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O melhor de todos os tempos – por Bianca Zasso

Desde 1952 a revista inglesa Sight & Sound, uma das principais publicações sobre cinema do mundo, publica a cada dez anos uma lista com os melhores filmes de todos os tempos. Desde 1962, o primeiro lugar foi ocupado pelo filme Cidadão Kane, considerado a obra-prima do diretor e ator Orson Welles.

Dezenas de outras revistas trataram de criar suas próprias listas e em praticamente todas, o filme de Welles estava entre os mais bem cotados. Mas o reinado de Cidadão Kane parece ter chegado ao fim. Na lista deste ano, o posto de melhor filme de todos os tempos foi concedido a Um corpo que cai, do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Alguns celebraram, outros se revoltaram e armaram um verdadeiro ringue para a luta do século.

Tanto Hitchcock quanto Welles merecem o topo, pois ambos construíram estilos únicos de filmar e foram ousados em suas produções. Cidadão Kane, cujos críticos mais ferrenhos costumam tachar de roteiro fraco, é um marco na história da sétima arte por valer-se de técnicas cinematográficas revolucionárias para a sua época. Se hoje assistimos a cenas cheias de simbolismos e ficamos abismados com extravagâncias visuais e o uso de uma narrativa não linear, a culpa é toda de Cidadão Kane e seus planos “rebeldes” para a conservadora década de 40. Tudo no filme de Welles é grande, escandaloso, dos cenários aos diálogos, como se a personalidade megalomaníaca do protagonista se espalhasse por cada detalhe da trama.

Contar a história de um poderoso empresário da mídia sem parecer uma história de lição de moral não era tarefa fácil. Somos bombardeados o tempo todo por planos que nos pisoteiam, mostrando um Kane gigante rindo da nossa cara. O diretor de fotografia do filme, Gregg Toland, usou da técnica conhecida como contra-plongée, onde a câmera filma um lugar ou personagem de baixo para cima, dando a ideia de grandiosidade. Foi a forma encontrada de mostrar o quão pequenas são as pessoas diante do soberano Kane, o cidadão.

Com todas essas inovações e um personagem incomum, o que fez, afinal, Cidadão Kane perder a primeira posição? Um corpo de cai, um dos maiores clássicos de Alfred Hitchcock, deve muito de suas tomadas as revoluções do filme de Welles. Mas na mão do rechonchudo Hitch, elas ganham um novo sabor. O policial vivido por James Stewart, atormentado pelo medo de altura, é um prato cheio para criar cenas que são um deleite e ao mesmo tempo um tormento para os olhos.

Um corpo que cai vai além do suspense: é um tratado sobre o poder de sedução da imagem. O “olho” da câmera é o mesmo olho do personagem, que nos convida para partilhar suas descobertas, suas dúvidas e, é claro, suas vertigens. Ao contrário de outros títulos do gênero, o público não está na posição de superior, de dono da verdade. Descobrimos junto com James Stewart o mistério e é aí que mora a magia.

De um lado, um grande homem, do outro, uma grande história. Uma cinebiografia nada bajuladora e um suspense inspirado. Dois grandes filmes. Deixando de lado os estudos e teorias do cinema e falando apenas como cinéfila, essa que vos escreve ama igualmente as duas produções. Ambas mexem comigo desde a primeira sessão. Não me importo com a posição na qual se encontram dentro da lista da renomada revista e acho essa briguinha entre fãs dos filmes algo bobo. No fim de tudo, o primeiro lugar é sempre do público, que foi presenteado com dois grandes exemplares da arte feita em 24 quadros por segundo. Dizem que ela é a sétima. Mas quando se fala em Welles e Hitchcock, ela será sempre a primeira. E a mais bela.

Cidadão Kane (Citizen Kane)

Ano: 1941

Direção: Orson Welles

Disponível em DVD e Blu-Ray

 

Um corpo que cai (Vertigo)

Ano: 1958

Direção: Alfred Hitchcock

Disponível em DVD e Blu-Ray

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