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O futuro dos grandes clubes em jogo – por Anderson Santos e Dijair Brilantes

Coluna Além das 4 linhas –  edição da semana de 30 de setembro de 2012 – por Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes

 

No próximo dia 7 de outubro, os brasileiros irão às urnas para eleger prefeitos e vereadores. Quer dizer, para cidades com mais de 200 mil eleitores ainda há a possibilidade de segundo turno. Recusamos afirmar ser a escolha de “representantes” da população, porque a gestão da sociedade deve ser para além da representação, mas sim com participação direta nas decisões.

No futebol, é muito comum ouvirmos reclamações e protestos contra os dirigentes quando os clubes estão muito mal. Definitivamente, pode ser um espelho do que ocorre com a política na esfera político-eleitoral – quando ambas não se misturam, com dirigentes sendo eleitos para cargos políticos. Se estão bem, reeleição garantida. Se estão mal, estádio novo, medalhões em campo e treinador renomado. Na falta de títulos, tudo vale.

Eleições 2012

Mesmo com a proximidade das eleições municipais que ocorrem no inicio do mês de outubro em todo o Brasil, no Rio Grande do Sul as eleições presidências do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, também estão dando muito o que falar.

O processo está ocorrendo de forma muito acirrada, com nomes “tradicionais” dos tricolores trocando até muitas acusações de âmbito pessoal. Tudo ao contrário do que se espera dentro de um espaço que, diferente da política partidária, há correntes disputando um clube, onde todos deveriam querer a “mesma” coisa, enquanto torcedores.

As eleições gremistas são separadas em duas partes. Num primeiro turno, ocorrido na terça-feira (25), poderiam votar os 300 membros do Conselho Deliberativo do clube mais 15 membros do Conselho de Administração. Caso mais de um candidato chegasse à cláusula de barreira (20%) haveria segundo turno. Em 2010, Paulo Odone, candidato a reeleição e deputado estadual, foi o único a atingir uma quantidade de votos suficientes, reelegendo ainda na primeira etapa da votação.

Desta vez foi diferente, além dele, que conseguiu 151 votos; Paulo Odone, presidente do Clube dos 13 (se é que isso ainda existe) e ex-presidente do Grêmio na década de 1990, atingiu a marca de 93 votos; Homero Bellini Júnior conquistou 67 votos. Os três disputam agora os votos de cerca de 40 mil sócios-torcedores do clube que estão aptos (são sócios há mais de dois anos, com situação regular há, pelo menos, 12 meses e são maiores de 16 anos) para eleger o novo presidente do Grêmio no biênio 2013-2014 no dia 21 de outubro. Eldir Antonini recebeu apenas dois votos.

Este é um modelo restritivo em sua primeira etapa, mas que se abre num segundo momento, com a possibilidade de os torcedores escolherem o “novo” presidente do clube, algo que está longe de ser comum no futebol brasileiro.

A história empurrando os candidatos

O mais velho deles, Fábio Koff é ex-juiz, aposentado, e assumiu a presidência do clube pela primeira vez em 1982. No ano seguinte o clube ganhou pela primeira vez a Taça Libertadores da América – velhos tempos sem uma patrocinadora espanhola no nome – e o Mundial de Clubes.

Tornou a ser presidente do Grêmio de 1993 a 1996, um período muito vitorioso do clube. O time comando pelo técnico Luiz Felipe Scolari conquistou a Copa do Brasil em 1994, novamente a Copa Libertadores em 1995, a Recopa Sul-Americana e o Brasileirão em 1996.

Koff assumiu a presidência do Clube dos Treze em 1996, onde defendia os direitos dos considerados maiores clubes do Brasil. Se conseguiu aumentar consideravelmente os valores recebidos pelos times por conta dos direitos de transmissão do Brasileiro, viu de 2010 para cá a entidade ser praticamente extinta por Globo e CBF, com apoio claro de Flamengo, Corinthians e o próprio Grêmio, primeiro clube a assinar o contrato, em separado, com a emissora.

