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Como viver o futebol e os seus ídolos – por Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha

Coluna Além das 4 linhas –  edição da semana de 3 de maio de 2012 – por Anderson Santos (editor), Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha

O futebol vive de paixão, magia, superstições, mas principalmente de ídolos. Não é a toa que estes costumam lotar estádios, treinamentos e viram o principal “objeto” de publicidade dos clubes de futebol e de empresas do mundo todo.

Conquistar a torcida não costuma ser tarefa fácil; alguns critérios são adotados quase que de forma única por diferentes torcidas. Gol de título ou contra o rival costuma pesar bastante. No Rio Grande do Sul este leva o apelido de “homem Gre-Nal”, o cara que entra para a história por ser carrasco do rival. Mas como será que os clubes (leia-se, os dirigentes dos clubes) tratam os seus ídolos?

DIFÍCIL ENTENDER

No jogo Internacional e Fluminense pela Copa Santander Libertadores, a diretoria do Inter pediu que a torcida não aplaudisse o técnico Abel Braga e o atacante Rafael Sóbis. Ambos foram campeões da América no colorado gaúcho. Abelão ficou para o título mundial sobre o Barcelona, em 2006; enquanto Sóbis voltou para conquistar o segundo título sul-americano, em 2010.

Independente disso, a diretoria entendia que aplaudi-los seria estimulá-los. Não acreditamos que para profissionais aplausos ou vaias façam alguma diferença. Sinceramente não esperávamos que o pedido fosse atendido, já que foi por méritos que se tornaram ídolos, participaram diretamente das maiores conquistas do clube.

Mas a torcida acabou atendendo ao pedido (para variar um pouco, a mescla de paixão sem torcida organizada e adesão incondicional fazem isso). Vaias e algumas ofensas foram dirigidas ao ex-jogador e também ao ex-técnico do clube gaúcho. A explicação mais cabível é que os momentos de tensão da partida e a ansiedade pela vitória pesaram na decisão dos torcedores, que acabaram vendo o seu novo “homem Gre-Nal”, o argentino Dátolo, tendo pênalti defendido pelo goleiro Diego Cavalieri.

ÍDOLOS DENTRO DE CAMPO, MAS NO COMANDO TAMBÉM?

Sempre se cobram atitudes profissionais de jogadores e técnicos, além do respeito à camisa que vestem. Tudo bem, ninguém quer aqui que se defenda o patrão, dirigente de futebol, mas que se respeite o torcedor, para quem uma camiseta significa mais que qualquer outra coisa. E, lembremos aos marqueteiros de plantão, camisa não é banner de evento de praia, para pendurar uma enxurrada de adesivos e propaganda. Inflacionaram o futebol e agora o jogo está ficando impagável.

Um craque pode deixar de ser ídolo quando abandona um time em meio a um campeonato, por conta de um contrato milionário. Dessa condição, dependendo do que a diretoria alimentar – como dizer que o jogador “pediu para sair” –, o profissional passa a ser “mercenário”.

No Guarani de Campinas, agora finalista do Paulistão contra o multicolorido Santos de Neymar, os jogadores chegaram a ficar 7 meses sem receber um centavo no ano de 2011. E aí? Seriam eles mercenários se trocassem de clube? Claro que não. Já os cartolas bugrinos como o “inesquecível” Beto Zini, ou o ex-da Macaca que era filho do Nabi Abi Chedid, como classificá-los?

E, desde o banco de reservas, como funciona a coisa? Quando um dirigente resolve trocar de treinador ou vender um atleta, mesmo que os mesmos não queiram?

Dois casos recentes aconteceram em Porto Alegre. 2011 começou com os dois maiores ídolos da dupla Gre-Nal no comando dos clubes. Renato Portallupi assumira o Grêmio namorando o rebaixamento para a Série B no final de 2010 e classificou o time para a Taça Libertadores de América (a mesma que o Santander insiste em batizar após ser alugada simbolicamente pela direção da Conmebol), no final daquele Brasileiro. Paulo Roberto Falcão assumiu o Internacional com a promessa de poder construir um clube, com dois anos como limite de paciência. Aí a guerra das vaidades com a cartolagem de corneteira pegou!

O primeiro, Renato, considerado o maior ídolo dos gremistas, foi o autor dos dois gols do título mundial de 1983. O segundo, Paulo Roberto, foi um dos melhores jogadores que passaram pelo Beira-Rio, atuando nos três títulos brasileiros na década de 70. A classe com que jogava Falcão até hoje não foi repetida.

Naquele momento, a dúvida era saber se os torcedores teriam paciência e se lembrariam do histórico deles dentro de campo, especialmente no caso de Falcão, que trocara a tranquilidade dos comentários pelo dia a dia de clube no Brasil (e é verdade, Falcão passa a ser parte da elite rio-grandense, como intelectual da bola).

 “DESCULPA RENATO, MAS O DEPUTADO NÃO GOSTA DE TI”

Essa foi a frase de um dos cartazes que era carregado por um grupo de torcedores no dia do anúncio da demissão de Renato Portaluppi, pelo deputado estadual e presidente do clube, Paulo Odone – o mesmo que, numa estratégia de marketing, resolveu dar uma camisa do Grêmio com o número do seu partido, o 23 do PPS, para Vanderlei Luxemburgo.

Renato deixou o Grêmio contra sua vontade e da própria torcida. A briga de egos com o presidente do clube se tornou insustentável. Odone nunca escondeu que não gostava da forma como Renato trabalhava. Quando venceu as eleições presidenciais no final de 2010, o time fazia uma bela campanha no Brasileirão.

