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Onde estava Deus? – por Daiani Ferrari

Na última semana fui a Rivera buscar um relógio para exercícios. O bichinho tem GPS, guarda dados como velocidade, distância, ritmo cardíaco, calorias e mais um punhado de funções que ainda não descobri como usar. Isso porque comecei a correr. Quer dizer, tentei começar a correr, porque meu joelho voltou a doer e na terça-feira achei que tinha acontecido algo grave, tamanha a dor. Como fiasquenta que sou, abri um bocão, saí atrás de médico, não corri mais, parecia que o mundo estava acabando.

Toda quinta-feira tenho massagem, estética, relaxante, depende do dia. Nessa quinta eu iria pedir uma massagem estética das mais poderosas, já que minhas corridas haviam caído por terra. Cheguei e perguntei da paciente com horário antes do meu, a Letícia. Uma menina de 9 anos, se não me falha a memória. Ela teve paralisia cerebral e não caminha, não fala, não tem uma vida normal como a maioria das crianças. Mas é uma menina muito esperta. Da sala de espera, ouço os gritos de faceirice dela durante a fisioterapia.

Ninguém sabe o quanto ela consegue enxergar ou escutar, mas reage a vários estímulos visuais e sonoros. Adora as músicas da moda. Adorava a das empreguetes e agora o show das poderosas. A família – mãe, pai e avó – é completamente devotada aos cuidados com a menina. Então, conversando sobre a ausência dela, justificada pela ida a Porto Alegre para exames, descubro que ela não é o caso mais grave da clínica. Há um menino de 2 anos, cujos sintomas não entendi, mas, disse-me a secretária, que só consegue ficar no colo da mãe, tem muita dor a ponto de gritar e muito pouco dormir. Diz ela que é de morrer de pena e que os médicos não sabem determinar a doença do menino.

Ouvir mais sobre essas crianças, e algumas outras que também se tratam lá, foi como levar um tapa da cara. E eu preocupada com meu joelho. A gente acha que sabe o que as pessoas passam nos momentos de dificuldade, mas na verdade não temos a menor ideia das batalhas que essas mães e pais enfrentam para prolongar a vida, tratar as doenças e dar um pouco de conforto para essas crianças. Acho que nem quem é mãe sabe o que passam as mães da Brenda e do Henrique.

Sou católica. Acredito em Deus. Mas sabendo um pouquinho da vida desses dois anjinhos, me pergunto:

– Onde estava Deus na hora em que eles nasceram e foi-lhes dada essa cruz para carregar? Por que eles e não eu? Injustiça para eles ou justiça para mim? Que critérios são esses?

Por mais que saibamos de casos assim, que tentemos ajudar e nos aproximemos dessas famílias, sempre será uma injustiça com eles. Mesmo fazendo a nossa parte, agradecemos por não sermos os injustiçados.

E quando agradecemos por uma vida perfeita e sem doenças, soa como se fosse um “ainda bem que são eles e não nós”.

 

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