. E um pouco de romantismo não faz mal a ninguém.

Ama-me esta noite (Love me Tonight)

Ano: 1932

Direção: Rouben Mamoulian

Disponível em DVD

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