Se de um lado, há a utopia tricolor de que com Koff os títulos poderiam voltar – como um mito que retorna para trazer o clube aos tempos de glória –, comenta-se nos bastidores da disputa que sua candidatura era movida por questões pessoais, uma possível “vingança” contra Odone.

O que falar do atual presidente Paulo Odone? Ele já foi vereador de Porto Alegre e está exercendo seu quarto mandato como deputado estadual. Foi presidente do Grêmio pela primeira vez de 1987 até 1990, conquistando a Copa do Brasil de 1987. Voltou a assumir a presidência do clube em 2005, num período em que, como o próprio Odone costuma dizer, “ninguém queria” já que o clube estava na segunda divisão brasileira e com uma dívida astronômica. Para muitos, próximo da falência – como muitos times brasileiros.

Apesar de poucos títulos conquistados dentro de campo e com um grande crescimento do arquirrival Internacional no mesmo período, Odone conseguiu reestruturar as finanças do clube, com direito à construção da Arena do Grêmio, construída sem qualquer sobressalto e que deve ficar pronta até o final deste ano. Porém, Odone é acusado pela oposição de usar o clube para promover-se na política pública.

O último nome da lista é o jornalista e advogado Homero Bellini Junior. Em sua carreira dentro do Grêmio sempre foi ligado à área jurídica. Bellini já trabalhou na gestão de seus concorrentes, Paulo Odone e Fábio Koff.

De 2000 a 2002, foi vice presidente jurídico do clube. Na época ficou conhecido por defender o clube no processo envolvendo a saída de Ronaldinho Gaúcho para o PSG. Ronaldinho ficou meses parado para sair de graça para o clube francês. Anos depois é que o Grêmio recebeu algo por conta de uma ação na FIFA. Muitos defendem que Homero Bellini Junior, apesar de ser considerada uma “zebra” sua vitória, seria a renovação que o Grêmio tanto precisa.

Política pública e clubística são parecidas

Outro clube em momento de efervescência é o Palmeiras. Com a sombra de Mustafá Contursi para todos os presidentes que chegaram depois, o time viveu desde o final da “Era Parmalat” uma série de anos com falta de títulos e muita briga interna, que sempre respingou no elenco.

Torcedores criaram um movimento pelas “Diretas Já” no clube, já que a eleição para o clube é feita apenas pelos conselheiros, num time que tenta formatar um programa de sócio torcedor decente. Mustafá tentou dar um golpe, propondo a aprovação da eleição do presidente pelos sócios, mas pretendendo criar um conselho de três nomes para gerir o futebol, principal esporte do clube. Ambos os assuntos foram para a gaveta, com a proposta de diretas retornando agora, ainda que não para as próximas eleições, em janeiro do ano que vem.

A vantagem do Grêmio e desvantagem do Palmeiras é o período que a eleição é realizada. Se por um lado, o tricolor pode gerar uma dúvida na cabeça de funcionários, dentre técnico, jogadores, numa reta final de torneios importantes, por outro, a temporada começa com um planejamento preparado.

Parece impossível separar a política pública da clubística. A forma com que os debates são conduzidos, os ataques pessoais e a falta de discussão sobre os projetos de administração. É inegável que o voto direto do sócio é um progresso, mas o torcedor pode ser envolvido pela paixão, os títulos conquistados no passado pelo candidato A ou B podem pesar muito na hora da escolha, mesmo que isso não signifique uma boa administração, pois há histórico de presidentes vitoriosos que endividaram o clube por anos, mas colocaram taças no armário.

(Para quem quiser nos ajudar criticando e/ou sugerindo novas propostas e assuntos, entre em contato através dos e-mails [email protected] e [email protected])

Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]) e Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo

Twitter da coluna: @alem_das4linhas

 

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