Aos sobreviventes… – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira
Dedico ao sétimo semestre do Curso de Direito/Unifra, sejam felizes incondicionalmente por vocês e pela eterna lembrança do Marcelo e do Walter.
Ao que me é pertinente poderia escrever sobre os direitos do consumidor e acidente de consumo, dizer que o Código de Defesa do Consumidor consagrou a responsabilidade objetiva, sem análise da culpa. Afirmar ainda que todos os jovens da Boate Kiss eram consumidores vítimas do risco.
A proteção da vida e a efetiva reparação dos danos estão entre os direitos básicos do consumidor. E aí? Parece que nada supre a dor, a perda e a tragédia. Ainda que existam remédios jurídicos, somos tolos, pois o homem não soube criar o remédio da alma. Suspeito que nem seja capaz!
Em nome da justiça acabamos sendo injustos; ao apurar a responsabilidade alheia esquecemos de assumir nossas irresponsabilidades. A vida é assim, acreditamos que sabemos lidar com ela, e justamente a sua ausência nos desmancha, enfraquece-nos.
Escrevi dia destes às vítimas (todos somos), em especial os pais. Hoje dedico estas linhas aos sobreviventes. Não somente os que saíram com vida, mas aos que passarão a sobreviver sem a vida de uns, sem saber o sentido da própria vida. Todos seguirão suas vidas, em busca de boas lembranças que possam virar uma boa saudade.
Por certo, um exercício sem dimensões voltar a sorrir, encarar o retorno das aulas, saber que a dupla ali do centro da sala, não estará mais no corredor, antes mesmo do professor chegar. Descobrir que o barulho que faziam ficará baixinho perto do silencio perturbador de suas ausências.
Perdemos! E quem gosta de perder? Perdemos amigos, colegas, filhos. Perdemos, e a vida, como se não soubesse a dor da partida, deixa-nos a missão de sobreviver.
Como se fosse fácil, Santo Agostinho ensinou que a morte não é nada, é apenas a passagem… Nós estaremos no mundo das criaturas, eles no mundo do criador. Sem solenidades, tristezas, (tenhamos forças) para continuar rindo daquilo que nos fazia rir juntos. Eles estarão longe de nossas vistas, mas não dos nossos pensamentos. Nós ficamos aqui, sobreviventes, do outro lado do caminho.
Vitor Hugo do Amaral Ferreira
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@vitorhugoaf
Na carne queimada, no adeus esquecido, nas promessas que jamais serão cumpridas, nas dores que irão durar pela vida inteira, sinto um sobrevoar de corvos sobre nosso céu. Corvos ilustres, de toga, bem localizados. Um dia a conta será cobrada, não esqueçam de que a banca um dia será o pagador… metáforas, sim, mas pra os inteligentes são bem claras e para os inoscentes, nada posso fazer….