Este sítio, mais do que qualquer outro veículo da mídia, tradicional ou não, abriu espaço para as informações da greve na UFSM. Notadamente a dos docentes. É verdade que tem a sua análise. E, de pronto, já sabe ou intui que não tem agradado muito a uns e outros, da liderança do movimento. Paciência. Se fosse para agradar todo mundo, não sentaria em frente a um computador. Ponto.
Mas o fato é que, aqui, as notícias são publicadas. E as fontes são, invariavelmente, as “oficiais”: leia-se sítios da Sedufsm e da Assufsm. Mais daquela do que desta, reconhece-se. E dá seus pitacos. Porém, creia, há muito menos gente em greve do que nela. Só que não vão às assembleias e, portanto, submetem-se à decisão democrática, como se costuma dizer.
Bueno, nariz de cera a parte, nesta nota (e na posterior, logo em seguida) você lerá o que não está nos espaços dos grevistas. Nem na mídia tradicional.
O primeiro desses textos é do meu amigo de mais de 30 anos. Dele fui bolsista de trabalho – sei que o posto subsiste, e até seus detentores ganham mais, mas não tenho certeza se com essa denominação – no então curso de Filosofia, do qual ele era coordenador.
Ronai Pires da Rocha é o cara. Tem passado e presente na UFSM. Quem o conhece minimamente sabe e não vou ficar aqui dando o seu (dele) currículo. Só sei que é uma delícia (concordando ou não) ler seus textos, publicados originalmente no blogue Coisas do Campo. Quer conferir? Então leia essa maravilha literária, e de inhapa cheia de informações, que trata de um outro lado da greve. Daqueles que não têm espaço. E, se têm, não usam. A seguir:
“Uma modesta proposta de volta às aulas: vamos mesmo sacrificar os bodes da breve?
Assim, ao nível de proposta, bem menos antropofágica do que aquela de Swift, vem surgindo uma nova proposta de trabalho no campus da Ufesm. As premissas são óbvias; o çepe faz o que quer, a Reitoria assiste e espera, e assim, cada um fazendo o que gosta, a coisa vai virando uma bosta; a letra aqui é do Aldir Blanc, é claro.
Assim, a professorada que não aderiu ao protesto contra Dona Dilma, por ter lido (ou não!) uma vírgula de Lenin (o tema aqui é o da seriedade de uma equação que deve levar em conta condições subjetivas, condições objetivas e a qualidade das reivindicacões, que antigamente era chamado pela gente de “avaliação de conjuntura”, algo que virou fumaça), resolveu aderir ao contra-protesto: se cada um faz o que gosta, ficou aberta, desde a ultima sexta-feira, a temporada de volta às aulas.
Na prática, funciona assim. Cada grupo de professores e alunos trata de se organizar; muitos brevistas arrependidos já começaram a terminar o primeiro semestre; muitos não-brevistas, entre eles eu, estamos nos reunindo com nossos alunos para começar o segundo; outros, eu entre eles, estão propondo aulas livres, para quem não suporta mais ficar em casa apenas lendo e escrevendo solitariamente. Vai ser assim, como era em Bolonha, em 1200: alunos e professores se encontram para celebrar o conhecimento. Afinal, as alternativas são terríveis.
Os brevistas assumiram o controle do çepe e ataram as mãos da Reitoria. Por eles, a breve somente terminará quando Power Dilma ceder. A pós-graduação já começa a olhar para a graduação como se ela fosse um jardim de infância, o que não é verdade: a graduação é o bode da breve, na visão protestante. O que nos resta? Esperar que o çepe aprove os pedidos de estágio e começo de aulas para quem recusou a breve? …”
PARA LER A ÍNTEGRA, CLIQUE AQUI.
é prá elogiar ou ser crítico ou oque?
Para se conhecer também o outro lado: a Proposta do PROIFES
A ‘contraproposta’ da ANDES é tardia, de má qualidade e tem alto impacto orçamentário
23 de agosto de 2012
A ANDES publicou em 20 de agosto, uma ‘contraproposta’, pretensamente destinada a ser discutida em uma eventual ‘reabertura de negociação’ com o Governo. Segundo afirma a entidade, o piso e o teto são aproximadamente os mesmos que os do Termo de Acordo já assinado pelo PROIFES.
Essa iniciativa é fruto do desespero de quem não soube negociar e perdeu o bonde da história, já que a FASUBRA irá igualmente firmar acordo com o Governo, com a volta ao trabalho dos funcionários técnico-administrativos na semana que vem, enquanto que, ao mesmo tempo, em diversas universidades a greve dos docentes foi terminada, tendência essa claramente irreversível.
