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O Marechal, o Barão e os pré-candidatos ao parlamento – por Maiquel Rosauro

Marechal de campo reformado Manuel Carneiro da Silva e Fontoura (1767 – 1842) é uma das figuras mais fascinantes do início da história de Santa Maria. Exímio militar, capitão de milícias, defensor da fronteira contra o domínio espanhol, casado duas vezes (um total de 12 filhos), dono de muitos escravos, comandante do distrito de Vacacaí (com sede no Acampamento de Santa Maria da Boca do Monte) e da Guarda de São Pedro do Passo dos Ferreiros, responsável pela edificação da primeira Capela do povoado e criador da primeira olaria de Santa Maria.

Conforme Romeu Beltrão, em seu livro Cronologia Histórica de Santa Maria e do Extinto Município de São Martinho (1787 – 1930), o Marechal recebeu a doação de dois terrenos no povoado. Um deles onde hoje se encontra o prédio da Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV), local em que construiu sua residência, e outro onde fica hoje o Colégio Riachuelo, ambos na Rua Venâncio Aires.

Ainda segundo Beltrão, “Não há dúvida de que foi o maior nome dos primeiros anos de existência de Santa Maria e, talvez, o maior responsável pela sua sobrevivência”.

Embora tenha uma relevante importância para o município, Fontoura entrou para história por outro motivo. Em 25 de novembro de 1841, requereu ao Imperador o título de Barão de Santa Maria da Boca do Monte.

O Marechal justificava seu pedido salientando, entre outros serviços, ter mandado edificar à sua custa a Capela da povoação nos primeiros anos de 1800, o que originou a Freguesia, sendo ele, portanto, fundador de Santa Maria.

Porém, a resposta do Império foi catastrófica às suas pretensões.

“As concessões de títulos estão fora da mumificação ordinária das remunerações de serviços; por isso têm sido, e são quase sempre feitas àqueles que se esmeram em prestar os bons serviços mais que em alegá-los ou exagerá-los. O Sr. requerente mostra ter servido bem como Militar, porém não tão distinta e extraordinariamente que não deva supor já bastante remunerado com as mercês honoríficas e pecuniárias que constam das duas certidões juntas das Secretarias de Estado dos Negócios do Império e da Guerra. Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1841 (…). O despacho foi: Não tem lugar por ora”, descreve Romeu Beltrão.

Quatro meses depois, o Marechal morreu em Porto Alegre, creio que ainda magoado com o Império. Todos os dias, quando acesso as redes sociais, lembro-me desta história. Assim como ele exagerou ao dizer que foi o fundador de Santa Maria, também tenho visto diversos pré-candidatos ao parlamento supervalorizando suas ações.

Dezenas de fotos com grupos de pessoas nos bairros, engajamento imediato em diversas campanhas beneficentes, promoção de discussões sobre o futuro do município, fotos e mais fotos que comprovam o amor por Santa Maria, críticas aos opositores e exaltação aos aliados… Imagino que até outubro, isso deva piorar.

A história nos mostra que em Santa Maria não basta exagerar os méritos para se tornar Barão. Da mesma forma, o mesmo deve valer para se tornar vereador.

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