A esquizofrenia do consumidor (Parte II) – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira
(…) alguns meses depois, nosso personagem (consumidor) buscou novamente consulta em especialista da área médica para que pudesse tratar seus desamores.
O consumidor, desolado com os acontecimentos, resolve remarcar consulta e mais uma vez encara o divã.
– Doutor!
– Olá, novamente o senhor por aqui.
– Pois é, a minha relação com a moça do telefone piorou.
– Agora ela pede que eu informe meus dados antes de falar comigo, fica cantarolando uma música (desculpa doutor, cá entre nós, melodia muito ruizinha).
– Realmente, como o doutor já tinha me dito, elas são todas iguais.
– E o senhor tem reagido de que forma?
– Eu? Ora doutor, quando a gente ama espera. Ainda que ela me diga que todas as linhas estão ocupadas, que suas atendentes não podem falar comigo. Eu tento! Eu tento!
– Mas senhor! Exclama o médico.
– Isso já está indo longe demais, seu amor pela moça do telefone não é correspondido. Precisa resolver esta situação e partir para um novo amor.
– Ah! Doutor, e achas que estou aqui por quê?
– Encontrou?
– Sim, passei a me corresponder por email. Alguns amigos me disseram que é bem mais fácil.
– E aí? Qual foi o problema?
– No início nenhum, fiquei bem mais a vontade do que com a moça do telefone.
– Doutor, ela é uma gracinha, linda.
– Conversamos alguns dias, eu de cá, ela de lá. Tudo muito bom. Enviou-me até fotos e descrições em detalhes.
– Então o senhor estabeleceu uma relação virtual com ela?
– Sim, sim…o problema foi quando marcamos de nos conhecer.
– Não gostou da moça?
– Realmente não sou correspondido doutor.
– Calma, tudo ao seu tempo. Ela não apareceu?
– Ela sumiu!
Avaliando a situação o médico faz uma longa pausa…reflete sobre o caso e dirige-se ao consumidor.
– Como eu lhe disse: Não é fácil! Elas usam de novos meios, continuam a nos seduzir, fazem mil propostas, nos agarram pela imagem e descrição em detalhes e quando em fim, marcamos o encontro…já foi o número do nosso cartão e as parcelas já estão batendo em nossas contas.
Consumidor escuta o médico, silencia por uns instantes, e encerra a consulta.
– É verdade doutor! O produto? Nada! Nem mais um email, tampouco o site onde conheci aquela linda geladeira.
Vitor Hugo do Amaral Ferreira
@vitorhugoaf
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