O fato é que ao longo dos meses em que funcionou a Mesa de Negociação encerrada em 3 de agosto, a ANDES não encaminhou nenhuma ‘contraproposta’ concreta e o faz apenas neste momento, de forma tardia e inteiramente extemporânea.
A ‘contraproposta’, além disso, tem impacto de 10,5 bilhões/ano já em 2013, em contraposição aos 4,2 bilhões/ano para 2015, conforme constante do Termo de Acordo assinado.
E porque há um impacto dessa magnitude? Primeiro, porque a afirmativa da ANDES de que o ‘piso é igual ao proposto pelo Governo’ é totalmente falsa. Para os docentes em regime de dedicação exclusiva, que é aquele em que trabalha a imensa maioria dos professores, o piso hoje – que é o salário do auxiliar 1, graduado – é de R$ 2.872,86. Pela proposta da entidade, esse docente passaria a ganhar R$ 6.258,19, ou seja, uma recomposição de 118%. Os menores aumentos, na concepção da ANDES, devem ir para os professores mais titulados. Quanto mais titulado, menor o aumento. Assim, os mestres ganhariam em torno de 90%, os doutores iniciantes em volta de 70% e os doutores no topo da carreira (associados e titulares) ficariam com o reajuste mínimo, de 35% a 40%. Conclusão: aumento médio de 80% sobre os salários atuais, com uma distribuição que vai contra o critério de mérito e de excelência acadêmica.
Como se isso não bastasse, a ANDES insiste na fusão das carreiras do Magistério Superior (MS) e Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT). Isso resultaria em graves prejuízos para os docentes desta última, já que a cultura de desenvolvimento na carreira do MS, que tem 70% de doutores, passa hoje pela exigência de titulação para progressão; em contraposição, no EBTT o perfil é totalmente diverso e há menos de 10% de doutores.
A entidade defende também a extinção do cargo de titular por concurso público, o que implicaria isolamento de Universidades e Institutos Federais em relação a instituições de qualidade do Brasil e do exterior, já que renomados docentes de fora do sistema seriam impedidos de ingressar no cargo mais alto da carreira – o que hoje é possível.
A ANDES defende que seja abolida a estrutura de classes – auxiliar, assistente, adjunto, associado e titular desapareceriam, e em seu lugar seria definida uma carreira só com níveis. Isso faria com que um professor doutor que ingresse na universidade deixe de ser promovido de auxiliar 1 (primeiro ‘degrau’ na carreira) para adjunto 1 (quinto ‘degrau’ na carreira), logo após o estágio probatório, 3 anos após o seu ingresso. Na carreira da ANDES, com 2 anos de interstício entre níveis, esse mesmo professor levaria 8 anos para chegar ao quinto ‘degrau’. O prejuízo decorrente seria de meio milhão de reais ao longo da carreira e aposentadoria mais baixa.
Por último, a ANDES defende a incorporação da atual Retribuição de Titulação (RT) ao Vencimento Básico (VB). Com isso, os docentes mais antigos teriam reajustes muito maiores que os recentemente contratados. Isso porque sobre o novo VB, ‘engordado’ com a RT, incidiriam os adicionais por tempo de serviço que os que entraram antes de 1998 têm, mas não os mais novos.
O Termo de Acordo assinado pelo PROIFES, ao contrário, consolidou a manutenção de duas carreiras com vencimentos isonômicos. Continuarão a existir as classes. Permanece a possibilidade de entrar para titular por concurso público, mas será possível chegar a titular ‘internamente’ à carreira – um grande ganho para a categoria. A RT não será incorporada ao VB: os docentes mais jovens terão o mesmo reajuste que os mais antigos. Os percentuais de reajuste são semelhantes para os docentes com diversas titulações, variando, com pequenas flutuações, em torno de 32%.
O Termo de Acordo assinado pelo PROIFES levará os professores, em março de 2015, mantida a previsão de inflação do mercado (em torno de 5%), aos maiores patamares salariais dos últimos 20 anos, com reajustes que variarão entre 25% e 44%. Essa recomposição, na atual conjuntura, será ao que tudo indica a maior a ser concedida a funcionários públicos federais.
Concordo plenamente com o Editor. Os textos do professor Ronai, concordando ou não com seus posicionamentos, são de um tipo raro em Santa Maria. Do tipo que vale a pena ler até o fim. E ler com gosto. Tem o meu respeito.
é fera o professor.
Muito bom!