Com a vaga na Libertadores conseguida, para quem passou pela zona do rebaixamento, o presidente eleito viu-se obrigado a renovar o contrato do técnico, caso contrário começaria um mandato conturbado na relação com o torcedor gremista. Só que bastava um mal resultado que o presidente alfinetava o treinador.

Era questão de tempo. A eliminação na Libertadores e um início ruim no Brasileirão 2011 era o que o presidente precisava pra demitir o eterno camisa 7 tricolor. A torcida protestou, mas Odone queria reinar sozinho.

Na despedida, Renato Portaluppi chorou, pediu desculpas, e não quis entrar em mais detalhes. Nestas horas, era melhor ter sido o Renato que saiu do Flamengo brigando com o Djalminha e mais meio elenco, batendo porta e metendo a boca no mundo. O Portaluppi poderia ter peleado mais na interna gremista.

De lá pra cá, já passaram pelo clube Julinho Camargo, Celso Roth (sempre ele por aqui!), Caio Júnior e, atualmente está Vanderlei Luxemburgo – o inimigo número 1 de gandulas rápidos. Te cuida Madureira (apelido do Vanderlei na noite paulistana!!!)

NO INTERNACIONAL NÃO FOI DIFERENTE

Um dos melhores jogadores da história do Sport Club Internacional deixava a crônica esportiva para assumir o comando técnico do time. Com estilo inovador, Falcão na chegada ao Internacional disse que gostaria de entrar para a história como o treinador que ficou mais tempo no comando do clube. Sonho meu, sonho meu, foi buscar a Andrade Gutierrez, sonho meu!

Mas o sonho durou três meses (o pesadelo veio na forma de uma cartola vermelha). Após perder para o São Paulo no Beira-Rio pelo Campeonato Brasileiro – isto depois de eliminado nas oitavas de final da Libertadores, também em casa, pelo Peñarol – o presidente Giovanni Luigi optou por demiti-lo. O resultado foi mais um pretexto. O motivo principal seriam as divergências ideológicas entre o treinador e a direção.

Curiosamente, se Renato, que sempre foi mais polêmico, saiu agradecendo a oportunidade de treinar seu clube do coração; mais “racional”, Falcão não poupou as críticas à diretoria, que tinha prometido dois anos no cargo, independente de resultados.

O microfone como ferramenta de trabalho ajudou! Na despedida, o ex-camisa 5, demonstrou total decepção com a diretoria, acusando-a de amadora. Um ano depois disso, agora às vésperas da final do Campeonato Baiano com o Bahia – time que, por ironia do destino, Renato havia saído para assumir o Grêmio –, Falcão ainda continua magoado. O que era para ser uma relação duradoura acabou sendo relâmpago.

ENQUANTO ISSO, LÁ NA CATALUNHA…

Parece ser redundante dizer que o Barcelona é modelo de administração. Mas na semana passada mais uma vez o clube catalão deu um exemplo a ser seguido – “sugerindo” a pauta desta coluna.

Após ser eliminado da Liga dos Campeões, o técnico Joseph Guardiola anunciou que deixaria o clube, com o qual conseguiu, dentre 13 títulos, duas Ligas dos Campeões, dois Mundiais de Clubes e três Ligas Espanholas em apenas quatro temporadas.

Além de ter a sua decisão respeitada, Guardiola foi homenageado pelo clube com um vídeo institucional agradecendo pela dedicação, trabalho e sucesso durante as quatro temporadas em que ficou à frente, definitivamente, de um dos melhores times da história do futebol. Palmas oficiais mais que merecidas.

Guardiola sempre optou por fazer contratos por temporada e, além de ser “assediado” por outros clubes, vinha sofrendo “pressão” de importantes nomes do grupo catalão para se manter no comando. Não é à toa que jogadores como Puyol, Valdés e Iniesta acompanharam sua entrevista coletiva, ao lado dos repórteres – algo inimaginável de ocorrer no Brasil.

É bom que se diga, que se Guardiola não é um dos maiores meias que já passaram pelo Barcelona, participou de três das quatro conquistas de Liga dos Campeões do clube, já que estava em campo no título de 1992. Pep passou quase uma década em campo, assumindo o clube após as fracas atuações de nomes como Deco, Ronaldinho Gaúcho e Eto’o, a quem não teve receio de mandar embora – assim como a Zlatan Ibrahimovic.

O mesmo Ronaldinho que voltaria ao Camp Nou para a disputa do Troféu Joan Gamper pelo Milan e que seria agraciado pelo capitão do Barcelona Puyol com o troféu, mesmo o time italiano sendo derrotado na decisão.

É claro que o Barça não é exceção. O goleiro Marcos acaba de se aposentar do Palmeiras e a diretoria manteve o contrato estendido para que ele seja funcionário do clube, independentemente do cargo. No São Paulo, ninguém imagina Rogério Ceni longe do time após sua aposentadoria, que deve ocorrer nos próximos anos.

Tudo bem, mas ainda são casos raros no futebol nacional. Percebe-se que esses ídolos se construíram enquanto tal, sempre respeitando o torcedor e a camisa que estavam vestidos, mas alguém imaginaria um diretor de futebol que barraria algum deles? Talvez nem pessoas como Eurico Miranda, que ousou tirar Roberto Dinamite do São Januário para depois ser retirado do cargo de presidente do Vasco. O mundo gira…

Enfim, ídolo é ídolo e merece todo o respeito do mundo!

(Para quem quiser nos ajudar criticando e/ou sugerindo novas propostas e assuntos, entre em contato através dos e-mails [email protected] e [email protected])

QUEM ESCREVE:

Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]), Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo & Bruno Lima Rocha ([email protected]) é editor do portal Estratégia & Análise (www.estrategiaeanalise.com.br).

Twitter da coluna: @alem_das4linhas

 

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