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OS BOBOS. Um dos “13 amigos” de Adede & Castro e uma história de vida a ser contada

O editor recebeu um texto, na forma de artigo, do Promotor de Justiça aposentado, professor e escritor João Marcos Adede y Castro. Originalmente publicado no blogue do próprio, vale a pena ser repartido com mais gente. Confira:

Trinta anos de Ministério Público

Dia 6 de abril de 1982 fui nomeado como Promotor de Justiça, após apenas dois anos como advogado e um concurso público extremamente difícil, até porque nunca tive condições econômicas para fazer cursos preparatórios, como alguns colegas.

Formei-me em dezembro de 1979 em direito, passei a advogar em março de 1980 e quase que imediatamente inscrevi-me no concurso para Promotor de Justiça.

Na época não se tinha a facilidade de fazer inscrição por internet, de forma que já no início lutei com as despesas de transporte entre Santa Maria e Porto Alegre, sem contar com as muitas provas, todas na Capital, com hospedagem nos piores hotéis que vocês puderem imaginar, ali pela Avenida Farrapos, antro de prostituição e muitos criminosos.

Lembro-me da prova objetiva, com questões de marcar de direito penal, processo penal, civil e processo civil, das provas subjetivas, da prova de tribuna, da entrevista com procuradores de justiça, do psicoteste, do exame médico. Eu contei doze viagens, sem dinheiro nem para comer.  E dos hotéis da Farrapos! Quando passo por Porto Alegre quase não acredito que me hospedei naqueles pardieiros.

Depois, duas semanas de curso preparatório, quando tive a sorte de conseguir hospedagem na casa de um parente que, além de me alimentar, ainda me dava carona até a Procuradoria-Geral de Justiça. Deus o guarde!

No fim do curso, fui designado para a cidade de Crissiumal, na fronteira com a Argentina, recebi uma ajuda de custo no valor de um salário mensal que eu nunca tinha visto, cerca de vinte vezes o que ganhava por mês como advogado. Quase desmaiei, botei o dinheiro no bolso e voltei para casa morrendo de medo de ser assaltado. Era tão tosco e estava tão feliz com tanto dinheiro que não me dei conta de que deveria ter depositado no banco! Estava deslumbrado.

Assumi minha Promotoria de Justiça dia 10 de maio de 1982 e, de lá para cá, até 26 de dezembro de 2011, fui muito feliz, fiz tudo o que sempre desejei, sofri o diabo algumas vezes, mas nunca me arrependi de ter sido membro desta Instituição que ainda amo como aos meus filhos.

Um dia, se alguém tiver interesse, vou sentar e escrever minha história completa no Ministério Público. Se ninguém tiver interesse, o que é bem provável, escrevo para mim mesmo. Vai fazer bem pra mim.

Esta noite que passou sonhei que ainda estava atuando como Promotor de Justiça. Só agora, no fim da tarde, quando minha mulher perguntou “que dia é hoje, amor” é que me dei conta que era dia 6 de abril de 2012, trinta anos de MP.

Este texto só tem importância para mim.

Mas, como tenho, pelas minhas contas mais recentes, cerca de treze amigos, quero compartilhar com eles.

Obrigado a todos que acreditaram em mim como Promotor de Justiça.

Vocês não passam de uns bobos. Como eu!

Vivam os bobos.” 

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