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Sobre líderes e covardes – por Luciano Ribas

No dia 11 de setembro de 2001, sentado numa cadeira de jardim de infância, George W. Bush talvez tenha sido a única pessoa do mundo a não esboçar nenhuma reação ao saber que aviões desabavam sobre os principais prédios dos EUA. Pelo que dizem, seguiu tentando entender a história infantil que era contada pelas crianças – algo sobre uma menina meio comunista, sempre de capa vermelha e metida a distribuir doces.

Alguns anos depois, na colossal enchente de Nova Orleans, a inaptidão para o cargo que ocupava ficou outra vez evidente. Neste caso, porém, como sintoma do egoísmo neoliberal dos republicanos, o real “culpado” pelo dramático alcance da inundação.

Na sua mediocridade, Bush talvez seja o mais eloquente exemplo de homens (e mulheres) que demonstraram não ter estatura para liderar seus povos, especialmente em momentos de crise, onde espera-se que o líder seja capaz de apontar um caminho.

O “padrão Bush” é muito diferente de pessoas que agiram como verdadeiros guias para as suas nações. Líderes como Lincoln na Secessão, Garibaldi na Unificação Italiana, Churchill na Batalha da Inglaterra, De Gaulle após a capitulação da França, Brizola na Legalidade, Golda Meir na Guerra do Yon Kippur, Arafat sitiado na sede da Autoridade Palestina, Mandela no fim do apartheid, Allende em La Moneda, Ho Chi Min na libertação da Indochina, Gandhi na Independência da índia ou Dom Helder Câmara nos dias mais negros da ditadura, fizeram o que deles se esperava (ou até mesmo mais) no momento em que se fazia mais necessário.

Na inimaginável tragédia que marcará para sempre a alma santa-mariense, centenas e centenas de pessoas anônimas fizeram muito mais do que as suas obrigações determinavam, tanto no socorro às vítimas como no acolhimento aos familiares delas. Outros milhares também agiram, unidos numa infinita corrente de solidariedade que alcançou o mundo e se manifestou das mais diversas formas, tangíveis ou não.

Porém, com relação aos que ocupam posições com responsabilidades públicas maiores, podemos dizer que tiveram (e continuam tendo) reações muito diferentes, amplamente registradas pela mídia. Não irei comentá-las individualmente, pois acho que cada um pode elaborar suas próprias opiniões sobre a postura de cada um, especialmente sobre quem agiu com coragem e quem não o fez. Me limito a dizer que, para um líder, a covardia é um defeito proibido, um “pecado” que só pode encontrar absolvição na retirada da vida pública.

Essa “solução”, é claro, não traria de volta quem nos deixou, nem diminuiria a tristeza que se abate sobre todos nós. Porém, talvez esse gesto de humildade poderia nos ajudar a recomeçar com mais consciência sobre a importância das nossas escolhas, além de uma maior capacidade para apostarmos em lideranças com qualidades morais mais elevadas. Entre elas, a coragem.

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7 Comentários

  1. O Luciano Ribas continua escrevendo muito bem.O chapéu coube bem no Luiz Venáncio.Parabéns para o Luciano por este texto tão verdadeiro.

  2. A verdade é que tem gente apavorada na Venâncio Aires e na Vale Machado, Luiz Venâncio. Gente de altos, médios e baixos coturnos…

  3. Garibaldi:
    Sabes porquê minhas amizades são bem diferentes das tuas?
    Porque teus amigos me excluíram quando as verdades que digo começaram a doer neles (e certamente em ti também…).

  4. Muito bom artigo.
    Falta apenas acrescentar que líderes não comparecem a locais de tragédia apenas para justificar sua inação e terceirizar culpas;
    Líderes agem independente de estarem sob o foco de câmeras de TV, enquanto outros ficam à sombras das árvores ou procuram microfones para pregar suas verdades particulares;
    Líderes não ocupam tribunas para dizer o que deve ser feito quando tiveram oportunidade e não fizeram.
    Mas pior do que isto, é que alguns pseudo-líderes geram seguidores à sua imagem e semelhança, e eu não lembro de tê-los visto prestando trabalho voluntário para atender vítimas e familiares desde o trágico domingo passado…

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