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OLHAR DE FORA. Ex-aluno da UFSM (e hoje docente) Mauro Gaglietti e lições não aprendidas do caso Kiss

mauro gaglietti,jpgO hoje professor universitário Mauro Gaglietti (foto) formou-se em História pela UFSM. Lá pelo fim dos anos 80 Ao lado dos estudos, teve militância política. Estudantil e Partidária. Até concorreu, como o patinho feio, a prefeito em 1988, pelo PC do B.

Natural de Caxias do Sul, vive hoje em Passo Fundo. É agora Doutor em História e leciona na Faculdade IMED e na Uri Santo Angelo. E, como jovem que foi em Santa Maria, pode, sim (e poderia mesmo se não tivesse sido, aliás), escrever sobre a tragédia da Kiss.

Vale a pena ler o depoimento dele (aliás, um olhar nem tão de fora assim), publicado no seu PERFIL no Feicebuqui, neste final de semana. Acompanhe:

“Há um ano, tive, assim como muita gente, pesadelos associados à boate Kiss, sobretudo aos jovens se refugiando nos banheiros, arrancando canos para tentar extrair dali, ar e vida. Além disso, fiquei impressionado com aquela mãe que meses depois ainda guardava na geladeira o prato com a janta para a filha que nunca mais voltou pra casa.

Sonhei várias vezes com aquele rapaz que com uma marreta abriu um buraco na parede na ânsia de criar espaços aos pulmões de outras centenas de jovens, amigos e desconhecidos. Sonhei, também, com o outro jovem que retornou várias vezes para tirar outras pessoas daquela ratoeira armada há anos.

Assinalo, ainda, que nos últimos dias muito se escreveu a respeito do “11 de setembro de Santa Maria”. Muitos comentários foram gerados na tentativa de se fazer um balanço do que mudou no País e no Rio Grande do Sul. Alguns centraram na análise da necessidade de se criarem novas leis no âmbito da Assembleia Legislativa, outros teceram críticas acerca da morosidade na esfera do Congresso Nacional.

kiss selo 2Defendeu-se, sobremaneira, a tão necessária autonomia do Corpo de Bombeiros já defendida há 20 anos – por intermédio da PEC 45 – pelo então Deputado Marcos Rolim, um dos melhores parlamentares que a política produziu no nosso País. O mais trágico disso tudo é que passadas duas décadas o estado do Rio Grande do Sul continua, pelo visto, com mais de 400 cidades sem a existência de bombeiros.

Trocando em miúdos: mais de 82% das cidades estão totalmente desprotegidas (boates, condomínios e outros estabelecimentos sem fiscalização). Pergunta-se: do que adiantaria uma legislação adequada se não houver formas de efetivar na prática a legislação por intermédio da ação dos bombeiros?

Talvez não tenhamos aprendido nada com Santa Maria. Muitas boates foram fechadas, mas a onda de fiscalização foi aos poucos sendo deixada de lado. A tragédia que vitimou 242 jovens é a síntese cultural do Brasil no que se refere à relação dos brasileiros com a lei e a importância dada à vida. A Polícia Civil de Santa Maria, por sua vez, fez um exitoso levantamento no qual demonstra que em seus 47 meses de existência, a boate teve pendente algum tipo de licença necessária para permanecer em funcionamento.

Em 2009, por exemplo, a Kiss funcionou por seis meses sem licenças sanitária, ambiental e de localização. Em 2010, abriu por 11 meses sem licença sanitária e por quatro meses sem o alvará dos bombeiros. Em 2011, foram nove meses sem licença ambiental e sete meses sem alvará dos bombeiros. Em 2012, nove meses sem licença sanitária e quatro sem alvará dos bombeiros. Em 2013, sem alvará dos bombeiros e sem licença sanitária, até o incêndio.

Os policiais civis que rastrearam a documentação afirmaram em recentes entrevistas: por qualquer uma dessas carências, agentes públicos poderiam ter exercido o poder de fechar o estabelecimento, até que as irregularidades fossem sanadas. Isso é muito duro de roer!”

PARA QUEM ESTÁ NO FEICEBUQUI E QUISER LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI

 

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